Engenheiro perde a capacidade de ler números e intriga a ciência
Com uma doença degenerativa no cérebro, o americano não tem problemas com letras. Pesquisadores exploram relação da cognição com consciência
atualizado
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À beira dos 70 anos, um engenheiro americano identificado apenas como R.F.S., começou a sentir dor de cabeça, amnésia, tremores e dificuldade para caminhar. O homem foi encaminhado ao hospital, onde foi diagnosticado com síndrome corticobasal, uma doença neurológica que mata neurônios.
Porém, pouco tempo depois, R.F.S. não conseguia mais reconhecer os números. O 4 ficava ao contrário e numerais maiores eram descritos como um prato de macarrão. Para um homem que trabalhou com números a vida inteira, o sintoma foi catastrófico. Porém, o problema foi além disso: ele passou a não entender etiquetas de preço, placas de limite de velocidade e nem a identificação de uma porta de hotel.
Mas, ainda assim, conseguia fazer contas de cabeça e os números 0 e 1 ainda eram reconhecíveis — os cientistas acreditam que a semelhança com letras foi capaz de facilitar a compreensão. Determinado a continuar trabalhando, ele aprendeu um novo sistema de dígitos e mudou a maneira como o computador mostrava os números.
De acordo com a revista Science, o engenheiro foi encaminhado para um time de neurocientistas da Universidade Johns Hopkins, onde passou por uma série de testes. Um deles incluía segurar um número 8 feito de espuma, com o objetivo de verificar se tocar o numeral o ajudaria no reconhecimento. Porém, mesmo sentindo as curvas do objeto, a imagem continuava embaralhada: o cérebro prioriza a visão ao criar uma imagem.
Os cientistas acreditam que o problema não é só uma má função da visão, mas de interpretação. Quando o cérebro percebia que a imagem se tratava de um número, tudo bagunçava — somado à capacidade normal de distinguir letras, a principal teoria é que o cérebro tem uma área especial só para processar números e nela estaria o problema.
Porém, a ciência provavelmente não terá a resposta para o caso de R.F.S. A saúde do engenheiro se deteriorou rapidamente e, hoje, já não consegue falar nem se mover sozinho.