Entenda por que é importante vacinar as crianças contra a pólio
Campanha de imunização no Brasil começou na segunda. Casos diagnosticados em Israel e nos Estados Unidos acenderam um alerta mundial
atualizado
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A Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite começou na segunda-feira (8/8) em todo o Brasil. A meta do Ministério da Saúde é imunizar 95% das crianças com idades entre 1 e 4 anos contra a doença, que é considerada erradicada no país, mas ainda exige vacinação da população pediátrica.
A ação visa melhorar os indicadores de imunização infantil no Brasil, que estão em queda desde 2015. No ano passado, a campanha ficou longe de bater a meta estipulada pelo governo, com cobertura de apenas 67,1% do público-alvo, de acordo com a Fiocruz.
Segundo o Ministério da Saúde, a vacina é eficaz contra os vírus dos tipos 1, 2 e 3 da poliomielite. Desde 2016, no primeiro ano de vida, as crianças recebem as três doses da vacina VIP (vacina inativada poliomielite) e, nos reforços anuais e na campanha, é aplicada a VOP (vacina oral poliomielite).
A poliomielite é uma das doenças mais perigosas do mundo, e pode causar sequelas graves ao paciente infectado. Porém, depois de esforços coletivos, medidas de vigilância epidemiológica e campanhas fortes de vacinação (o personagem Zé Gotinha foi criado especificamente para convencer as crianças e os pais a procurarem a imunização), a pólio foi considerada erradicada no Brasil — o último caso foi registrado em 1989.
Em 1994, o vírus selvagem da poliomielite foi declarado erradicado nas Américas pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas).
Por que as crianças devem ser imunizadas?
Apesar de o poliovírus não circular mais no Brasil, ele ainda está presente em alguns países do mundo, e uma pessoa contaminada pode entrar nas fronteiras do país. Se encontrar uma população desprotegida, a doença pode voltar a infectar as crianças e o patógeno tem chances de sofrer novas mutações, dificultando o controle.
“Junto com outras doenças como o sarampo, a pólio era responsável por um grande número de casos com complicações em crianças, com sequelas, hospitalizações e morte”, lembra o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha.
Como a doença desapareceu do país há muito tempo, os pais de hoje não conhecem pacientes que tenham sido infectados na infância — esse é considerado um dos principais motivos para a baixa cobertura vacinal. Lutar contra uma condição invisível é um dos desafios dos infectologistas.
Como é a doença?
A poliomielite – também conhecida como pólio ou paralisia infantil – é altamente contagiosa e pode causar quadros graves, como paralisia dos membros inferiores, com consequências importantes para o resto da vida, como sequelas esqueléticas e motoras.
A transmissão se dá pelo contato direto com secreções eliminadas pela boca ou pelas fezes do indivíduo infectado. O poliovírus se aloja no intestino e na garganta do paciente, onde se multiplica até entrar na corrente sanguínea — uma vez circulando no corpo, sem tratamento, pode atingir o cérebro.
Em casos mais severos, o vírus pode atingir os neurônios motores e causar a paralisia, ou desencadear um quadro de meningite, condição que pode levar à perda de audição e visão, epilepsia e paralisia.
Outro desdobramento perigoso é quando o poliovírus chega ao local que controla os músculos responsáveis pela respiração e deglutição — nesses casos, o paciente pode precisar de ventilação mecânica e nutrição enteral.
Segundo Cunha, 5% a 10% das pessoas que tinham a paralisia de forma sintomática morriam pela poliomielite. A doença só é prevenível pela imunização dos grupos de risco. “Com altas coberturas vacinais, a proteção da vacina é para o indivíduo e para a coletividade”, diz o presidente da SBIm.
Casos no mundo
Em meados de março, o Ministério da Saúde de Israel confirmou o primeiro caso de pólio no país desde 1988. Uma menina foi diagnosticada com a doença e outros seis casos não sintomáticos foram detectados na área de Jerusalém. Nenhum dos pacientes havia sido vacinado.
Testes com as amostras de água residual mostraram que o vírus estava presente no esgoto de outras três cidades.
Em julho deste ano, um morador de Nova York, nos Estados Unidos, foi diagnosticado com a doença um mês após sofrer paralisia. Ele foi o primeiro paciente do país em quase dez anos.
“Esses casos nos EUA e em Israel, países com altas taxas de cobertura vacinal, nos fazem dois alertas: que é fundamental ter alta cobertura vacinal, e que as pessoas não vacinadas estão em risco. Como as nossas coberturas vacinais estão muito baixas – em torno de 70% pra a série primária –, nós temos uma população muito grande de crianças vulneráveis”, afirma o presidente da SBIm.
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