Cientistas criam modelo de embrião sem usar espermatozoide ou óvulo
Cientistas do Instituto Weizmann Wonder Wander, de Israel, criaram modelo classificado como exemplo perfeito de um embrião real
atualizado
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Um estudo do Instituto Weizmann, de Israel, conseguiu, pela primeira vez, reproduzir fielmente a estrutura completa de um embrião humano a partir de células-tronco sem usar espermatozoide, óvulos ou um útero.
“O ‘modelo de embrião’ abre caminho para entender eventos que levam à formação do plano corporal humano”, explica o professor Alfonso Martinez Arias, do departamento de ciências experimentais e da saúde da Universidade Pompeu Fabra, da Espanha, em entrevista à BBC News. Ele não participou do estudo.
A pesquisa foi publicada na revista Nature na última quarta-feira (6/9) e aponta que o protótipo parece um exemplo perfeito de um embrião real de 14 dias de idade. Ele inclusive liberou hormônios condizentes com a gravidez em um teste no laboratório.
A ambição dos modelos embrionários é fornecer uma forma ética de compreender os primeiros momentos da vida humana. As primeiras semanas após um espermatozoide fertilizar um óvulo é um período de mudanças dramáticas – o feto sai de uma coleção de células indistintas para algo que eventualmente se torna reconhecível em um ultrassom.
Este momento é crucial para a ocorrência de muitos abortos espotâneos e defeitos congênitos, mas é pouco compreendido. “É uma caixa-preta e isso não é um clichê – nosso conhecimento é muito limitado”, afirma o professor Jacob Hanna, do Instituto Weizmann.
Em artigo publicado no site do instituto, os pesquisadores argumentam que a pesquisa de embriões é legal, ética e tecnicamente complicada. Em vez de usar materiais, como espermatozoide e óvulo, os cientistas usaram células-tronco imaturas que foram reprogramadas para se tornarem qualquer tipo de tecido do corpo.
Os pesqusiadores usaram produtos químicos para transformá-las em quatro tipos de células encontradas nos estágios iniciais do embrião humano:
- células epiblásticas, que se tornam o embrião propriamente dito (ou feto);
- células trofoblásticas, que se tornam a placenta;
- células hipoblásticas, que se tornam o saco vitelino de suporte;
- células extra embrionárias do mesoderma.
No que o modelo de embrião será útil
No total, 120 dessas células foram misturadas em uma proporção precisa. Aproximadamente 1% da mistura iniciou a jornada de se transformar espontaneamente em uma estrutura que se assemelha, mas não é idêntica, a um embrião humano.
“As células merecem muito crédito. Quando misturadas da maneira certa e com o ambiente adequado, coisas incríveis acontecem”, diz Hanna. Os modelos conseguiram crescer e se desenvolver até se parecerem com um embrião de 14 dias após a fertilização, que é o limite legal para a pesquisa em embriões em muitos países.
O estudo mostra ainda que algumas partes do embrião não se desenvolverão a menos que as primeiras células da placenta estejam presentes.
A esperança é que esses modelos ajudem os cientistas a entender como diferentes tipos de células surgem e como os órgãos do corpo se formam, além de compreender doenças genéticas. A pesquisa também pode melhorar as chances de sucesso na fertilização in vitro (FIV) e testar a segurança de medicamentos durante a gravidez.
Limites éticos
O trabalho também levanta o questionamento sobre se é possível imitar o desenvolvimento do embrião após os 14 dias, o que não seria ilegal no Reino Unido, por exemplo, pois os modelos são legalmente diferentes dos embriões.
No entanto, outros pesquisadores destacam que não é ético, legal, nem mesmo possível usar esses modelos de embriões para criar uma gravidez, já que formar as 120 células ultrapassa o ponto em que um embrião poderia ser implantado com sucesso no colo do útero.
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