Flow: é possível treinar o cérebro para o estado de atenção plena?

Você já realizou uma atividade onde não percebeu o tempo passar de tão imerso que se sentia nela? Essa sensação é conhecida como flow na psicologia. Ela se caracteriza por um período de concentração extrema e é uma experiência muito buscada para aumentar a produtividade.

O flow ganhou popularidade em treinamentos on-line voltados para o mundo corporativo. Especialistas no funcionamento da mente alertam que assim como é importante atingir esse estado, também é preciso saber sair dele.

O conceito de flow surgiu no início de 1970 e foi elaborado pelo psicólogo croata Mihaly Csikszentmihalyi. Ao descrever o flow e como alcançá-lo, ele passou a ser procurado por esportistas e empresários para treinamentos.

“O estado de flow é um momento de concentração tão intensa que não sobra atenção para pensar sobre algo irrelevante ou focar em outros problemas. A autoconsciência desaparece e a percepção do tempo fica distorcida”, detalha o expert no livro Flow: A Psicologia do Alto Desempenho e da Felicidade.

O conceito ficou tão famoso que expoentes do basquete como Michael Jordan e Kobe Bryant afirmaram terem treinado a técnica para poder melhorar o desempenho dentro das quadras.

Dá para aprender a alcançar o estado de flow?

É possível treinar o cérebro para alcançar estados semelhantes ao flow usando o método mindfulness. “O flow é um interesse genuíno por uma atividade que leva a uma alteração na nossa noção de tempo. O estado só é alcançado quando a atividade faz sentido para quem a está executando”, esclarece o psicólogo João Gabriel Carvalho Tavares, das clínicas Neocogni e Humanus.

Para conseguir esse estado de atenção plena e ativa, a pessoa deve estar conectada a um propósito. A sensação de prazer em completar uma tarefa geralmente depende de interesses e crenças do indivíduo. “Quanto mais a gente vai se conhecendo e se entendendo, especialmente através da meditação, a gente consegue ordenar os pensamentos. O flow nasce neste estado em que reconhecemos os nossos sentimentos e sabemos ponderá-los”, completa a psicóloga Jennifer Patricia Kuhn Lago, de Brasília.

Assim como a meditação, o flow exige esforço para ser praticado. “É um processo lento de aprendizado e é difícil, nesta sociedade imediatista, conseguir resistir aos estímulos simultâneos. Mas é importante exercitar isso em aspectos pontuais do dia a dia, como a alimentação, por exemplo”, aponta Jennifer.

Capacidade não deve ser banalizada

Psicólogos e psiquiatras alertam que treinamentos que apresentam técnicas para levar à atenção plena não devem ser propagandeados como uma alternativa para crescimento da produtividade , pois podem levar a estados de esgotamento.

“É importante saber que o flow é episódico, e que não devemos fazer com que as pessoas busquem moldar suas experiências para as exigências da sociedade do desempenho, pois isso pode levar a angústia e sofrimento”, aconselha Camila Magalhães, psiquiatra do Hospital Sírio-Libanês.

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