Jovem fica intoxicada após uso de remédio para diabetes sem indicação
Paciente sofreu cetoacidose após três doses de Mounjaro, que controla diabetes. Medicação vem sendo usada “off label” para emagrecimento
atualizado
Compartilhar notícia
Uma mulher de 21 anos do Kuwait sofreu um quadro grave de acidez do sangue (cetoacidose) por conta do uso do remédio Mounjaro. Após três aplicações, ela sentiu um desconforto gástrico incontrolável e uma diarreia forte que, posteriormente, foram atribuídos à intoxicação do sangue.
O caso foi relatado no European Journal of Case Reports in Internal Medicine em março deste ano e chama atenção para o uso indiscriminado de remédios para diabetes com fins de emagrecimento. Segundo os profissionais, a paciente tinha 26 vezes a dose tolerável de cetonas no sangue.
Como o sangue fica ácido?
As cetonas são proteínas que queimam a gordura acumulada no corpo. Quando elas estão em excesso na corrente sanguínea, o sangue dica ácido e surgem complicações que podem ser fatais. O excesso de cetonas pode levar a problemas cardíacos graves.
A cetoacidose é um quadro geralmente associado à diabetes. Embora a paciente estivesse usando o Mounjaro, um medicamento para tratamento da diabetes tipo 2, ela não tinha problemas metabólicos e estava interessada apenas na perda de peso, que é um efeito colateral do remédio.
A paciente contou que a medicação a fez perder 11 kg apenas em apenas uma semana, mas que ela passou a ter diarreias e dores abdominais constantes. Além disso, começou a sentir falta de ar, outro sinal característico da cetoacidose. Quando foi internada, ela também apresentava pressão alta e arritmia cardíaca.
Este é o primeiro caso documentado de uma intoxicação do tipo causada pelo uso do remédio.
Para os médicos, há duas hipóteses que justificam o quadro. Uma é a cetoacidose motivada por inanição, quando o corpo faminto passa a ativar mecanismos de autofagia para lidar com a limitação de calorias.
Outra possibilidade é de que a paciente tinha níveis insuficientes de insulina que não haviam sido detectados e que a entrada do remédio tenha levado ela a um desenvolvimento fulminante de um quadro diabético.
“Esta é uma complicação relevante que mostra mais uma vez o motivo que estes medicamentos devem continuar sendo prescritos apenas com uma supervisão médica ativa”, concluem eles.
Tratamento
Como tratamento, a paciente recebeu fluidos intravenosos para restaurar os níveis de sódio e potássio e parar os vômitos e a diarreia. Ela foi aconselhada a deixar o remédio.
Quatro semanas depois da alta, ela ganhou 1 kg e não havia sinal de consequências duradouras da intoxicação.
A Eli Lilly, farmacêutica produtora do Mounjaro, foi procurada pela reportagem para comentar o caso, mas ainda não respondeu.
Apesar de estar autorizado para comércio no Brasil desde setembro, o remédio ainda não está à venda no país.
Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!