Falhas em diagnósticos reduzem número de mortes por uso de drogas
De acordo o Ministério da Saúde, Ribeirão Preto seria a cidade com mais casos. Porém, em geral, esses registros são subnotificados no Brasil
atualizado
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O Brasil teve apenas 597 mortes atreladas ao uso de drogas em 2018, último ano com informações disponíveis no Datasus, sistema de agregação de dados do Ministério da Saúde. O baixo número poderia ser uma boa notícia não fosse por uma razão: o alto índice de subnotificações.
Quando alguém morre, uma causa é declarada na certidão de óbito. Essa informação alimenta os sistemas do Ministério da Saúde, que agregam estatística de mortalidade no Brasil. Mas muitos lugares não estão preparados para fazer o diagnóstico de falecimento em decorrência do uso de drogas.
“Algumas cidades têm ambulatório específico para tratar dependentes químicos, outras não. Os lugares com mais casos registrados estão cumprindo o protocolo de diagnóstico correto. É difícil comparar os números quando cada secretaria de saúde enfrenta uma realidade diferente”, apontou o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Barros.
Um exemplo do problema citado é a lista das três cidades, com população superior a 500 mil habitantes, com a maior quantidade de casos de mortes relacionadas a drogas. Os dados de 2018 comparam o número de falecimentos com a população daquele ano. A primeira posição ficou com Ribeirão Preto (SP). Em seguida, vêm Juiz de Fora (MG) e Curitiba (PR). “Esses lugares têm um protocolo de notificação muito bom e um sistema de saúde que funciona bem quando falamos de diagnósticos. Já as cidades mais pobres, com menos estruturas, passam desapercebidas”, salientou o docente.
Segundo Raphael Barros, pesquisas indicam que a Região Sul tem o maior número de mortes em decorrência do uso de drogas e Porto Alegre (RS) é a capital com mais casos. “As causas dessa realidade, provavelmente, são questões climáticas e culturais. Além disso, nesses três estados há predominância de outras doenças psiquiátricas e altos registros de suicídio. A dependência química também está ligada a isso, uma coisa precede a outra”, explicou.
Entre 2010 e 2018, 4410 mortes em decorrência do uso de drogas foram registradas com essa classificação no Ministério da Saúde. A cidade com mais de 500 mil habitantes com o maior número absoluto de casos foi Belo Horizonte (407), seguido por Rio de Janeiro (303) e Porto Alegre (121). Curitiba vem em quarto com 121 casos e Brasília completa a lista das cinco primeiras com 115 ocorrências.