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Estudo sobre anticorpos da Covid-19 ajudará em decisões políticas. Entenda

Coordenador da pesquisa nacional, Bernardo Horta, fala sobre a importância de se verificar a incidência do coronavírus na população

atualizado

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Universidade de Pelotas/Divulgação
Bernardo Lessa Horta
1 de 1 Bernardo Lessa Horta - Foto: Universidade de Pelotas/Divulgação

Desde segunda-feira (18/05), equipes contratadas pelo Ibope estão visitando 133 municípios brasileiros com o objetivo de submeter a população a testes rápidos que verificam se houve contato com o novo coronavírus. As visitas são domiciliares e, em alguns pontos do país, pairou uma desconfiança em relação aos profissionais, que usam equipamentos de proteção individual, batendo na porta da casa das pessoas – alguns foram levados a delegacias de polícia.

O levantamento, entretanto, tem um objetivo muito importante. Por meio dele, será possível desvendar como o Sars-CoV-2 afeta as diferentes regiões de um país continental como o Brasil. “É um estudo que servirá de base para muitos outros, pois estamos construindo informação sobre a real incidência do vírus”, explica o epidemiologista Bernardo Lessa Horta, que faz parte da coordenação da pesquisa, cujo nome formal é Evolução da Prevalência da Covid-19 no Brasil – um estudo de base populacional. As informações também serão úteis para planejar decisões sobre o isolamento social e investimentos na rede hospitalar pública.

Os pesquisadores pretendem testar 100 mil brasileiros e, a partir daí, projetar qual o percentual da população que já teve contato com o vírus – tendo desenvolvido ou não os sintomas da doença. Em entrevista ao Metrópoles, Horta, que é professor associado da Universidade de Pelotas, explica o projeto.

No que consiste o estudo? Qual a importância dele?
Os dados oficiais sobre a Covid-19 subestimam a real magnitude do problema. Nem todo paciente com sintomas de Covid-19 é testado, e a política de testagem muda entre países, dentro dos estados e, até mesmo, de cidades ao longo do tempo em razão da maior ou menor disponibilidade de testes.

Em alguns momentos, só foram testados pacientes com quadros severos, hospitalizados, com sintomas graves. Em outros momentos, pacientes supostamente do grupo de risco também foram testados. Há estudos indicando que pelo menos 60% das pessoas que desenvolvem a infecção pelo Sars-CoV-2 são assintomáticas. Outros sugerem que o percentual chega a 80%, se eles são assintomáticos não vão ser testados. Por esses dois motivos, dizemos que os dados oficiais subestimam a incidência da doença, mostram apenas a ponta do iceberg.

A ideia deste estudo populacional é mensurar o percentual da população que já teve contato com o vírus, tendo experimentado a infecção de maneira sintomática ou assintomática. Os estudos feitos no Rio Grande do Sul, por exemplo, mostraram uma baixa taxa de infecção na população do estado, o que indica uma baixa taxa de circulação do vírus.

Vocês pretendem descobrir qual o percentual da população que teve contato com o vírus e desenvolveu anticorpos. Esses resultados garantem que essas pessoas são imunes aos Sars-CoV-2?

Essa resposta a ciência ainda não tem. Sabemos que se você teve contato com o vírus é provável que você crie anticorpos que lhe protejam, por um período, de uma segunda infecção, mas não é o caso de distribuir certificados de imunidade, como foi feito em alguns países. Os resultados, no entanto, servem para pensar em gradações de isolamento social, em possíveis aberturas. Em locais onde boa parte das pessoas foram contaminadas e não estão mais doentes pode-se planejar uma gradação do isolamento. É uma informação que pode ajudar em decisões políticas.

O que é a chamada imunidade de barreira ou de rebanho? A partir dos resultados colhidos por este trabalho, seria possível imaginar como está a imunidade de barreira na população brasileira?

As pessoas que foram contaminadas e desenvolveram anticorpos servem como uma barreira para que a infecção não chegue até você, isso é a imunidade de barreira ou a imunidade de rebanho. Se você não tiver contato com uma pessoa contaminada, os que estão imunes vão impedir que o agente transmissor chegue até você.

Não se tem certeza sobre o nível necessário para atingir uma imunidade de rebanho, mas, na maioria das doenças virais, estima-se que seja algo por volta de 80%.

Todos os lugares nos quais estudos populacionais sobre o coronavírus foram feitos indicam que o vírus atingiu entre 15% e 18% da população, mesmo onde houve elevado número de casos. Isso indica que nesses lugares ainda não se atingiu a imunidade de barreira ou de rebanho e significa que eles continuam suscetíveis a uma nova onda de casos, a famosa segunda onda. Isso obriga que a flexibilização do isolamento seja feita com cuidados.

Como foi desenhada a amostra? Ela seria representativa da população brasileira em relação às condições sociais e hábitos de vida que parecem ser determinantes para o contágio?

Estamos trabalhando com a metodologia da Organização Mundial da Saúde (OMS) de sítios sentinelas. Os sítios sentinelas são as capitais dos estados brasileiros e as cidades-sedes de regiões intermediárias do IBGE.

Que dificuldades vocês estão enfrentando em relação às visitas da população? Como as pessoas que fazem parte da amostra podem se sentir seguras para receber os pesquisadores?

Em alguns casos tivemos dificuldades com gestores municipais e, em outras cidades, também circularam fake news que deixaram a população receosa. Para deixar as pessoas seguras, é importante saber que os entrevistadores usam equipamentos de proteção pessoal e portam uma identificação do Ibope.

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