Exceção: onde estão os 37 municípios ainda sem casos de coronavírus
Maioria das cidades onde ainda não foram registrados casos de Covid-19 fica no interior da Bahia
atualizado
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Seguindo uma tendência de interiorização cada vez maior, o coronavírus está deixando os centros urbanos e migrando para as menores cidades do país. Com mais de 99% dos 5.570 municípios brasileiros tendo registrado pelo menos um caso de Covid-19, restam apenas 37 cidades imunes à doença – pelo menos, por enquanto.
De acordo com um levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, a maioria desses locais fica em Minas Gerais (27), mas há também municípios na Bahia (2), Goiás (3), Rio Grande do Sul (3), São Paulo (1) e Paraná (1). Minas Gerais é o estado com mais municípios do Brasil, com 853 cidades, seguido por São Paulo (645) e Rio Grande do Sul (497).
As cidades de Novo Horizonte (BA), Pedras de Maria da Cruz (MG) e Ipupiara (BA) são as mais populosas da lista. As duas primeiras têm um pouco mais de 12 mil habitantes, de acordo com informações do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2019. O menor município é Cedro do Abaeté (MG), com 1.164 habitantes.
Em Novo Horizonte há, no momento, um caso suspeito, 173 monitorados e 114 descartados. Em Pedras de Maria da Cruz, há sete suspeitos, 35 descartados e 44 notificados. Botumirim (MG) afirma que há 89 casos suspeitos e, até agora, 48 já foram descartados.
A reportagem encontrou, ainda, casos suspeitos em Ibertioga – MG (1), Leme do Prado – MG (4), Aceguá – RS (7), Água Limpa – GO (3), Godoy Moreira – PR (1), São Miguel do Passa Quatro – GO (31) e Novo Planalto – GO (1).
Segundo o professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Brasília Jonas Lotufo Brant de Carvalho, a epidemia está, sim, se interiorizando e deve chegar a todas as cidades nas próximas semanas. “Acho que, a essa altura, é pouco provável que esses municípios realmente não tenham casos. O problema é que, em geral, a vigilância e assistência à saúde neles é frágil e, sem uma vigilância ativa e testagem, a doença pode passar desapercebida”, explica.
Porém, o fato de as cidades serem pequenas parece agir a favor da população dos municípios. De acordo com o professor, há uma tendência a um maior distanciamento entre pessoas e núcleos familiares e menor interação com outras cidades.
Alguns prefeitos desses municípios também estão adotando medidas drásticas para que o coronavírus não chegue até eles. São Tomé das Letras (MG), por exemplo, apesar de não ter registrado nenhum caso, está em lockdown, e turistas só serão aceitos no município no final de agosto. Em Ipupiara (BA), o prefeito, Ascir Leite, também adotou o lockdown, há um calendário de desinfecção de locais públicos sendo seguido e há previsão de uso da força policial caso as barreiras sanitárias sejam descumpridas.
O presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Wilames Freire, afirma que a entidade trabalha com o cenário de que todos os municípios terão casos. “A pandemia está se alastrando de forma uniforme, dificilmente vamos ter alguma cidade que fique livre”, diz.
Segundo ele, a recomendação do Conassems é uniforme para as 5.570 secretarias que fazem parte da entidade, mas, levando em conta que 80% dos municípios têm menos de 20 mil habitantes e a maioria possui fragilidades no sistema de saúde, a orientação é preparar o terreno para enfrentar o vírus.
“Pedimos que esses municípios capacitem as equipes de saúde da família, preparem o máximo possível as unidades hospitalares e tentem tratar cerca de 90% dos casos no local. É preciso também que o governo se articule regionalmente para garantir leitos de UTI em cidades próximas para atender a necessidade de futuros pacientes”, explica.
A maioria dos municípios não têm capacidade para atender casos graves e precisa de logística para transferi-los. Por isso, a estatística de municípios que já tiveram óbitos por Covid-19 é tão discrepante quando comparada à dos que registraram casos: 1.645 cidades (29,5% do total) não têm falecimentos em consequência da infecção.
O professor Jonas acrescenta ainda que, além do sistema de saúde, o de vigilância também precisa ser fortalecido. “Essas cidades precisam conseguir detectar rapidamente casos suspeitos e isolar contatos para evitar a disseminação do vírus”, ensina.