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Exame de próstata: aqueles 10 segundos que podem salvar sua vida

Teste é rápido e indolor, mas cerca de 21% do público-alvo diz não fazer por não ser “coisa de homem”

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1 de 1 dedo - Foto: stevenfoley/GettyImages

Apesar de essencial para o diagnóstico do câncer de próstata, o exame de toque ainda é cercado de medos e preconceitos. Você já deve ter escutado uma piadinha sobre o check-up anual no urologista, ou conhece alguém que só descobriu a doença avançada por se recusar a passar pelo exame.

“O medo da dor, tanto física como simbólica, pode estar presente no imaginário masculino. (…) Ter ereção frente ao toque é outro medo. Ter ereção, que é uma possibilidade, pode fazer com que o homem pense que quem toca pode interpretar o fato como indicador de prazer. (…) Ficar descontraído, a pedido de quem faz o toque, para que o processo seja menos invasivo também pode trazer receios. O homem pode pensar que a sua descontração pode ser interpretada como sinal de que o toque nessa parte é algo comum e/ou prazeroso”, escreve o doutor em Saúde Pública Romeu Gomes no artigo Sexualidade masculina e saúde do homem: proposta para uma discussão.

Segundo uma pesquisa do Datafolha de 2018, encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia, e realizada com pessoas do sexo masculino acima dos 40 anos, 21% dos entrevistados dizem que, em geral, não fazem o exame por não ser “coisa de homem”; 48% acreditam que o público-alvo não faz o teste por machismo e 38% daqueles com mais de 60 anos, um grupo de risco, sequer acham relevante fazer o teste. O levantamento mostra que, apesar de ser o segundo tipo de câncer mais prevalente em homens, ainda faltam informação e desconstrução do machismo.

O urologista Rafael Rocha Vidal, do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, explica que o exame dura apenas dez segundos e se introduz entre cinco e oito centímetros do dedo, dependendo do paciente. Há uma parede que separa o reto da próstata, mas ela é fina e é possível sentir um tecido com consistência de uma bola de borracha, um pouco mole como a área entre a palma da mão e o pulso.

“É super rápido, indolor, e o que eu mais escuto, quando acaba, é a surpresa do ‘ué, é só isso?’. Acho que o paciente não sente medo, é preconceito mesmo. Há um tabu de se colocar um dedo no ânus e o homem deixar de ser homem”, afirma o médico. Segundo ele, os pacientes sabem bem o que é o exame, mas o receio ainda é grande e, na maior parte dos casos, o homem só chega no consultório por insistência das esposas, que agendam as consultas e cobram o exame preventivo.

Masculinidade hegemônica no caminho do cuidado
O antropólogo Lucas Amaral explica que o conjunto de princípios, ideias e valores que foram forjados ao longo dos anos como a “identidade masculina” tem muito a ver com a discussão do exame de toque. “Há uma configuração de que o homem deve ser forte, eficaz, não deve se preocupar com o cuidado nem consigo mesmo, nem com os outros. De um lado, o afastamento do exame de toque segue esse padrão de negar o cuidado. Por outro, há manifestações sexistas e homofóbicas que criam o tabu”, afirma.

Segundo ele, a “masculinidade hegemônica” – referencial sobre o que seria a masculinidade, considera as costas, nádegas e ânus como áreas do corpo masculino que, se tocadas, seriam associadas a um sujeito passivo, no caso homossexual ou uma mulher. “Há um medo de sentir prazer com o toque e de mudar de identidade, se tornar gay, se transformar como sujeito. É um medo da invasão de um espaço que é tabu, medo da dor, de ser invadido”, conta Lucas, que também é facilitador do Homens Essenciais: Vivencias Terapêuticas e Rodas de Conversa para Homens.

A conversa, ele diz, é a melhor maneira de sair desta espiral de machismo estrutural. É preciso entender que há outras formas de “ser homem” que não a forçada pela sociedade e que o ânus é, no fim das contas, uma parte do corpo.

“Precisamos ter a disposição de perceber que há masculinidades diversas. Existem homens homoafetivos que têm prazer anal, e também há homens heterossexuais que sentem prazer nessa região. Não precisa ser uma associação com passivo e ativo. O ânus não é uma área interditada. Precisamos ressignificar a masculinidade hegemônica, trazer o debate, conversar sobre isso”, diz. Outra ação importante é não aceitar piadinhas que acabam reforçando estereótipos homofóbicos.

A importância do exame
O exame de toque é importantíssimo para o diagnóstico do câncer e funciona em conjunto com o exame de sangue que mede os níveis de antígeno prostático específico, o PSA, que é produzido pela próstata. Quando há alguma disfunção no órgão (não necessariamente câncer), os níveis da proteína aumentam — porém, em alguns casos de tumores muito agressivos, a quantidade de proteína não se altera.

“Nesses casos, o toque é importante porque a textura da próstata muda, fica dura como uma pedra”, afirma Paulo Lages, oncologista do Instituto OncoVida/Oncoclínicas, especialista em câncer de próstata. O exame também possibilita ao médico sentir pequenos tumores antes do resultado dos níveis de PSA. Se há algo errado com algum dos dois exames, a indicação é seguir para uma biópsia.

A biópsia é feita com um instrumento similar ao usado para o exame transvaginal, entre 12 e 18 furinhos são realizados para abrir caminho na parede do reto e a próstata e retirar amostras de todo o órgão. A partir daí, se define o tratamento, que pode passar por cirurgia e radioterapia com ou sem bloqueio hormonal ou, em casos muito iniciais, apenas monitoramento.

“Todo homem vem de fábrica programado para ter câncer de próstata. No passado, se operava todo mundo, até que se descobriu que a doença não evoluía em pacientes de muito baixo risco e era possível esperar o tumor crescer para atacá-lo, sem risco à saúde”, explica Lages.

O exame de rastreio busca, no fim das contas, pegar o câncer no momento inicial para acompanhá-lo ou iniciar o tratamento dos casos mais avançados mais rapidamente. “O esforço é para diagnosticar o mais cedo possível. Hábitos saudáveis de vida, como alimentação balanceada e atividade física, também são importantes para que, quando o paciente vier a ter a doença, seja menos agressiva”, ensina o médico.

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