Enfermeira de SP arrecada 15 mil aventais para proteger colegas
Tânia Ortega trabalha em hospital que virou unidade de referência no atendimento para Covid-19 e luta para melhorar a segurança da equipe
atualizado
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“Se o profissional da saúde for infectado, acabou. Vai faltar gente para atender nos hospitais e a curva de contaminação do coronavírus não vai achatar. Sei que está todo mundo de quarentena e a produção diminuiu, mas a gente precisa dos equipamentos de proteção individual, dos EPIs”. Na linha de frente do combate à epidemia provocada pelo novo coronavírus, a enfermeira paulista Tânia Ortega, 56 anos, não se preocupa apenas com a própria saúde, mas com a dos colegas também.
Tânia criou a campanha EPI É Vida com a finalidade de arrecadar doações para as equipes de saúde que lidam diariamente com as vítimas da Covid-19. Até essa terça-feira (21/04), 15 mil aventais de uso hospitalar haviam sido doados para a campanha, o equivalente a mais de 1 tonelada de material que será distribuído nos hospitais de São Paulo nos próximos dias. O movimento foi criado para tornar mais rápido o fornecimento de itens básicos para as equipes e prescindir da necessidade do Estado, cujo processo de compras é sempre mais demorado.
A enfermeira conta que os profissionais com quem convive estão abalados com o crescente número de casos, inclusive entre colegas. “Estamos muito agitados e ansiosos. Quando um dá positivo, a equipe toda fica angustiada. É uma roleta-russa, alguns nem manifestam sintomas. Outros, jovens e sem comorbidades, morrem”, lamenta.
Feliz em estar na saúde pública
Natural de São Paulo, Tânia se dedica à saúde há 38 anos. Trabalhou no hospital Albert Einstein até se aposentar, em 2014, mas considerou que podia continuar ajudando na área e retornou à atividade na rede pública. Hoje, ela é responsável pelo centro cirúrgico e pelo treinamento de outros enfermeiros no hospital municipal Dr. José Flavio Andrade Silva, na capita paulista.
“Eu queria conhecer essa realidade. Na saúde pública, o enfermeiro tem muito mais autonomia, a gente esbarra em algumas dificuldades, como o acúmulo de funções, mas estou feliz em estar aqui”, garante. “Temos excelentes profissionais na rede pública, que se unem pelo mesmo objetivo”, completa.
A unidade onde ela trabalha teve que se adaptar à nova realidade. De hospital geral, virou centro de referência no tratamento da Covid-19, com 30 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) destinados ao tratamento de pacientes da doença.
Cuidado com o improviso
A campanha de Tânia foi iniciada com um vídeo compartilhado em redes sociais – que já teve 12,3 mil visualizações –, no qual ela mostra por que é necessário aumentar a gramatura dos aventais que estão sendo distribuídos nos hospitais. “Nós precisamos de aventais com gramatura acima de 50, no mínimo, e impermeáveis. Os profissionais da saúde precisam tomar muito cuidado com as improvisações”, defende.
De acordo com Tânia, são comuns jornadas de até 12 horas em isolamento com os pacientes graves, que perderam o contato com a família. “Nesse momento, eles criam uma relação de confiança com o enfermeiro e buscam um contato, um abraço, porque estão ali, desamparados, sem a família”, relata.
Doações
Além dos aventais, a campanha pede a doação de máscaras, que serão distribuídas tanto para as equipes de saúde quanto para os familiares que vão até os hospitais com os infectados.
“A gente quer criar esse espírito de doação na sociedade para levar o material até os hospitais. A nossa necessidade é muito grande. Estou usando o meu conhecimento, um pouco de influência que tenho para fazer o máximo pela minha categoria”, completa.
Os interessados em contribuir com a campanha EPI É Vida devem entrar em contato com Tânia pelo e-mail tanort@gmail.com. A enfermeira também está em negociação com órgãos nacionais de saúde e instituições empresariais para lançar outra campanha nos próximos dias a fim de atender hospitais de todo o país.