“Tive câncer aos 25. Não sabia os sinais”, diz criadora de conteúdo
Jovem diagnosticada com câncer de intestino aos 25 anos relata que dificuldade em reconhecer gravidade dos sintomas atrasou o tratamento
atualizado
Compartilhar notícia
A criadora de conteúdo Beatriz Suzuki tinha 25 anos quando descobriu um câncer de intestino. A retirada do tumor precisou ser praticamente imediata devido à agressividade do câncer.
“Ignorei os primeiros sinais. Estava passando por tantas coisas: o luto pela perda do meu pai, o final da faculdade… Não percebi o que estava acontecendo”, conta Bia, que também atua como sushi chef.
Os médicos acreditam que o câncer dela tenha surgido de um pólipo, massa que se projeta a partir de outro tecido. Os pólipos costumam ser assintomáticos, mas, conforme evoluem há sangramento retal, alterações nos hábitos intestinais, dor abdominal e muco nas fezes. “Acredito que ter ignorado os primeiros sintomas, agravou minha situação”, lamenta a jovem que, atualmente, tem 31 anos.
Câncer de intestino em jovens
O número de pessoas com menos de 45 anos diagnosticadas com câncer de intestino (colorretal) está crescendo no mundo inteiro. Em outubro, uma pesquisa da Universidade de Chicago mostrou que as taxas de diagnóstico entre pacientes com menos de 45 anos subiram 15% nos Estados Unidos. Além disso, alguns estudos mostram que os casos costumam ser mais graves entre pessoas jovens.
“Nossas descobertas destacam a necessidade de revisar as avaliações de risco para melhorar a prevenção e o rastreamento desses cânceres (de intestino) antes que eles cheguem a estágios mais avançados”, afirmou a oncologista Kelley Chan, líder do estudo, durante a divulgação dos resultados.
Os dados mais recentes da American Cancer Society apontam que aproximadamente 13% dos pacientes diagnosticados com câncer de intestino no mundo têm menos de 50 anos. Até 1990, esse percentual era de apenas 4%. “O principal fator é ambiental. As mudanças no estilo de vida, principalmente na alimentação, estão relacionadas ao crescimento ”, alerta a oncologista Renata D’Alpino, especialista em tumores gastrointestinais da Oncoclínicas.
Segundo ela, a maior parte dos tumores começa com um pólipo benigno que evolui para o câncer com o tempo. Renata recomenda que os pacientes com doenças intestinais inflamatórias e os que já tiveram casos de câncer de intestino na família comecem os exames preventivos mais cedo.
“O exame de sangue oculto nas fezes deve ser parte do check-up anual. Ele ajuda a descobrir os tumores precocemente. De maneira preventiva, também é importante buscar uma alimentação livre de ultraprocessados e manter a prática de atividades físicas”, completa Renata.
Os sintomas de Beatriz
No caso de Beatriz, os primeiros sintomas do câncer colorretal apareceram em 2015: eram dores abdominais, dificuldade para evacuar e algumas ocorrências de sangue nas fezes.
“Só doía às vezes e o sangue era raro, só quando o intestino estava muito preso. Achava que iria passar e fui me acostumando com a situação”, lembra a jovem.
Um dia, ao limpar o banheiro, a irmã dela perguntou se Beatriz estava menstruada. Só naquele momento, ela aceitou que tinha um problema e resolveu desabafar com a irmã.
Na primeira ida ao médico, durante o exame físico, ele notou que ela tinha uma ferida e pediu que ela realizasse uma colonoscopia. “Não perguntei nada, ele também não fez nenhum alerta. Estava em negação, achei que iria passar, e que a pomada que ele receitou resolveria”, conta.
Beatriz acredita que minimizou o problema porque não queria parar sua vida para cuidar da saúde. “Acho que foi uma reação à morte do meu pai, que tinha falecido de câncer de pulmão recentemente. Reconheço que agi de uma forma totalmente imatura”.
Depois disso, os sintomas do câncer de intestino aumentaram. O volume de sangue e a frequência com que ele aparecia se intensificaram. A sushi chef passou a ter um inchaço abdominal constante e começou a se sentir muito cansada. Também passou a perder peso.
Em uma nova visita ao posto de saúde, o médico que a atendeu foi mais incisivo, alertando para a gravidade da situação e exigindo a realização de uma colonoscopia. O exame, porém, demorou um ano para ser narcado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Tratamento contra o câncer colorretal
Quando ela foi buscar o resultado do exame, o médico já informou o diagnóstico de câncer. “Ninguém, independente da idade, imagina que vai ouvir essa notícia. Mas o médico me acolheu e disse que seria resolvido, que eu ficaria bem”, lembra.
Beatriz afirma que os dias que se seguiram ao diagnóstico foram os mais difíceis de sua vida. Três semanas depois, ela retirou o tumor no Hospital do Amor de Barretos (SP), referência no tratamento do câncer no Brasil.
Dois dias depois, uma complicação cirúrgica obrigou-a a realizar uma colostomia – desvio temporário da ligação do intestino com o reto para criar um caminho artificial para a evacuação.
Naquele momento, Beatriz decidiu ter uma presença maior na internet com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre os riscos do câncer de intestino. “Decidi falar sobre como era viver com a bolsa de colostomia e acabei me tornando uma influenciadora sobre o assunto, sobre o tratamento de câncer de intestino”, conta.
A vida após o tumor
Ao mesmo tempo, Beatriz iniciou a quimioterapia. O objetivo era evitar que o tumor voltasse, mas os efeitos colaterais foram tantos que os médicos acharam melhor suspender as medicações.
A jovem começou a realizar exames a cada três meses para monitorar a possibilidade de retorno do câncer e, após cinco anos sem sinal da doença, recebeu alta. “Atualmente sigo a orientação de me consultar com o proctologista uma vez por ano e realizo os exames periódicos, para me manter segura. Ainda dá medo de o câncer voltar, mas a terapia foi fundamental para aprender a lidar com isso”, conclui.
Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!