Entenda por que mutações do coronavírus se tornaram uma preocupação mundial
Variantes identificadas no Reino Unido, África do Sul e Brasil assustam pela alta capacidade de transmissão
atualizado
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Desde que o novo coronavírus foi descoberto na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019, ele já passou por milhares de mutações. O processo é considerado comum na evolução e adaptação dos micro-organismos, mas algumas têm preocupado autoridades mundiais por estarem aumentando a capacidade de transmissão da Covid-19.
“Toda vez que o vírus muda alguma sequência de seu material genético, ele se torna uma variante. A mudança pode ser inexpressiva ou de alguma relevância, se tiver algum efeito no fenótipo do vírus. A maioria não tem efeito nenhum e é irrelevante”, explica o professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB), Bergmann Ribeiro.
Estudos de sequenciamento genético do vírus Sars-CoV-2 mostram que grande parte das mutações mais recentes aconteceram na proteína spike, estrutura essencial para que o vírus se ligue às células receptoras do corpo humano e consiga se propagar entre as pessoas. Ou seja, ele adquiriu mais facilidade para se “prender” às nossas células e se replicar.
Por enquanto, os especialistas sabem que esta característica – a facilidade de propagação – está presente nas variantes encontradas no Reino Unido, África do Sul e Brasil. Apesar de terem sofrido mutações diferentes – foram identificadas 12 na brasileira, 10 na sul-africana e 8 na britânica –, algumas são semelhantes, o que indica que está havendo uma evolução convergente do patógeno. Falta descobrir se as novas cepas também são mais letais do que a original.
“As mutações são aleatórias e ocorrem para promover uma adaptação do vírus, conforme a teoria da evolução. Do mesmo jeito que, no reino animal, só vão sobrevier os vírus que são mais capazes de se replicar dentro das células. Os vírus que não se tornam funcionais vão morrer”, explica Ribeiro.
O especialista em mutações de vírus conta que existe uma variabilidade muito grande do Sars-CoV-2 em um ano de infecção. “Até hoje sequenciaram 400 mil genomas desses vírus, com a predominância de mais de 800 linhagens que estão se adaptando ao longo dos meses. O perigo é ter uma linhagem mais patogênica”, destaca Ribeiro. Ele explica que a caracterização de uma nova linhagem é feita quando a mutação identificada está presente em mais de 20% dos casos de determinada região.
Mutação brasileira
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou na quarta-feira (27/1) que 7 países além do Brasil identificaram casos de pessoas infectadas com a variante identificada em Manaus. A agência internacional manifestou preocupação com a evolução da disseminação da nova cepa, pelo risco de maior transmissibilidade.
A variante brasileira, como vem sendo chamada, ganhou destaque em 10 de janeiro, quando o governo do Japão disse ter a encontrado em quatro viajantes que estiveram no Amazonas antes de desembarcarem no país asiático. Na mesma semana, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de reinfecção de uma enfermeira em Manaus, o que trouxe novas perguntas sobre a construção da imunidade à Covid-19.
No Reino Unido, a cepa britânica e a sul-africana vêm sendo relacionadas ao recrudescimento da pandemia de Covid-19. Os países que formam a Grã-Bretanha intensificaram as medidas de restrição ainda em dezembro, depois de um aumento considerável de internações provocadas pela infecção no país. Cientistas afirmam que a cepa britânica é até 70% mais transmissível, o que explicaria a rápida contaminação da população.
As autoridades de saúde vem repetindo que, enquanto a pandemia não for controlada, há risco de surgirem novas variantes e que, entre elas, podem sim aparecer versões que tornem o vírus mais letal. Também reforçam informações que já conhecemos: os protocolos de segurança sanitária – máscara, distanciamento social, lavagem das mãos e desinfecção das superfícies – são suficientes para matar o Sars-CoV-2 ainda que ele tenha passado por mutações.