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Fadiga da quarentena? Entenda sentimento e trace estratégias para resistir

Depois de se acostumar com uma nova ameaça, as pessoas tendem a relaxar nos cuidados por conta do cansaço

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grupo de pessoas sentada em área verde
1 de 1 grupo de pessoas sentada em área verde - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Nos últimos dias, você deve ter recebido o convite — às vezes constrangido, às vezes não — de um amigo para furar a quarentena. Talvez, tenha sido você quem apareceu com uma proposta para alguém quebrar o isolamento social. As chances são altas de que também não esteja caprichando tanto naquele ritual de cuidados que seguia quando voltava para casa: a lavagem das mãos, a desinfecção das compras, a separação das roupas, o banho urgente.

Especialistas consideram este comportamento natural e têm até um nome para ele: “fadiga do cuidado” ou — neste caso específico, “fadiga da quarentena”. Numa primeira fase, o cérebro está superalerta para absorver todas as informações possíveis e tomar as precauções necessárias para reagir à ameaça. Em seguida, há um momento de profunda ansiedade e estresse quanto às adaptações necessárias e às incertezas do futuro. Por fim, vem o esgotamento mental, o cansaço diante de tudo e a tentativa de evasão.

Para o psiquiatra e neurocientista Pablo Vinicius Oliveira Gomes, o comportamento não é geral, mas é bastante comum. “A tensão diante de escolhas que não foram nossas existe, e alguns tendem a desprezar os riscos para fugir dela. No entanto, no momento em que estamos vivendo, é necessário autocontrole: colocar a razão acima das emoções”, explica.

A professora Larissa Polejack, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), considera que, no contexto brasileiro, o quadro está exacerbado por conta de mensagens desconexas vindas de autoridades públicas, entre elas o presidente Jair Bolsonaro. “A comunicação com a população não está clara: a curva de casos aumenta, mas, ao mesmo tempo, o comércio reabre. As pessoas não sabem direito o que fazer”, afirma.

O tempo — pelo menos três meses de isolamento social — também contribui para o sentimento de cansaço generalizado. “Quem ainda não foi atingido ou teve pessoas próximas atingidas, vive uma falsa sensação de segurança e, por isso, tende a minimizar os riscos da pandemia”, pondera a neuropsicóloga Juliana Gebrim.

Estratégias
Apesar da fadiga, não é o momento de descuidar das medidas de prevenção que incluem o isolamento social, se ele for uma opção. A curva epidemiológica do país vem dando seus primeiros sinais de estabilização agora — ou seja, ainda não há nem perspectiva de quando a epidemia estará controlada. Nessa sexta-feira (19/06), o país ultrapassou 1 milhão de pessoas diagnosticadas com a Covid-19, o que comprova o espantoso poder de contaminação do novo vírus.

Para enfrentar o cansaço, os especialistas sugerem a manutenção de uma rotina — ela é estruturante para a saúde mental — que inclua o autocuidado, com alimentação regrada, exercícios físicos e pausas para o ócio. “Tente manter uma rotina. Se está em home office, tire o pijama, e depois faça as pausas necessárias ao lazer”, recomenda Pablo Vinicius.

A professora Larissa Polejack sugere o envolvimento em atividades coletivas remotas. “É importante estar conectado ao outro, entender que, apesar do isolamento, somos um grupo. A empatia fortalece sentimentos de cuidado com o grupo, que é a atitude mais importante neste momento”, ensina.

Por fim, também é recomendado projetar o futuro. A neuropsicóloga Juliana Gebrim aconselha que o isolamento seja aproveitado como um período para colocar em prática antigos projetos ou planejar os passos necessários para que eles virem realidade no futuro. “O momento é convidativo para a ressignificação”, afirma.

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