Fome sem fim? Quarentena pode desencadear transtorno de compulsão alimentar
Especialistas esclarecem que usar a comida como válvula de escape pode ser um gatilho para comportamentos compulsivos
atualizado
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Permanecer em casa o máximo de horas possível reduz significativamente a variedade de afazeres e, consequentemente, as oportunidades de prazer. O comportamento exigido para enfrentar a pandemia provocada pelo novo coronavírus tem feito da comida uma válvula de escape para aliviar sintomas de ansiedade e estresse. Especialistas alertam que isso pode se tornar um gatilho ou piorar casos de pessoas acometidas pelo transtorno da compulsão alimentar, conhecido como TCA.
A compulsão alimentar se caracteriza pela ingestão, em um curto período de tempo, de uma quantidade exagerada e desnecessária de alimentos. O fácil acesso no período de home office, o tempo disponível para buscar por comida e o fator psicológico têm contribuído para ocasionar este transtorno.
“Quando uma pessoa percebe que não está conseguindo fazer suas escolhas relacionadas à comida e ao seu corpo, e se sente refém dos medos e pensamentos obsessivos, provavelmente ela está acometida por algum transtorno relacionado à alimentação”, afirma Flávia Teixeira, psicóloga, mestre em saúde coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em transtornos alimentares pela Universidade de São Paulo (USP).
Embora a busca exagerada por comida seja visto por muitos como algo mais simples de se livrar após a pandemia, os especialistas alertam que não é assim. Pessoas que já tinham uma pré-disposição para o TCA estão sujeitas a desencadear o problema agora.
“Para alguns, o home office virou home eating. Não existe mais o ‘horário do almoço’. Toda hora tem comida disponível. Mas é algo difícil de diagnosticar agora. Você não vai conseguir separar o falso positivo. Existe o compulsivo por alimento que tem a patologia e existe os que estão comendo pela situação de estar em casa. Após esse período, conseguiremos separar os dois casos, mas é possível que pessoas que tinham uma pré-disposição tenham desencadeado o problema durante a pandemia”, alerta Fábio Aurélio, psiquiatra do Hospital Santa Lúcia.
Riscos e tratamento
Durante o episódio de compulsão alimentar, a pessoa se sente incapaz de controlar a ingestão excessiva, mesmo sabendo que está agindo fora do padrão habitual de alimentação. Muitas vezes, a ingestão da comida é acompanhada de sofrimento emocional, que inclui vergonha da situação e dificuldade de controle sobre os atos.
Pessoas que ficam durante um período considerável imersas nesse transtorno compulsivo podem desenvolver complicações e uma série de doenças, como dores nas costas, ronco, refluxo, pré-diabetes, pressão alta, entre outros. Por conta disso, é importante procurar ajuda médica.
O tratamento do TCA se faz com medicamentos, prescritos por um psiquiatra, que controlam a compulsão. Mas, por desenvolver diversas doenças em níveis e áreas diferentes, é importante um acompanhamento multiprofissional.
Como evitar
Além do auxílio do médico, a pessoa que sofre ou tem sofrido com a compulsão alimentar pode se autoajudar. “A gente orienta a deixar quantidade menor de comida em casa, usar prato menor na hora de comer, mastigar mais vezes os alimentos, porque ajuda na sensação de saciedade, enfim, dificultar o acesso. Colocar o pão dentro de um saco ou em cima do armário também ajuda”, sugere o médico Fábio Aurélio.