Dor nas costas pode ser sintoma de câncer de medula óssea. Saiba mais
Pacientes com mieloma múltiplo costumam relatar dores nas costas, mas, por ser um problema comum, nem sempre os médicos fazem a associação
atualizado
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Cerca de 60% a 70% das pessoas que vivem em países industrializados vão reclamar de dor nas costas em algum momento da vida, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). As causas podem ser desde uma má posição, uso de bolsas ou mochilas pesadas, reflexo de um exercício mal conduzido ou a indicação de uma doença mais grave, como o mieloma múltiplo.
Justamente por ser um sintoma tão inespecífico, o diagnóstico precoce do mieloma acaba prejudicado e, embora não seja o câncer mais prevalente, é a segunda neoplasia hematológica (do sangue) mais comum. Segundo dados da International Myeloma Foundation Latin America, estima-se que sejam diagnosticados 7,6 mil novos casos, todos os anos, no Brasil.
A alteração surge quando, assim como em outros tipos de câncer, há uma multiplicação desenfreada das células. No caso, surgem clones anormais das células plasmáticas (também chamadas de plasmócitos), que são um tipo de glóbulo branco responsável pela produção das proteínas imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG, por exemplo).
Sintomas
Esses clones distorcidos das células plasmáticas se multiplicam na medula óssea, produzindo imunoglobulinas também anômalas, e prejudicam a produção de outras células, como as plaquetas e os glóbulos vermelhos (hemácias). Com a redução das hemácias, surge a anemia e o indivíduo passa a sentir mais cansaço, fraqueza, palidez, falta de ar e palpitações em resposta a esforços.
Dos outros sintomas do câncer, são também comuns:
• Dores nas costas, especialmente região lombar;
• Emagrecimento;
• Infecções de repetição nas vias aéreas ou no canal urinário;
• Fraturas e dores nos ossos;
• Insuficiência renal (aumento do nível de cálcio no sangue, devido à alteração do metabolismo ósseo);
• Queda na quantidade de plaquetas que, em casos mais graves, pode gerar pequenas manchas na pele e, em alguns casos, sangramento nas mucosas do nariz e da gengiva.
“O que mais confunde, na verdade, é a dor, especialmente na bacia e nas costas. O mieloma se caracteriza pelas lesões ósseas, que desgastam e podem gerar microfraturas. Então o paciente muitas vezes tem dor, mas como a dor nas costas é uma queixa comum, passa por vários médicos e toma vários remédios antes de chegar ao diagnóstico”, explica Nelson Hamerschlak, hematologista e hemoterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein, coordenador da Pós-Graduação em Hematologia/Hemoterapia e pesquisador afiliado do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Um dos medicamentos que costumava ser usado com mais frequência para a dor nas costas era o corticoide, que atua diminuindo a inflamação e controlando o sintoma. Como consequência, pode mascarar a doença. “Um dos pontos fundamentais é destacarmos para as pessoas, e para os médicos, que esse sintoma pode ser mieloma”, destaca o especialista.
Diagnóstico confuso
Não associar as dores, e demais sintomas, diretamente ao mieloma é o relato mais frequente nos consultórios, segundo Hamerschlak. “Não é só comum, é muito comum. É a história do paciente. Ele tem o sintoma e, num belo dia, alguém acha estranho e resolve fazer os exames. [O diagnóstico vem] ou por um exame de imagem, no qual vê as lesões, ou de sangue”, explica.
Os exames que podem ser solicitados para confirmar a doença são: exame da medula óssea, hemograma, exame da função renal, dosagem de cálcio no sangue, exame específico de urina; raio-X, tomografias e/ou ressonância magnética do esqueleto, ou PET-CT, que vão avaliar as possíveis lesões ou fraturas nas áreas que estiverem doendo.
Um dos motivos para o sinal passar batido é o fato de a doença ser mais prevalente em idosos, acima dos 60 anos — idade também comum para as dores nas costas. “É raro em jovem. Em criança, é raríssimo. Ocorre com mais frequência entre homens”, destaca o especialista.
Tratamentos
Quanto mais precocemente for identificada a doença, maior é a chance de um tratamento dar certo, e a idade do paciente também conta. Abaixo dos 70 anos, pode ser indicado o transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas além de uma série de novos remédios combinados
Acima dessa idade, porém, ou em pessoas com comorbidades que impedem tratamentos agressivos, os especialistas podem indicar medicamentos combinados que vão atuar no controle dos sintomas. (Fonte: Agência Einstein)