Fotoferese: aposentado passa por técnica inédita no DF para tratar câncer
Método consiste em modular o sistema imunológico dos pacientes por meio de uma ação direta com luz nas células que apresentam problemas
atualizado
Compartilhar notícia
Na quinta-feira passada (27/8), o servidor público aposentado Mário Lisboa Theodoro, de 62 anos, submeteu-se a um tratamento inédito no Distrito Federal para reverter linfoma cutâneo, um câncer de pele, que atingiu seu sangue.
Por meio de um cateter, num procedimento semelhante a uma diálise, todo o sangue dele foi retirado do corpo. Plasma, hemácias e leucócitos foram separados em uma máquina de centrifugação. Antes de serem devolvidas, as células brancas – que estão com problema – receberam tratamento especial à base de psoraleno e luz.
Realizada no Hospital Sírio Libanês, a sessão durou cerca de duas horas. Ao final do procedimento, Mário disse que não sentia sintomas adversos. “Foi apenas como se eu tivesse tomado um pouco mais de sol”, relata o carioca, que é flamenguista doente.
A técnica se chama fotoferese extracorpórea e é indicada para pacientes com linfomas, doenças autoimunes – como o lúpus -, ou que estejam apresentando rejeições a transplantes. O método consiste em modular o sistema imunológico por meio de uma ação direta nos linfócitos – as células de defesa do organismo.
Vacina antitumoral
Responsável pela aplicação da técnica no DF, o hematologista Fernando Blumm diz que a terapia tem princípios semelhantes aos de uma vacina. “É como se você ensinasse o corpo a corrigir o que pode lhe fazer mal, como se fosse uma vacina antitumoral”, explica.
No caso de Mário, significa a esperança de mais tempo de vida ao lado dos seus. O carioca é casado há 39 anos e tem dois filhos. O tratamento anterior, com fototerapia, estava funcionando, mas não na proporção que os médicos desejavam. “Confio muito na equipe que está cuidando de mim e agradeço a oportunidade de experimentar essa nova técnica”, ressalta.
Mário é o primeiro paciente do DF a ser submetido à fotoferese extracorpórea. O tratamento existe há 17 anos, mas antes só estava acessível para quem pudesse viajar ao Rio de Janeiro ou a São Paulo. No caso dele, as sessões estão sendo custeadas pelo convênio médico. “Não é algo inacessível, mas exige a logística de um hospital de ponta, com banco de sangue e ala para internação associados”, pontua Blumm.
O diagnóstico do aposentado foi feito em outubro do ano passado. Além de descobrir o câncer na pele, Mário soube que tinha a Síndrome de Sézary – um estágio seguinte, quando as células do tumor estão circulando pela corrente sanguínea.
O esperado é que, após seis meses de fotoferese, com duas sessões a cada 15 dias, o sistema imune tenha aprendido a combater os linfócitos tumorais. Depois de serem devolvidas ao corpo do paciente, as células tratadas ensinam às saudáveis a reconhecerem e a eliminarem as que estão com problema.
Nos planos de Mário, quando o tratamento acabar a pandemia do coronavírus já terá passado, e ele poderá fazer uma das coisas que mais gosta na vida: passear pelo mundo.