É preciso usar máscara no Brasil mesmo depois de vacinado? Entenda
Com minoria da população brasileira imunizada e novos casos diários, especialistas recomendam manter as medidas de proteção contra a Covid
atualizado
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Com o avanço das campanhas de vacinação mundiais contra o coronavírus, alguns países como os Estados Unidos e Israel relaxaram medidas de restrição como a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos.
No entanto, até a última quarta-feira (9/6), apenas 14,7% da população brasileira havia sido imunizada com duas doses de vacinas contra a Covid-19, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Para aqueles que completaram o esquema de imunização, pode surgir a dúvida. Ainda mais depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que desobrigaria o uso do item de proteção para os imunizados ou os que já tiveram a Covid-19.
É possível pensar em dispensar o uso de máscara? Perguntamos a infectologistas:
“A vacina previne a forma grave da doença e diminui as chances de óbito. Mesmo vacinada, uma pessoa pode ter a doença e ser um vetor de transmissão, então não é possível dispensar o uso de máscara mesmo após a vacinação”, explica a médica infectologista Ana Helena Germoglio.
Ela ressalta que o momento é de grande circulação viral, e que as máscaras previnem ainda contra casos de reinfecção pelo vírus Sars-CoV-2.
Alexandre Cunha, médico infectologista do Hospital Sírio libanês, concorda. “Tanto os vacinados quanto aqueles que já foram infectados diminuem as chances de desenvolver a versão grave da doença, podendo desenvolver quadros leves e mesmo assintomáticos.”
Ele acrescenta que, ao dispensar o uso da máscara, os imunizados colocam em risco os que ainda não foram vacinados. “O indivíduo que não apresenta sintomas não se vê como um risco, mas pode ser um vetor de transmissão. A chance de infectar alguém não vacinado é grande, por isso é necessário seguir com o uso de máscaras e as medidas de distanciamento social”, completa.
Eficácia das vacinas
O médico José David Urbaez Brito, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, endossa a argumentação dos colegas. “A eficácia de vacinas é uma característica que se mede coletivamente, não individualmente”, observa. Isso significa que o risco individual diminui bastante com as vacinas, mas ainda assim existe.
Ele reforça que a vacinação é uma das medidas de enfrentamento da pandemia do coronavírus, mas não deve ser a única. “Nenhuma vacina tem 100% de eficácia. Neste momento, todas as medidas devem continuar com a mesma intensidade, incluindo o uso de máscaras de alta qualidade de filtração em locais fechados”, afirma.
Os especialistas afirmam que, para afrouxar as medidas de prevenção, seria necessário ter a pandemia sob controle. “Os países que tiraram obrigatoriedade da máscara fizeram isso com mais de 70% da população elegível vacinada. Para que isso ocorra no Brasil, ainda vamos precisar de muitos esforços”, lembra a médica Ana Helena Germoglio.
“Com a transmissão altíssima que o vírus tem no Brasil, que vem se perpetuando semana após de semana e, neste momento, em recrudescência, a vacina não é garantia. Apenas quando 75 a 80% da população estiver vacinada, é que teremos construído uma barreira de imunidade”, explica Urbaez.
Ele ressalta ainda que, nos casos específicos dos Estados Unidos e Israel, as medidas foram graduais e compatíveis com a situação daquelas nações. “Em Israel, o número de casos novos e óbitos se tornaram muito pequenos, dias sem casos novos e sem óbitos, junto com uma alta proporção de vacinados”.
Nos EUA, ficar sem máscara pode acontecer apenas em encontros entre indivíduos totalmente vacinados em locais fechados ou durante a circulação deles em espaços abertos, sendo mantida a obrigatoriedade de uso no transporte público e dentro de espaços fechados, como lojas.