Guillain Barré: ter tido Covid aumenta o risco de apresentar a síndrome?
Doença rara causou emergência de saúde pública no Peru e acendeu o alerta da comunidade médica. Especialistas explicam a Guillain Barré
atualizado
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O governo do Peru declarou emergência sanitária para a síndrome de Guillain Barré neste domingo (9/7). A doença ataca o sistema nervoso e é considerada rara e grave, mas já acumula ao menos 180 casos no país vizinho nos últimos seis meses.
O surto de casos de Guillain Barré no Peru despertou a atenção da comunidade médica para a doença e ainda não se sabe quais fatores estariam facilitando o surgimento de casos no Peru.
“A síndrome acontece quando os anticorpos começam a atacar a sistema nervoso por identificarem erroneamente os nervos como uma ameaça à saúde”, explica o neurologista Márcio Siega, da clínica Modula Dor, de Brasília.
O que é a síndrome de Guillain Barré?
A síndrome não é contagiosa e começa geralmente entre duas a seis semanas após infecções por doenças virais ou bacterianas. É como se os anticorpos, acostumados com uma batalha recente, decidissem continuar atacando sem perceber que venceram a guerra.
A neurologista Ingrid Faber, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, explica que, em aproximadamente, 2/3 dos casos os pacientes conseguem identificar o gatilho que levou ao aparecimento dos sintomas.
O que pode estar atrás do surto no Peru?
A comunidade científica ainda está buscando entender quais fatores estão por trás de tantos casos juntos da doença no Peru. “O mais provável é que alguma doença tenha circulado ali e tenha tido uma mutação que se assemelhou muito ao formato dos nervos dos habitantes, culminando nessa multiplicação de casos, mas só um estudo epidemiológico poderá confirmar”, aponta o neurologista Siega.
Quais são as doenças que podem levar à Guillain Barré?
Várias infecções têm sido associadas à síndrome, mas historicamente a contaminação pela Campylobacter, que causa diarreia, é a mais comum. Infecções da zika, dengue, sarampo e gripe podem estimular o surgimento do distúrbio.
Há uma conexão da Covid com a síndrome?
Durante a pandemia de coronavírus, houve um aumento de casos de Guillain Barré, que chegaram a ser equivocadamente associados à vacinação. Entretanto, não há uma conexão especial da Covid com a síndrome, considerando que ela pode ocorrer com várias doenças. “A doença costuma aparecer 3 semanas após algum gatilho, então quem teve a doença há muito tempo não precisa ter uma preocupação extra”, reforça a médica Ingrid Faber, do Sírio Libanês.
Quais os sintomas da doença?
“A maioria dos pacientes com Guillain Barré vive uma fraqueza que começa tipicamente nas pernas e depois progride para o restante do corpo. Os casos são mais graves ocorrem quando a condição atinge os nervos que controlam os músculos da respiração”, explica Faber.
Os sintomas de Guillain Barré são:
- Progressiva fraqueza muscular;
- Dificuldade em respirar nos casos mais graves;
- Sonolência;
- Confusão mental;
- Crises epilépticas;
- Alteração do nível de consciência;
- Perda da coordenação muscular;
- Visão dupla;
- Fraqueza facial;
- Tremores;
- Redução ou perda do tônus muscular.
Como é feito o tratamento?
Para o tratamento é preciso receber injeções de imunoglobolina intravenosa, medicamento que ajuda a reiniciar as defesas do organismo, mas com um alto custo de aplicação. Cada aplicação pode custar até R$ 3,6 mil reais, mas, no Brasil, esse tratamento é coberto pelo SUS.
Guillain Barré tem cura?
A doença é curável para a maioria dos pacientes, mas é preciso acompanhar sequelas, principalmente na capacidade muscular. “Mesmo que o paciente tenha tido graves complicações musculares, deixando de andar, por exemplo, no geral a pessoa recupera plenamente as funções do corpo”, aponta Siega.
Quem teve Guillain Barré antes tem mais chances de voltar a ter?
“As pessoas que já tiveram a síndrome não têm um risco maior de desenvolver o quadro novamente. Uma vez recuperada da condição, a chance de voltar a ter é bem semelhante a das demais pessoas que nunca apresentaram o problema”, diz Faber.
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