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Estudo da USP revela alta taxa de toxinas fúngicas em arroz e farinha

Estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) constatou alta presença de toxinas fúngicas em alimentos comuns

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Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisou amostras de farinha e de arroz armazenadas em residências de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e constatou a presença de altas quantidades de micotoxinas.

A pesquisa contou com apoio da FAPESP e foi publicada em março na revista Food Research International. No artigo, os autores explicam que a exposição a micotoxinas pela alimentação pode provocar diversos prejuízos para a saúde, principalmente aos jovens.

Os resultados reforçam a importância de armazenar alimentos como grãos e farinhas em locais secos e protegidos de insetos para evitar o risco de contaminação.

“Todos os microrganismos, incluindo os fungos, necessitam do chamado ‘binômio temperatura e tempo’ para se desenvolver em um substrato. Portanto, quanto mais tempo um alimento contendo fungos toxigênicos ficar armazenado em condições inadequadas — por exemplo, exposto ao ambiente, desprotegido, em local quente e úmido –, maior a probabilidade de haver altas concentrações de micotoxinas”, afirma à agência FAPESP Carlos Augusto Fernandes de Oliveira, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP) e coordenador do estudo.

O pesquisador explica que existem mais de 400 toxinas produzidas por fungos como forma de defesa ou interação com outros organismos.

“Seis dessas substâncias, que chamamos de ‘meninas superpoderosas’, requerem mais atenção por serem carcinogênicas, imunossupressoras ou por atuarem como disruptores endócrinos (causarem alteração no equilíbrio hormonal do organismo). É algo que demanda muita atenção pelos seus efeitos prejudiciais à saúde”, destaca.

Toxinas encontradas

As amostras constataram a presença de seis toxinas: aflatoxinas (AFs), fumonisinas (FBs), zearalenona (ZEN), toxina T-2, desoxinivalenol (DON) e ocratoxina A (OTA). As micotoxinas FBs, ZEN e DON apresentaram taxas acima do limite de tolerância estabelecido pelos órgãos de saúde. O estudo foi o primeiro no Brasil a usar biomarcadores para caracterizar o risco associado às micotoxinas na dieta de crianças e adolescentes.

A aflatoxina B1, descoberta na década de 1960, segundo o professor, é o mais potente carcinógeno natural conhecido. A substância lesa o DNA dos animais, provocando mutações genéticas que podem levar ao desenvolvimento de câncer hepático.

Além disso, ela causa outros efeitos como imunossupressão, problemas reprodutivos e teratogênese, quando uma gestante ou uma pessoa que está amamentando transfere as toxinas para a criança.

“Não existe nenhuma substância conhecida pelo homem na natureza que tenha o poder cancerígeno dessa micotoxina, só raras exceções criadas em laboratório, como, por exemplo, dioxinas”, conta o pesquisador.

Ja o desoxinivalenol, também encontrado nas amostras, pode reduzir a imunidade de pessoas contaminadas. Segundo o professor, ela causa efeito no sistema gastrointestinal. Em animais, a toxina gera tanta irritação que provoca regurgitação.

A fumonisina B1 é considerada um possível carcinógeno humano, e pode causar câncer esofágico e problemas no fígado, assim como a ocratoxina A, que também tem potencial cancerígeno. A zearalenona, encontrada em níveis altos nos alimentos analisados, tem uma estrutura igual à do estrogênio e pode causar problemas de excesso do hormônio feminino no corpo.

“São toxinas com repercussões pesadas. Diferentemente do chumbo ou de outros contaminantes químicos, como o bisfenol (encontrado em alguns materiais plásticos), essas micotoxinas não são cumulativas. No entanto, elas têm efeito progressivo. Isso quer dizer, por exemplo, que, com a exposição a moléculas de B1, em algum momento não será mais possível reparar o DNA que foi lesado pela micotoxina. É a partir daí que pode surgir o câncer. Por isso a nossa preocupação com crianças e adolescentes, que tendem a ser mais sensíveis a toxinas em geral”, afirma.

As 230 amostras de alimentos analisadas estavam disponíveis para consumo nos domicílios de 67 crianças, incluindo 21 pré-escolares (3 a 6 anos), 15 escolares (7 a 10 anos) e 31 adolescentes (11 a 17 anos).

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