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GH: usos e riscos do hormônio do crescimento usado para fins estéticos

Hormônio do crescimento ajuda controlar desequilíbrios hormonais, mas uso estético, como de fisiculturistas, pode ser ameaça à saúde

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Foto do conceito criativo de medicina, saúde e esporte de homem, pessoa, feita de pílulas, drogas, fisiculturista, corredor, esportista, esteroides, doping. Homônio do crescimento, GH
1 de 1 Foto do conceito criativo de medicina, saúde e esporte de homem, pessoa, feita de pílulas, drogas, fisiculturista, corredor, esportista, esteroides, doping. Homônio do crescimento, GH - Foto: Getty Images

No mundo de quem busca atalhos para ganhar massa muscular, nem tudo é sobre a testosterona e seus derivados. Vários frequentadores assíduos de academia, especialmente fisiculturistas, passaram a recorrer ao hormônio do crescimento (GH) em busca de resultados rápidos. Apesar das promessas de benefícios, o uso fora das indicações médicas esconde uma série de riscos para a saúde, aumentando inclusive as chances de câncer.

Também conhecido como somatotrofina, o hormônio age no metabolismo de gorduras e proteínas do sangue, estimulando o crescimento. Ele foi sintetizado para tratar pessoas com deficiência no hormônio — nos anos 1950, inclusive, médicos usavam o GH de cadáveres nas crianças, já que não se sabia como produzi-lo artificialmente.

Todos produzimos GH: em adultos, ele estimula o crescimento dos músculos e ossos e faz a distribuição da gordura corporal. Para os fisiculturistas, injetar doses extras do hormônio manteria os músculos (até os aumentaria levemente) ao mesmo tempo em que acelera e muito o metabolismo, resultando em queima de gordura e melhora da definição.

Mas os benefícios não aparecem sem cobrar um preço. Os efeitos colaterais do uso do GH incluem dores nas articulações, inchaços corporais, dormência e formigamento, rigidez muscular que pode atingir até o coração e, em casos raros, a substância pode causar o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e tumores.

O que é o GH?

O GH é um hormônio essencial produzido na hipófise, uma pequena estrutura na base do cérebro. Ele desempenha papel vital no crescimento e desenvolvimento durante a infância e adolescência, mas também exerce funções importantes no metabolismo e na reparação celular ao longo da vida. A substância possui um reduzido efeito anabólico e sua suplementação é feita apenas de forma injetável.

A liberação do hormônio é regulada por sinais do hipotálamo e é influenciada por fatores como sono, exercício e dieta. “A maior parte do GH produzido pelo nosso corpo, cerca de 70%, é liberado durante o sono profundo, por isso é tão importante manter uma boa rotina de descanso”, afirma o educador físico Leandro Twin, da Bluefit, um dos maiores influenciadores do Brasil quanto ao tema anabolizantes.

Para que foi criado e quando?

O GH foi descoberto nos anos 1950 para tratar crianças com deficiência de crescimento. Neste período, não se sabia como sintetizá-lo e ele era extraído da hipófise de cadáveres.

A produção em larga escala só começou nos anos 1980, quando chegou a ser considerado uma “fonte da juventude”, mas seus efeitos no combate ao envelhecimento nunca se provaram. O GH permanece sendo um dos hormônios mais caros para produzir, o que faz com que seu custo ao chegar as prateleiras seja muito mais alto que outros sintéticos que fisiculturistas usam, como os da testosterona.

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Tem registro na Anvisa? Para que tipo de uso?

Há ao menos dez medicamentos que funcionam como o GH. O hormônio tem registro na Anvisa e é usado legalmente para tratar deficiências hormonais em crianças e adultos, além de condições específicas, como a síndrome de Turner e de Prader-Willi, além de casos de insuficiência renal crônica.

O uso estético não é aprovado no Brasil e, desde 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe a prescrição de hormônios com esse fim.

Quais os efeitos da suplementação no corpo?

A suplementação de GH em doses controladas ajuda no crescimento estável em crianças, melhora a densidade óssea e reduz a gordura corporal. O hormônio também leva ao estímulo na produção de IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina), um potente agente anabólico.

As ações diretas do GH são contrárias aos efeitos provocados pela insulina. Ele acelera o metabolismo e aumenta a concentração de glicose circulante, consequentemente estimulando a liberação de mais insulina para manter a glicemia adequada. São justamente esses efeitos que caracterizam o GH como um hormônio “diabetogênico”.

Quais são os riscos do uso?

O endocrinologista Clayton Macedo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), alerta que o uso inapropriado do GH causa resistência à insulina e aumenta o risco de diabetes. Além disso, ele também aumenta a chance de desenvolvimento de cânceres.

“Se o indivíduo tem algum tumor pré-existente ou tem predisposição, ele corre o risco de fazer esses tumores se manifestarem ou crescerem usando o hormônio. O GH é extremamente mitogênico, ele aumenta a proliferação das células, o que pode favorecer o surgimento de cânceres”, alerta o médico.

O endocrinologista Paulo Miranda, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), alerta que outra grande preocupação é a alteração da pressão arterial pelo estímulo que o GH faz no metabolismo.

“Além de não haver nenhuma evidência que o GH traga benefícios à saúde ao ser suplementado, mesmo para aqueles que querem reduzir a gordura corporal, seus riscos à saúde são inúmeros. O uso inadequado pode causar ainda deformidades articulares, como síndrome do túnel do carpo, e alterações ósseas resultando em uma condição chamada acromegalia, que é o crescimento anormal das mãos, pés e face”, explica Miranda.

Os efeitos colaterais incluem ainda dores articulares, retenção de líquidos e aumento dos níveis de colesterol. Por isso, especialistas recomendam cautela no uso do GH, mesmo para fins médicos. Em adultos, ele é contraindicado durante a gravidez, em pessoas com histórico de tumores intracranianos ou câncer, e em pacientes com condições como hipotireoidismo não tratado, diabetes e retinopatia diabética.

Enquanto a busca por resultados rápidos e corpos esculpidos continua a impulsionar o uso indevido de GH, médicos enfatizam a importância de não trilhar este caminho. “Não há atalhos seguros para o ganho de massa muscular ou a redução de gordura”, conclui Macedo.

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