Estudo detalha casos de 3 pacientes que sofreram derrame pós-vacina
Apesar de eventos adversos graves serem muito raros, cientistas fazem alerta para que comunidade médica esteja preparada para o tratamento
atualizado
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Em uma carta publicada no Journal of Neurology Neurosurgery & Psychiatry, especialistas em AVC do Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia da University College London (UCL) descreveram a relação entre a vacina Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19 e a formação de coágulos arteriais em três adultos imunizados.
É a primeira vez que a vacina contra a Covid-19 é associada a derrames isquêmicos, coágulos em artérias responsáveis pela irrigação cerebral. Os relatos anteriores envolviam, especificamente, a trombose venosa cerebral, uma forma rara de AVC causada pelo bloqueio de veias.
Na carta, os autores descrevem três casos de jovens adultos que sofreram AVC isquêmico dias após a vacina: um homem asiático de 43 anos e duas mulheres, uma de 37 anos e outra de 35 anos – esta última faleceu dias após ter tomado a injeção.
O homem foi hospitalizado com problemas de fala e compreensão da linguagem três semanas depois de receber a vacina. Os exames mostraram um coágulo na artéria cerebral média esquerda. Ele recebeu uma transfusão de plaquetas e plasma, além de tratamento com remédios, e agora permanece estável.
A mulher de 37 anos sofreu dor de cabeça, confusão, fraqueza no braço esquerdo e perda de visão no lado esquerdo 12 dias após a vacina. O exame de imagem mostrou bloqueios em vários vasos importantes para a circulação do sangue, como as artérias carótidas, responsáveis por levar sangue para os hemisférios do cérebro, e as artérias que irrigam o coração e os pulmões.
Depois da remoção e reposição do plasma e tratamento intravenosos, a contagem de plaquetas aumentou e ela melhorou.
No último caso, a paciente de 35 anos relatou uma dor de cabeça intermitente no lado direito e ao redor dos olhos seis dias depois de receber a vacina. Cinco dias depois, ela acordou com sonolência e fraqueza no rosto, braço e perna esquerdos.
Ela foi submetida a uma cirurgia no cérebro para reduzir a pressão craniana, passou pela remoção e reposição de plasma e foi tratada com anticoagulantes, mas não resistiu.
Vacinação continua indicada
Os pesquisadores lembram que a incidência de eventos adversos graves relacionados à vacina é muito rara e bem menos comuns do que a ocorrência deste mesmo tipo de episódio em quadros graves de Covid-19. A indicação dos órgãos de saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que as pessoas não deixem de se vacinar.
No entanto, os autores pedem que os imunizados estejam atentos a sintomas clássicos de derrame – como fraqueza no rosto, braço ou perna, ou fala prejudicada – no período entre quatro e 28 dias após a injeção. Caso esses sintomas surjam, é urgente que procurem serviços médicos.
“Pacientes jovens que apresentam AVC isquêmico após receberem a vacina Oxford/AstraZeneca devem ser avaliados urgentemente para VITT (trombocitopenia trombótica imune induzida por vacina) com testes laboratoriais (incluindo contagem de plaquetas, dímeros D, fibrinogênio e anticorpos anti-PF4) e gerenciados por uma equipe multidisciplinar (hematologia , neurologia, acidente vascular cerebral, neurocirurgia, neurorradiologia) para acesso rápido a tratamentos, incluindo imunoglobulina intravenosa, metilprednisolona, plasmaférese e anticoagulantes não hepáticos, por exemplo fondaparinux, argatroban ou anticoagulantes orais diretos”, sugerem.
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