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Enxaqueca: saiba como funciona a terapia de anticorpos monoclonais

Remédio injetável deu mais conforto e segurança às pessoas com enxaqueca, mas preço alto ainda afasta pessoas do tratamento

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Enxaqueca: saiba como funciona terapia de anticorpos monoclonais
1 de 1 Enxaqueca: saiba como funciona terapia de anticorpos monoclonais - Foto: Getty Images

A enxaqueca é uma doença que causa dores de cabeça constantes em quem a possui, algumas vezes até incapacitantes. Os anticorpos monoclonais conseguem eliminar a dor quase imediatamente, mas o preço alto do tratamento acaba restringindo a quantidade de pessoas que poderia ser beneficiada.

Os anticorpos monoclonais são aplicados por canetas injetáveis, como o Ozempic, e dão mais conforto no tratamento já que podem ser injetados em intervalos mais longos, de até três meses. Além disso, eles são aplicados na barriga em vez dos tratamentos mais tradicionais que injetam anestésicos na cabeça do paciente semanalmente.

“Os efeitos da aplicação deste tipo de tratamento são muito rápidos, em um dia já se sente o alívio. Além disso, não há efeitos colaterais, em geral, os pacientes só reclamam de dor na região da picada da injeção. É um medicamento eficaz, seu limitante é mesmo o preço”, afirma o neurologista Márcio Siega, da clínica Modula Dor, de Brasília, e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe).

Siega publicou no Congresso Brasileiro de Cefaleia em 2020 um trabalho acadêmico sobre os seus primeiros 67 pacientes que usaram a terapia de anticorpos monoclonais contra a enxaqueca. Os pacientes tinham idade média de 40 anos e dores de forte a moderada. Dois em cada três deles tiveram uma melhora discreta ou alta de sua relação com a dor. No grupo, 10% declararam que a dor desapareceu.

Estão disponíveis a venda no Brasil três remédios injetáveis: Pasurta, do laboratório Novartis; Emgality, do Eli Lilly; e Ajovy, da Teva Farmacêutica. O preço do tratamento mensal feito com eles varia de 1 mil a 1,6 mil reais. Em um ano, período que Siega aponta como o intervalo médio que os pacientes recebem alta, o investimento pode chegar em R$ 20 mil.

Como os medicamentos funcionam?

Os anticorpos monoclonais agem bloqueando uma molécula no organismo chamada CGRP. Desde os anos 90, se sabe que é a circulação desta substância no sistema nervoso que causa a enxaqueca, mas medicamentos que poderiam eliminá-la se mostraram prejudiciais ao fígado.

Os anticorpos monoclonais não eliminam o CGRP, mas impedem o sistema nervoso de interagir com ele. O tratamento por anticorpos monoclonais tem a mesma eficiência de tratamentos tradicionais.

“Este medicamento tem um perfil de segurança muito alto, não lidamos com os efeitos colaterais de outros tratamentos. Isso dá uma comodidade muito alta aos pacientes. Algumas pessoas com quatro aplicações em um ano já conseguem se livrar das crises mais intensas”, afirma Siega.

O que é a enxaqueca?

No Brasil, aproximadamente 30 milhões de pessoas sofrem de enxaqueca segundo dados da SBCe e boa parte delas têm problemas em suas vidas profissional e pessoal em consequência da doença.

Alguns testes fáceis permitem diferenciar a enxaqueca de uma dor de cabeça comum. O primeiro é a máxima de “3 é demais”. Com ele, os neurologistas reforçam que ter dores de cabeça mais de três vezes ao mês podem ser sinais da doença. Além disso, é preciso estar atento a sintomas:

  • Dor de cabeça unilateral;
  • Dor latejante ou pulsante na cabeça;
  • Dor que piora com o balançar da cabeça;
  • Desconforto com a luz;
  • Incômodo com barulho;
  • Enjoo constante;
  • Vômitos.

Há outras formas de tratamento?

Para quem não pode pagar os tratamentos com anticorpos monoclonais, já que muitos planos de saúde não cobrem e não está disponível na rede pública, o jeito é recorrer a terapias mais tradicionais.

“Existem várias possibilidades de superar a enxaqueca e todas elas costumam dar resultados mais definitivos após seis meses de uso. Não é possível se curar da condição, mas a gravidade e a quantidade de crises diminui radicalmente”, diz Siega.

A técnica mais adotada é a aplicação de anestésicos em pontos de dor, injeções dadas na cabeça em intervalos regressivos, de semanais a bimestrais, para reduzir a dor. Também são usadas aparelhos neuromoduladores ou com laseres que ajudam a aliviar os sintomas.

O neurologista também indica a aplicação de botox, com um custo intermediário entre o anestésico e o anticorpo. Apesar de também não ter efeitos colaterais e com aplicações espaçadas de até cada três meses, a desvantagem é a quantidade de pontos aplicados, são quase 40 pontos aplicados na testa, lateral da cabeça, nuca e trapézio. “Para quem não tem medo de agulha, a toxina é uma boa opção , tão eficaz quanto o anticorpo, e mais acessível”, completa Siega.

É possível ainda usar medicamentos antidepressivos e antiepiléticos, mas, segundo Siega, a maioria dos pacientes abandona este tipo de tratamento devido aos efeitos adversos. Também há mudanças de hábito e exercícios psicoterapêuticos para se conviver melhor com a dor.

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