Enxaguante bucal protege contra o coronavírus? Especialistas esclarecem
Um estudo da Universidade de Cardiff, no País de Gales, sugere que o antisséptico bucal é capaz de quebrar a camada que “envelopa” o vírus
atualizado
Compartilhar notícia
Práticas simples de higiene como lavar as mãos com água e sabão e limpar as superfícies de objetos com álcool 70% são recomendadas por infectologistas como prevenção contra o novo coronavírus. Mas, já que o vírus entra no organismo principalmente pela boca e pelo nariz, usar enxaguante bucal pode ajudar a evitá-lo? O tema é controverso.
Um estudo da Universidade de Cardiff, no País de Gales, sugere que sim. De acordo com o artigo científico, substâncias presentes nos enxaguantes bucais foram capazes de destruir a camada de gordura que “envelopa” o Sars-CoV-2 em experimentos feitos no laboratório.
A autora do artigo, a professora Valerie O’Donnell, afirma que “esta é uma área pouco pesquisada e de grande necessidade clínica”, mas admite que, por enquanto, não há evidências suficientes para comprovar a eficácia do produto contra o coronavírus. Resumo da ópera: novos estudos são necessários para saber se o produto comercializado é capaz de inativar o vírus na garganta, onde acredita-se que ele se multiplique.
O infectologista e diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF, José David Urbaez, não crê que os enxaguantes sejam capazes de combater o vírus, uma vez que o contágio acontece muito rápido. “É uma informação falaciosa. Totalmente especulativa. A gotícula infectante tem centenas de milhões de partículas virais. Quando ele [o vírus] entra em contato com o epitélio da mucosa nasofaríngea, ele injeta imediatamente o material genético nas células-alvo. Não dá tempo de fazer um gargarejo”, explica.
Outro ponto importante é que o antisséptico bucal atua apenas na saliva, uma parte muito superficial da boca, e o fato de alguns produtos conterem uma dose baixa de álcool em sua composição não significa que ele vá eliminar o vírus, de acordo com o cirurgião-dentista Mário Cappellette Junior, presidente da Associação Brasileira de Odontologia de São Paulo (ABO- SP). “Os elementos ativos do enxaguatório bucal ajudam na prevenção dos principais problemas bucais como mau hálito, gengivite e placa, além do tártaro, cáries e manchas nos dentes”, detalha.
Em comunicado oficial, a empresa Listerine informou que a procura por enxaguantes bucais da marca cresceu durante a pandemia “dado o aumento da preocupação com a higiene pessoal” e acrescentou que não há evidências de que o produto mate o coronavírus. “O enxaguante bucal Listerine não foi testado contra o coronavírus e não é recomendado como forma de prevenção ou tratamento da Covid-19.”
O Ministério da Saúde informou, em março, que não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus. As recomendações para prevenção são: lavar as mãos com frequência, cobrir nariz e boca com máscara, evitar contato próximo com pessoas com sintomas da Covid-19, evitar tocar o rosto, não compartilhar objetos pessoais e ficar em casa, evitando aglomerações.