Israel X Hamas: como a guerra afeta a saúde mental das pessoas
A guerra na Faixa de Gaza afeta não apenas as pessoas que vivem nas zonas de conflito, mas também as que acompanham os acontecimentos
atualizado
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Desde que a guerra entre Israel e o Hamas foi decretada no dia 7 de outubro, o mundo acompanha uma ampla crise humanitária. A preocupação com o assunto e os relatos quase que em tempo real nas redes sociais afetam indivíduos de qualquer idade, causando mudanças no humor, insônia, alterações na memória, tristeza e sintomas depressivos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um quinto das pessoas que vivem em zonas de conflito armado sofrem com algum distúrbio relacionado à saúde mental. A proporção é três vezes maior do que a da população geral.
Porém, a guerra pode ser um gatilho para o desenvolvimento de diversas doenças mentais para qualquer indivíduo, quer ele tenha ou não ligação com os países envolvidos.
Uma das explicações para isso é a empatia, explica a psicóloga Deyse Sobral, da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. “É esperado que mesmo pessoas distantes das zonas de conflito possam sentir impacto emocional. Os prejuízos subjetivos extrapolam as fronteiras físicas pela nossa capacidade de ter empatia, de nos sensibilizarmos com os fatos e com as notícias”, conta.
O psiquiatra Leonardo Sodré, professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), lembra que a população mundial está mais exposta aos acontecimentos com as redes sociais e continua muito sensibilizada pela pandemia da Covid-19, que resultou na morte de aproximadamente 7 milhões de pessoas.
“As pessoas ainda estão tentando se reencontrar depois dos traumas com as mortes, instabilidade econômica e política”, afirma Sodré.
Sintomas físicos e psicológicos
Assim como ocorreu na pandemia da Covid-19, a guerra aumenta a sensação de risco, vulnerabilidade e incerteza na população.
Essa combinação pode aumentar a ocorrência de depressão, distúrbios comportamentais e transtorno de estresse pós-traumático, assim como flashbacks vinculados ao conflito e sensação constante de vigília e atenção.
É importante ficar atento à intensificação de sinais como:
- Ansiedade;
- Insegurança;
- Preocupações excessivas;
- Tristeza;
- Inquietação;
- Alteração na qualidade ou padrão de sono;
- Irritabilidade;
- Dificuldades de concentração;
- Pensamentos intrusivos, negativos e catastróficos;
- Alterações de memória.
Deyse explica que os prejuízos também podem ser físicos, uma vez que a resposta fisiológica ao contexto de guerra é o acionamento do sistema nervoso simpático. Ele é responsável pelas alterações no organismo em situações de estresse ou emergência.
“A pessoa fica em estado de alerta, preparada para reações de luta e fuga, e permanece assim por muito tempo. Isso pode gerar uma série de disfunções, ou mesmo uma exaustão”, afirma a psicóloga.
Como lidar com o estresse da guerra?
Ao perceber que está sendo afetado, é importante colocar limite nas informações recebidas, evitando passar a maior parte do dia consumindo conteúdo relacionado à guerra, como fotos e vídeos impactantes.
Os psicólogos também sugerem que, ao notar sinais de sofrimento mental, o indivíduo procure ajuda — principalmente aqueles que já têm vulnerabilidades.
“A pessoa tem que se conhecer, perceber se aquilo a está agredindo, e buscar amigos e familiares para se confortar, se sentir mais acolhido e não ficar sozinha nessa situação”, afirma o psiquiatra Sodré.
Saúde mental das crianças
De acordo com a psicóloga Penélope Ximenes, especialista em análise comportamental, nenhuma informação deve ser passada para a criança da mesma forma que é transmitida para adolescentes, jovens adultos ou adultos. É preciso ter um filtro.
As guerras são abstratas para as crianças. O entendimento sobre o que de fato está acontecendo requer um nível elevado de compreensão, raciocínio lógico e abstração que, em geral, é adquirido quando elas entram na adolescência.
A capacidade de entendimento também varia de acordo com a cultura em que o pequeno está inserido, o meio onde vive e o acesso a informações.
“A imaginação da criança é muito ativa. Escutar sobre o assunto em uma conversa dos pais ou ver imagens gera uma curiosidade independente da idade, e ela pode pensar muitas coisas, ficar com medo de morrer ou achar que uma bomba vai cair na casa dela”, afirma Penélope.
A psicóloga acredita que a decisão de conversar sobre a guerra com as crianças cabe aos pais e responsáveis, mas o ideal é que, caso a família ache relevante para a educação, se passe apenas informações básicas, sem dar muita ênfase para não gerar preocupação exagerada.
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