Homem é diagnosticado com autismo após observar sintomas no filho
O professor Lucelmo Lacerda descobriu que tinha autismo com 38 anos, depois que seu filho recebeu o diagnóstico
atualizado
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O professor universitário Lucelmo Lacerda, de 40 anos, sempre apresentou alguns comportamentos atípicos. Sua socialização com outros colegas era um pouco difícil e conturbada, e ele às vezes era taxado de arrogante. Em família, tinha algumas manias que dificultavam sua relação conjugal. Durante o exercício da profissão, os barulhos da sala de aula e as sirenes o incomodavam.
Certa vez, o mineiro de nascença mas morador de São Paulo chegou a comentar com sua companheira que acreditava ter o transtorno do espectro autista (TEA). Mas ele só começou a investigar a suposição depois de descobrir que seu filho Benício, hoje com 14 anos, tinha o transtorno.
“Começamos a levar o Benício em vários médicos quando ele tinha quase dois anos, pois ele não falava nenhuma palavra. Eu e minha esposa sempre escutávamos que devíamos respeitar o tempo dele, que estávamos neuróticos, e que meninos são mais lentos”, afirma.
Quando o garoto tinha 3 anos e meio, eles receberam o diagnóstico. Benício tinha autismo nível três, o mais severo. Lucelmo “não tinha dimensão do que era o transtorno” e, como já era pesquisador acadêmico, procurou nos livros o conhecimento para oferecer o melhor para seu filho.
Durante esse período de busca por informações, o professor passou a se identificar cada vez mais com os sintomas da síndrome de Asperger. Lucelmo se consultou com médicos pesquisadores que ele já conhecia e recebeu o diagnóstico do TEA, porém de grau leve.
O autismo é hereditário
Como pesquisador, ele relembra que o transtorno não surge do nada. Como na sua época a informação era de difícil acesso, ele não chegou a buscar ajuda. Lucelmo conta que seu pai acreditava que ele era a encarnação de uma outra pessoa, pois apresentava falas e conhecimentos que não condiziam com sua idade.
“Sofri bullying de maneira muito profunda na minha infância a ponto dos garotos quererem me bater. Cheguei a mudar de escola várias vezes, mas era sempre a mesma coisa. Não me lembro o porquê, mas ainda assim, ninguém da minha família desconfiou que eu poderia ter TEA”, explica Lucelmo.
Como os pais já eram falecidos quando o pesquisador descobriu seu diagnóstico, ele recorreu ao irmão mais velho para tentar entender algumas situações. Foi quando descobriu que, na infância, já apresentava alguns comportamentos típicos do transtorno.
Quando Lucelmo contou o diagnóstico para os amigos e a esposa, eles não se surpreenderam, pois já suspeitavam que ele tinha algo a mais. No entanto, a revelação foi primordial para melhorar seu convívio social, pois muitas ações que ele tem por causa do TEA agora são “justificáveis e mais toleráveis”, segundo ele.
Outros diagnósticos na família
O pesquisador escreveu um livro, lançado em 2017, que aborda o autismo em muitos aspectos. Alguns parentes leram a obra de Lucelmo e descobriram que também eram autistas. Seu irmão, dois sobrinhos e dois primos também tiveram diagnóstico confirmado de TEA.
“Meus parentes que se descobriram autistas começaram a reanalisar suas condições familiares. Antes do diagnóstico, a gente lidava com a pessoa achando apenas que ela era mais lenta e não comunicável”, acrescenta o professor.
De acordo com Lucelmo, tudo à sua volta se transformou depois de descobrir o TEA em sua família. Benício não é verbal, não pode ficar sozinho, e não tem o estilo de vida de outros adolescentes da sua idade, como ir para escola, depois frequentar a faculdade.
Hoje, tudo o que ele faz é pensando no bem-estar do filho depois que o professor e a esposa não estiverem mais aqui para cuidar do garoto. Além disso, o pesquisador explica que teve inclusive uma mudança do ponto de vista político, uma vez que hoje ele se preocupa mais com aspectos de inclusão de indivíduos com deficiência intelectual.
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