Continua com fome após as refeições? Estudo explica por quê
Estudo de Yale mostra que as respostas cerebrais aos nutrientes são diferentes em pessoas com obesidade, o que explicaria a fome insaciável
atualizado
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Depois de fazer uma refeição, é esperado que nos sintamos saciados; porém, essa dinâmica não funciona muito bem com todas as pessoas. Mesmo alimentadas, algumas continuam com fome, comem mais e acabam engordando. Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, descobriram por que isso acontece.
Um estudo publicado em junho na revista Nature Metabolism mostra que a detecção de nutrientes no estômago induz a mudanças na atividade cerebral de pessoas magras, mas essas respostas são significativamente reduzidas em indivíduos com obesidade. O estudo também mostra por que essas pessoas recuperam o peso alguns anos após fazerem dietas.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores de Yale infundiram glicose ou gordura diretamente no estômago de 28 pessoas identificadas como magras – com índice de massa corporal (IMC) de 25 ou menos – e em 30 pessoas com obesidade – IMC igual ou superior a 30.
Exames de ressonância magnética funcional (fMRI) mostraram que as pessoas magras tiveram a atividade cerebral reduzida em várias regiões do cérebro após a infusão de glicose e gordura. O mesmo efeito não foi visto, no entanto, nos participantes com obesidade, o que sugere por que eles continuavam a sentir fome.
“Isso foi surpreendente. Pensamos que haveria respostas diferentes entre pessoas magras e com obesidade, mas não esperávamos essa falta de mudanças na atividade cerebral nos indivíduos acima do peso”, explica a professora de medicina e endocrinologista Mireille Serlie, pesquisadora da Yale School of Medicine.
Falha no circuito de recompensa
Ao avaliar o corpo estriado – uma região do cérebro importante para a regulação do comportamento alimentar, devido ao seu papel de mediação dos estímulos de recompensa e motivação da ingestão de alimentos –, eles descobriram que a glicose e a gordura levaram à diminuição da atividade em duas partes dessa área nas pessoas magras.
Nos participantes com obesidade, apenas a glicose levou a alterações na atividade cerebral e apenas em uma área específica do corpo estriado. A gordura não alterou a atividade cerebral nessa região.
Os pesquisadores observaram que a glicose induziu a liberação de dopamina no corpo estriado de todos os voluntários do estudo, mas a gordura só causou a liberação do neurotransmissor relacionado ao circuito da recompensa em participantes magros.
Ganho de peso após emagrecimento
Os voluntários com obesidade foram submetidos a um programa de emagrecimento de 12 semanas. Os que perderam pelo menos 10% do peso total foram reavaliados, porque os pesquisadores queriam saber se, com a queda do IMC, o cérebro humano era capaz de modificar a resposta aos nutrientes.
Eles descobriram que a perda de peso não fez nada para mudar a reação do cérebro à infusão de nutrientes, ajudando a explicar por que algumas pessoas recuperam o peso alguns anos após fazer dieta. “Nenhuma das respostas diminuídas foi recuperada”, informa Mireille.
“Na minha clínica, quando atendo pessoas com obesidade, elas sempre me dizem: ‘Eu jantei, mas não parece’. Acho que faz parte dessa detecção defeituosa de nutrientes. Pode ser por isso que as pessoas comem demais, apesar de terem consumido calorias suficientes. E, mais importante, pode explicar por que é tão difícil manter o peso”, diz a endocrinologista.
Para a médica, é fundamental descobrir o ponto em que o cérebro começa a perder sua capacidade de regular a ingestão de alimentos e o que determina essa mudança. “Se você souber quando e como isso acontece, pode ser capaz de evitar o consumo exagerado de alimentos”, afirma.
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