Gravidez aumenta risco de surgimento de cálculo renal, diz pesquisa
Pesquisadores da Mayo Clinic compararam dados de mulheres que desenvolveram o problema após a gestação com os de um grupo controle
atualizado
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A gravidez vem acompanhada de mudanças fisiológicas significativas no corpo da mulher, que se modifica para a gestação do bebê. No entanto, um recente estudo conduzido pela organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos Mayo Clinic sugere que essas mudanças podem contribuir para a formação de cálculos renais, e que esse risco pode perdurar por até um ano após o parto.
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores revisaram registros médicos de quase 3 mil gestantes ao longo de 28 anos, entre 1984 a 2012. De acordo com o trabalho, publicado em abril no American Journal of Kidney Diseases, o risco atinge o pico próximo ao parto e tende a decair um ano após o nascimento da criança. No entanto, mesmo após a realização do parto, as pacientes ainda apresentam riscos moderados para o desenvolvimento de cálculos renais.
A pesquisa incluiu 945 mulheres que relataram ter apresentado pela primeira vez um cálculo renal sintomático e 1.890 participantes de um grupo controle com a mesma idade. O objetivo dos cientistas foi avaliar se a gravidez poderia aumentar o risco de um primeiro cálculo renal sintomático e se este risco poderia variar de acordo com cada fase da gestação — ou seja: antes, durante e/ou depois da gravidez.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), os cálculos renais, também conhecidos como “pedras nos rins”, são formados pelo acúmulo de cálcio, ácido úrico, oxalato (um sal) ou cistina (um aminoácido) dentro dos rins ou nos canais urinários.
O problema ocorre quando os líquidos do corpo, perdidos durante atividades físicas ou por conta do calor, não são repostos adequadamente. Quando o cálculo renal atinge um tamanho médio ou grande, pode causar dores intensas, as chamadas cólicas renais, ao se movimentar dentro dos canais que ligam o rim à bexiga.
Cuidados na gravidez
Segundo Maria Letícia Cascelli de Azevedo Reis, médica nefrologista e diretora da Clínica de Doenças Renais de Brasília (CDRB), quando ocorre cálculo renal em mulheres grávidas, o quadro pode ser grave. “Na gravidez, ocorre naturalmente uma dilatação da via urinária e também alguns desconfortos, que podem tornar o diagnóstico mais difícil”, diz.
Ela explica que a tendência a ter pedra nos rins pode ser hereditária ou facilitada por alguns fatores de risco, como hábitos de vida, obesidade, resistência à insulina e alimentação inadequada, com excesso de sal e falta de água. “Uma recomendação para as grávidas e a população em geral é diminuir o sal na comida e ingerir muito líquido, de preferência água”, diz.
A médica explica que é importante prestar atenção em infecções urinárias, sangue na urina e dores persistentes durante a gravidez. “Neste caso, é recomendado o acompanhamento e exames como utrassom transvaginal e ressonância magnética para detectar o quanto antes os cálculos”.
O cálculo renal em grávidas pode afetar a saúde do bebê ou da mãe. Entre as complicações, Maria Letícia Cascelli cita aumento de pré- eclâmpsia (complicação caracterizada pela pressão arterial elevada), infecção urinária, parto prematuro e, em casos mais graves, a morte da criança.
A boa notícia, de acordo com a Dra. Maria Letícia Cascelli, é que de 75% a 85% dos cálculos renais em grávidas são espontaneamente eliminados. Quando isto não ocorre, pode-se utilizar medicações para tratar febre e dor leve e moderada. “Deve haver prudência na abordagem, limitando-se a procedimentos não invasivos”, explica a especialista.