Indefinição sobre prioridade na fila das vacinas gera polêmica no país
Fila da imunização tem dado prioridade a funcionários essenciais antes de cobrir pessoas com comorbidades e mais risco de ter quadro grave
atualizado
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Desde o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, a ordem da fila da imunização já mudou algumas vezes. A princípio, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde criou uma sugestão de ordem: primeiro, os idosos com mais de 75 anos e trabalhadores da linha de frente da saúde, idosos institucionalizados e população indígena aldeada.
Em seguida, a fila prosseguiria com os demais trabalhadores da saúde, pessoas com mais de 60 anos e, depois, portadores de comorbidades. Por último, entrariam trabalhadores da educação, forças de segurança, funcionários penitenciários, entre outros.
Porém, semanas depois, o Ministério trocou a lista, colocando todos os grupos prioritários juntos, delegando a escolha da fila para os governos estaduais. Cada um seguiu como quis, mas os portadores de comorbidades, os que têm maior possibilidade de desenvolver quadros graves da Covid-19, ainda não estão sendo imunizados.
No Distrito Federal, por exemplo, profissionais de saúde, mesmo os que não trabalham em hospital ou na linha de frente, já receberam a vacina. As forças de segurança também estão sendo imunizadas, e o governo estuda adiantar a vacina dos professores. A mesma ordem se repete em outras unidades federativas.
Ainda em fevereiro, o então secretário de vigilância em saúde, Arnaldo Correia, enviou um ofício aos estados e conselhos Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) cobrando que as pessoas com comorbidades fossem vacinadas.
No final de março, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) requisitou informações da Secretaria de Saúde do DF sobre quando o grupo começará a ser imunizado, e quais doenças entrarão na lista. Em reunião com o órgão, o GDF afirmou estar “buscando soluções para que a vacinação desse grupo possa começar o quanto antes”, analisando inclusive a criação de um app para cadastrar essa população.
Polêmica na fila
A escolha de priorizar pessoas que estão mais expostas é polêmica. Segundo a infectologista Magali Meirelles, da Sociedade de Infectologia do DF, além de proteger os indivíduos do adoecimento, a vacinação tem a função de interromper a circulação do vírus na sociedade.
“Analisando sob esse prisma, a estratégia de priorizar a vacinação de profissionais das áreas essenciais, portanto, tem validade. Frente à realidade de que esses profissionais seguem circulando, não têm possibilidade de teletrabalho e, muitas vezes, estão em contato direto com o público, sua imunização contra a Covid-19 seria uma ferramenta importante para diminuir a transmissão do vírus entre as pessoas e, consequentemente, o número de casos”, explica a médica.
Para o infectologista Renato Kfuri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), não faz sentido vacinar um jovem saudável enquanto uma pessoa do grupo de risco segue desprotegida, principalmente em um momento onde o número de óbitos é alto e os hospitais estão lotados. “Quando se hierarquizou os grupos, a estratégia foi baseada em risco de adoecimento, hospitalização e morte, e manter a força de trabalho entre os profissionais de saúde que atuam no atendimento à Covid-19”, explica.
Ele lembra que a vacina contra o coronavírus, especificamente, não tem comprovação sobre a capacidade de evitar a transmissão. Por isso, vacinar trabalhadores essenciais não faria tanto sentido. “Além do mais, não temos vacina suficiente para essa estratégia, e demora muito mais para impactar na mortalidade. É uma proteção indireta”, diz. Kfuri acredita que o ideal seria passar para o grupo com comorbidade assim que possível.
Procurado pela reportagem do Metrópoles, o Ministério da Saúde afirmou que estados e municípios têm autonomia para seguir com a campanha de vacinação local, conforme as demandas regionais.
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