Escova progressiva: entenda os efeitos do formol no organismo
Alisamento com a substância causou morte em dezembro. Apesar de ser conhecido como cancerígeno, o produto continua sendo usado
atualizado
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No final de dezembro de 2019, mais uma mulher morreu após fazer uma escova progressiva com formol, em São Paulo. O caso reacendeu a discussão sobre o produto, que tem a concentração limitada a 0,2% das fórmulas de acordo com determinação da Anvisa. No entanto, continua sendo usado abusivamente por cabeleireiros que tentam tornar os produtos mais “potentes”.
O formol é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como cancerígeno e o contato com ele pode promover irritação, queimadura, descamação e queda de cabelo. A solução ou o vapor dela podem alterar a coloração e a textura da pele, além de causar necrose cutânea local, dermatite, desidratação, hipersensibilidade, rachaduras e ulcerações, que aparecem com a exposição prolongada.
“Pode também gerar bolhas, é como uma queimadura mesmo. Nos olhos, além da irritação, pode levar à cegueira, são danos irreversíveis. Além disso, o formol nunca é eliminado do organismo e pode trazer danos a longo prazo”, explica a dermatologista Lúcia Miranda.
Por evaporar durante a aplicação (são usadas até duas fontes de calor, como chapinha e secador), o formol acaba sendo inalado em grandes quantidades. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a exposição por tempo prolongado aumenta o risco de câncer de nasofaringe e leucemias, principalmente.
Os efeitos colaterais da exposição ao formol não são apenas instantâneos, e podem aparecer horas ou dias depois da aplicação. Em 2017, Márcia Gomes Alves Fernandes, 48 anos, também faleceu depois de uma progressiva. Ela apresentou intoxicação respiratória aguda, bronquite e asma na noite do dia em que alisou os cabelos com formol.
Opções
Não há consenso entre médicos e cabeleireiros entrevistados pela reportagem sobre a existência de outros produtos alisantes que não usem formol. Para a dermatologista Lúcia, o composto está presente em todas as fórmulas, mesmo que em outras versões. “À medida que se aquece, com o uso da chapinha, ele se transforma em formaldeído. Não existe aminoácido ou vitamina que alise cabelo”, diz a médica.
O cabeleireiro Filipe Marcel, do D Concept, afirma que existem tratamentos com ácidos que produzem o efeito liso. “A guanidina, por exemplo, é usada nos produtos fabricados por grandes multinacionais e transforma o fio de dentro para fora. Seria o jeito mais ‘saudável'”, explica. Ele conta que, apesar de ser um tratamento mais caro e menos agressivo, normalmente é incompatível com outras químicas e, por isso, pouco usado – uma tintura à base de amônia, em contato com o cabelo tratado, poderia quebrar todos os fios.
“O formol seria indicado para quem já tem o cabelo pintado, ele manteria a cor sem desbotar”, afirma o profissional. Mas, apesar de a quantidade de 0,2% da substância ser aprovada pela Anvisa, a dermatologista Lúcia alerta que todo produto passado nos cabelos (ou nas unhas, como no caso das bases fortalecedoras) acaba entrando no organismo. “Não acho uma quantidade segura, e muitos salões ainda adicionam mais formol. A partir do momento que você já fez, se continuar fazendo, a exposição é contínua e ele vai se acumulando no corpo”, ensina.
Ela afirma que, se a opção for por alisar os fios, é preciso procurar um cabeleireiro de confiança, prestar atenção no odor do produto (não é possível mascarar o cheiro de formol) e na fórmula.
De todo jeito, não importa qual o produto escolhido: o alisamento não é saudável para os fios. O cabeleireiro Bruno Oliver explica que o formol atua como uma maquiagem permanente, alisando e plastificando o fio – assim, não há como transportar nenhuma hidratação ou óleo para dentro do cabelo. E, uma vez que ele é aplicado, não sai mais. “Sou totalmente contra esse tipo de procedimento”, diz.
De olho na polêmica, a Anvisa estuda proibir outras substâncias depois de uma avaliação de segurança. Confira, na tabela abaixo, a situação dos princípios ativos: