Ao acordar com dores agudas no peito, o pescador britânico Jordan Snowdon, de 29 anos, acreditou que estava sofrendo um ataque cardíaco. Ele foi hospitalizado com colapso pulmonar e descobriu que a lesão aconteceu por uso excessivo de vape.
Há cinco anos, em busca de uma alternativa que acreditava ser menos prejudicial, Snowdon trocou os cigarros tradicionais pelos eletrônicos. Ele conta que usava o vape esporadicamente mas, a partir de 2022, o hábito se intensificou devido ao tédio. No auge do vício, o pescador sempre estava com um cigarro eletrônico na mão e não tinha intenção de parar.
Em março, enquanto estava na casa de sua mãe, Snowdon acordou com uma “dor aguda” no peito e dificuldade para respirar.
“’Me senti cansado, então deitei na cama e adormeci. Acordei com uma dor aguda. Parecia que alguém tinha agarrado meu coração, então gritei a minha mãe. Eu não conseguia falar ou respirar direito, caí no chão e pensei que estava tendo um ataque cardíaco”, relata, em entrevista ao jornal The Sun. “Estava com muito medo e pensei que fosse morrer naquele momento”, diz.
Os exames revelaram que ele sofreu um colapso do pulmão direito (pneumotórax), que ocorre quando há um buraco no pulmão por onde o oxigênio escapa. Por causa disso, o ar fica preso no espaço entre o órgão e a parede torácica. Os médicos consideram que o vape foi responsável pela lesão, e informaram o jovem que ele pode levar meses ou até anos para se recuperar totalmente.
Normalmente, o colapso dos pulmões é causado por ferimentos à bala, fraturas de costelas e caminhadas em altitudes ultra-elevadas. No entanto, o uso de cigarro eletrônico também está fortemente ligado à lesão.
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Cada vez mais popular no Brasil, o vape, cigarro eletrônico ou e-cigarrette tem se tornado um verdadeiro fenômeno entre os jovens. O produto, geralmente, tem aparência semelhante a de um cigarro comum, mas também pode ser encontrado em formato de pen drive ou caneta
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Em uma embalagem colorida, com sabores diferentes, sem o cheiro ruim do cigarro tradicional e com uma grande quantidade de fumaça, os produtos são muito comuns, especialmente, entre pessoas de 18 a 24 anos, apesar de serem proibidos no Brasil
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No geral, o produto é composto por bateria, atomizador, microprocessador, lâmpada LED e cartucho de nicotina líquida. Esses mecanismos são responsáveis por aquecer o líquido que produz o vapor inalado pelos usuários
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Apesar de serem bastante usados no mundo inteiro e, inicialmente, tenham sido introduzidos no comércio como uma alternativa para os cigarros comuns, os vapes são perigosos para a saúde, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM)
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Os médicos afirmam que os cigarros eletrônicos são “uma ameaça à saúde pública” e oferecem ainda mais riscos do que os cigarros comuns, além de serem porta de entrada dos jovens no mundo da nicotina
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Esses especialistas afirmam que o filamento de metal que aquece o líquido é composto de metais pesados que acabam sendo inalados, como o níquel, substância cancerígena
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Ainda segundo os especialistas, o líquido produzido pelo cigarro eletrônico tem pelo menos 80 substâncias químicas consideradas perigosas e responsáveis por reforçar a dependência na nicotina
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Além disso, o uso diário de cigarros eletrônicos causa estado inflamatório em vários órgãos do organismo, incluindo o cérebro. Novas pesquisas indicam que a utilização também pode desregular alguns genes e fazer com que o usuário desenvolva uma condição chamada EVALE, lesão causada pelo produto nos pulmões
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O neurologista Wanderley Cerqueira, do Hospital Albert Einstein, explica que os efeitos no usuário variam dependendo da nicotina e dos sabores líquidos, que influenciam a forma como o corpo responde às infecções. Segundo ele, vapes de menta, por exemplo, deixam as pessoas mais sensíveis aos efeitos da pneumonia bacteriana do que outros aromatizantes
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O especialista alerta que as células imunológicas parecem ser desativadas à medida que os pulmões são continuamente encharcados com produtos químicos. Esse processo enfraquece as defesas do organismo contra ameaças como pneumonia ou câncer
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Ainda segundo o médico, mesmo os vapes sem sabor são perigosos. Isso porque eles possuem outros aditivos químicos em sua composição, como propilenoglicol, glicerina, formaldeído e a própria nicotina, que causa câncer
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Uma pesquisa da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, encontrou níveis perigosos de toxinas em produtos usados para conferir sensação mentolada em cigarros eletrônicos. Foram verificados problemas em várias marcas dessas substâncias mas, principalmente, na Puffbar, uma das mais populares do mundo
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Os cientistas encontraram níveis das toxinas WS-3 e WS-23 acima dos considerados seguros pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no fluido do produto. Dos 25 líquidos analisados, 24 tinham WS-3, por exemplo
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As substâncias são usadas em aditivos alimentícios para dar o “frescor” do mentolado sem o sabor de menta, mas não devem ser inaladas. Elas são encontradas também em produtos nos sabores de manga ou baunilha
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Colapso pulmonar severo
“Os médicos disseram que eu precisava de um raio-X de emergência imediatamente e confirmaram que o meu pulmão direito tinha entrado em colapso. Os especialistas afirmaram que foi um dos piores quadros que já tinham visto e que meu pulmão estava como quando você pega um pacote de batatas fritas e tira todo o ar”, conta Jordan.
O pescador lembra ainda que quando mencionou o uso do vape, os médicos apontaram que ele se enquadrava em todas as três categorias de colapso pulmonar espontâneo já que ele é alto, magro e fumante.
“’Eles disseram que isso aconteceu por causa do cigarro eletrônico. Comecei a chorar muito quando soube que meu pulmão colapsou. Sou pescador de carpa e adoro porque ajuda a minha saúde mental. Pensei que nunca mais conseguiria pescar”, lamenta.
Pesquisas anteriores sugeriram que pessoas altas e magras e que passaram por um período de rápido crescimento quando crianças correm maior risco de desenvolver pneumotórax por conta do alongamento adicional exercido sobre os pulmões durante o forte surto de crescimento.
Jordan passou por uma cirurgia e teve um dreno de sucção de 12 ml inserido no peito para ajudar a manter o pulmão inflado. Ele recebeu alta no dia 15 de abril e agora se recupera em casa.
“O que aconteceu mudou minha vida. É devastador. As pessoas precisam largar os vapes e parar de fumar. É moda no momento, mas ninguém está prestando atenção nos perigos. Se eu soubesse o que poderia ter acontecido, nunca teria tocado em um vape na vida”, afirma o pescador.
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