Hospital realiza tratamento inovador para câncer de pâncreas
Tecnologia inédita no Brasil usa agulhas para dar choques de alta voltagem no tumor, matando as células cancerígenas
atualizado
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Uma mulher de 55 anos foi a primeira paciente brasileira a se submeter a um novo tratamento contra o câncer de pâncreas. O procedimento de eletroporação irreversível com a Nanoknife foi realizado neste domingo (28/2), no hospital Vila Nova Star, em São Paulo. De acordo com especialistas, o tratamento é mais seguro, menos invasivo e com maior chance de sucesso oncológico que alternativas anteriores.
O procedimento foi realizado pelo intervencionista oncológico Luiz Tenório Siqueira e pelo cirurgião Antônio Luiz Macedo. De acordo com os médicos, a tecnologia usa agulhas para dar choques de alta voltagem no tumor, matando as células cancerígenas. “Com esse novo equipamento, pacientes com câncer de pâncreas ganham uma nova alternativa nesse tratamento tão difícil”, detalha o especialista.
O equipamento utiliza uma técnica de ablação moderna, algo como uma cauterização. São usados eletrodos paralelos, posicionados lateralmente ao tumor que, quando aplicada uma tensão definida, transferem ondas de alta voltagem de um lado para o outro, criando nanoporos permanentes na membrana celular. O processo interrompe a homeostase, criando um efeito que leva à morte a célula cancerígena.
“A ablação já era utilizada para combater outros cânceres, como pulmão, rins e fígado. Entretanto, as tecnologias predecessoras não permitiam o uso em tumor de pâncreas, pois geravam calor ou frio, o que machucava os órgãos e vasos ao redor do pâncreas. A Nanoknife não altera a temperatura, o que permite a realização em tumores de pâncreas”, esclarece Luiz Tenório.
O especialista explica que a incorporação da nova tecnologia oferece melhores perspectivas, principalmente aos pacientes que já apresentam o tumor em estado localmente avançado. Segundo ele, o câncer de pâncreas é um dos mais agressivos e apresenta uma alta taxa de mortalidade em cinco anos. Estima-se que apenas cerca 20% dos casos são diagnosticados no estágio inicial e, desta forma, passíveis de cirurgia.
A falta de sintomas na fase inicial do câncer de pâncreas resulta, na maioria dos casos, em diagnóstico tardio, o que reduz ainda mais a chance de cura. “Até então, a ressecção de tumores que invadiam importantes artérias do abdome era difícil ou mesmo impossível de ser realizada”, observa o radiologista. “E, geralmente, a expectativa de vida desse paciente é baixa. Agora, podemos melhorar esse cenário”.
Diminuição de riscos
Tenório detalha ainda que os tratamentos cirúrgicos anteriores, além de oferecerem maior risco à vida do paciente — pois havia chance de afetar estruturas vitais, como vasos que nutrem o fígado e intestino — poderiam não retirar o tumor completamente.
Claudia Meirelles, que há seis meses vinha realizando rádio e quimioterapia neoadjuvantes, era um exemplo de caso em que seria complicado ressecar completamente o tumor sem esse avanço tecnológico, de acordo com os médicos.
“Agora temos um procedimento cirúrgico mais seguro, menos invasivo e com maior chance de sucesso oncológico. Dependendo do caso, não é preciso abrir a barriga, pode-se fazer guiado por imagem de forma minimamente invasiva e o paciente recebe alta no dia seguinte”, justifica Luiz Tenório Siqueira.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de pâncreas é responsável por cerca de 2% de todos os tipos de câncer diagnosticados e por 4% do total de mortes causadas pela doença. Por ano, mais de 11 mil pessoas morrem no país devido à doença. Raro antes dos 30 anos, torna-se mais comum a partir dos 60 e tem maior incidência entre os homens.