“Hormônio por si só não traz felicidade”, afirma especialista
Pesquisadora conta que os hormônios são responsáveis pela “felicidade agora”, e apesar de ser fácil estimular a produção, não são a solução
atualizado
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O funcionamento do organismo está intimamente ligado à nossa saúde mental: se o corpo não está operando corretamente, a produção de hormônios se desorganiza e os primeiros sinais são sentidos na disposição. Os chamados “hormônios da felicidade” (serotonina, ocitocina, endorfina e dopamina) estão envolvidos nesse processo. São eles que trazem sensação de prazer, recompensa, alegria e amor.
Estimular a produção das substâncias é simples. A serotonina, por exemplo, é produzida em grande parte no intestino. Se ele está saudável e a alimentação é rica em fibras vegetais e pobre em açúcar e gordura, o hormônio é fabricado com eficiência. A serotonina traz a sensação de prazer, e é estimulada com ações como sexo ou dar risadas.
Fazer exercícios físicos, praticar meditação, ouvir música e se dedicar a trabalhos manuais são boas maneiras de estimular a produção de dopamina. O hormônio está relacionado com vários processos no cérebro, inclusive o de recompensa e prazer.
Já as endorfinas são liberadas a partir da atividade física, e é por causa delas que um maratonista dá conta de correr 42 km e cruza a linha de chegada exausto, cansado, mas sem sentir dor e com muito prazer. A ocitocina, o famoso “hormônio do amor”, é fabricada na hora do parto e da amamentação, ou em abraços apertados que duram mais de 30 segundos.
“Mas hormônio por si só não traz felicidade. Se fosse, diria para tomar uma cápsula e ser feliz. Ele faz parte de um contexto. É possível estimular a produção, mas ele vai ter um pico e, depois, voltar ao normal. Se você depender do hormônio para ser feliz, é um vício, uma doença”, explica a especialista em felicidade pela Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, Chrystina Barros.
Felicidade além da química
Ela alerta que a felicidade é construída de duas maneiras: pela química, mas também pelo dia a dia. É a felicidade do momento somada com a felicidade geral da vida. Chrystina conta que, para além de modulações hormonais, é preciso aceitar que a vida não é cor-de-rosa, mas que com propósito, aceitando seu papel no mundo e com relacionamentos fortes e saudáveis, é possível ser plenamente feliz.
Um estudo feito pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, ao longo de 80 anos descobriu que, no fim da vida, as pessoas mais felizes eram as que tinham melhores relacionamentos e companhia para enfrentar os dissabores da vida, além de terem encontrado um senso de pertencimento e coletividade.
“Isso é a felicidade eudaemonica, perceber que a sua vida vale a pena. Hoje se romantiza muito a felicidade, se usa a ciência, hormônios e meditação para dizer que é só aguentar, que é preciso resiliência para ser feliz. Não dá para ter mindfulness de barriga vazia, ou liberar hormônio se você estiver sofrendo. Isso é exploração, não é felicidade”, aponta Chrystina.
Para toda a soma de fatores funcionar, claro, é essencial que os hormônios estejam balanceados. Por isso, a especialista lembra que uma dieta saudável, atividade física e bons hábitos de sono e repouso são importantes para garantir a produção e liberação das substâncias. “Mas elas não garantem a felicidade. No sentido mais amplo, é ter propósito de vida e a sensação que ela vale a pena”, finaliza a especialista.
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