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Influencer admite plágio de livro de professora de psicologia da UnB

João Marques é conhecido nas redes sociais ao falar sobre machismo e relacionamentos, e se apropriou do trabalho de Valeska Zanello

atualizado

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joao marques
1 de 1 joao marques - Foto: Reprodução/Twitter

A professora de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Valeska Zanello denunciou, nessa quinta-feira (3/3), ter tido o trabalho plagiado pelo estudante de psicologia João Marques. Em publicação no Instagram, a psicóloga conta, sem citar o nome do influenciador, que descobriu a situação há um ano e meio.

“Ele literalmente copiou meu trabalho de pesquisa sobre grupos masculinos de WhatsApp no Brasil, com falas idênticas, literais e assinando o que postou como se fosse dele. Muita gente que me seguia o seguia também, e mulheres foram em enxame solicitar que ele fizesse a referência ao meu trabalho e me citasse. Ele bloqueou essas mulheres. Tempos depois, ele me plagiou, literalmente, de novo”, escreveu Zanello.

“Nosso país é sexista e precisamos falar sobre isso”, diz professora

A pesquisadora lembra ainda que o caso se repetiu nesta semana, em um post que tinha mais de 50 mil curtidas, e que em nenhum momento foi feita referência ao livro de onde Marques tirou as citações. “Por que é tão difícil para um homem referendar o trabalho de uma mulher? Isso tem um nome: misoginia”, acusou Zanello.

 

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Uma publicação compartilhada por Valeska Zanello (@zanellovaleska)

A postagem da professora viralizou, e teve mais de 145 mil curtidas. Após a cobrança de vários seguidores, horas depois, Marques admitiu o plágio. Ele reconheceu ter feito, em setembro de 2020, uma postagem baseada no trabalho de Zanello e, depois de ser alertado pelos seguidores, colocou as referências. Porém, bloqueou as pessoas que o comunicaram do erro.

“E a própria Valeska, que foi bloqueada muitos meses depois, por eu ter visto outros posts dela e ter sentido medo, vergonha e culpa – por isso o bloqueio. Não é culpa dela, ela tem todo o direito de reivindicar a autoria do seu trabalho, o erro foi meu e isso só amplificou o problema”, escreveu o estudante de psicologia, em sua explicação sobre o ocorrido.

Ele também aponta que não foi claro o suficiente nas redes sociais sobre sua situação acadêmica – o perfil no Instagram dizia que Marques era “academicista”, e foi trocado para “estudante”.

O influencer assume a culpa, diz que deveria ter feito a divulgação do trabalho de forma mais responsável. Porém, ele afirma ter recebido comentários de teor racista, que o rebaixam pelo acesso à escolaridade.

Marques prometeu aos seus seguidores corrigir os erros, revisando todas as postagens e referenciando não só Zanello mas também outros pesquisadores que não foram citados em suas postagens.

“Reconheço que cometi um erro ao não dar o devido crédito a ela, como também não citei os nomes de vários autores que contribuíram para a formação do meu pensamento”, escreve.

Ele diz ter entrado em contato com a professora para conversar sobre a situação e pedir desculpas “pela invisibilização e silenciamento”. Desde que o post de Zanello viralizou, o influenciador perdeu cerca de 50 mil seguidores no Instagram.

Repercussão

Ao Metrópoles, Zanello conta que ficou feliz com a retratação, mas que a situação escancara a necessidade de se discutir o machismo estrutural.

“Muitos homens me mandaram mensagem e compartilharam posts de pesquisadoras feministas que tinham feito escrito textos para me apoiar. Eles acabaram fazendo um plágio de uma mulher para criticar um homem que plagiou. Isso mostra que eles não entenderam o que estamos falando, e o quão importante é discutir as masculinidades assim como aprender a escutar as mulheres”, explica.

Ela diz ainda que, apesar de a situação toda ter sido muito triste, ficou contente com a movimentação das mulheres e a reação em conjunto para denunciar o problema.

“Mostra que somos muitas, e temos uma potência muito grande. Precisamos usar essa potência para fazer avançar nossos direitos. Acho que foi uma pedagogia afetiva que não é só para o João, mas para homens em geral: não superaremos o silenciamento, a invisibilização e a apropriação das palavras e dos trabalhos das mulheres”, afirma.

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