Dor crônica: tratamentos avançam para melhorar vida do paciente
Terapias alternativas, derivados de morfina e meditações são usadas para reduzir a dor crônicas de pacientes, especialmente os com câncer
atualizado
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Rio de Janeiro – A maioria das pessoas que trata doenças graves convive com dor crônica, seja a motivada pela doença ou pelo próprio tratamento ao qual o paciente é submetido. Entre pessoas com tumores avançados, por exemplo, 90% relatam dores constantes, de moderadas a intensas.
A dor crônica é aquela que persiste no tempo e precisa ser controlada continuamente. Ela não necessariamente é mais intensa que a dor aguda, que pode ser extrema, mas é pontual. A ausência de um horizonte de superação, porém, é que torna a vida com dor crônica insuportável.
Com os avanços nas terapias contra o câncer, cresceu a quantidade de pacientes sobreviventes que tiveram de passar por cirurgias complexas e que viverão por anos com dores constantes.
A medicina tem investido em pesquisa sobre a dor, para entender formas de controlá-la e permitir que os pacientes não apenas sobrevivam, mas tenham qualidade de vida.
“O foco muitas vezes é o tratamento padrão da dor antes de entender suas origens e poder controlá-la especificamente”, aponta a anestesiologista e especialista em dor Natalia Moreti, do Rio de Janeiro, uma das palestrantes do IX Congresso Internacional de Oncologia D’Or, que foi realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 12 e 13 de abril.
“É muito comum que o paciente tenha doses padrão de morfina e que os médicos não queiram aumentar por insegurança no escalonamento, ao mesmo tempo que não encaminham os pacientes para especialistas em dor. Convencemos os pacientes de que a dor é normal, mas ela não é”, afrima Moreti.
Terapias alternativas
Para responder às dores crônicas, há uma série de possibilidades, tanto de remédios como de terapias alternativas. Entre as terapias alternativas: práticas espiritualizadas, yoga e meditação já foram estudadas e apontaram grande eficácia no controle da dor.
“Implementar terapias não farmacológicas como a musicoterapia nos hospitais, permitir que o paciente durma quando está internado, fazer terapias de relaxamento e massagens localizadas, tudo isso ajuda o paciente a ter autonomia para manejar a própria dor”, enumera a anestesiologista e especialista em dor Julia Brum, do Rio de Janeiro.
“Não é nossa missão criar a expectativa de dor zero, mas indicar que nem toda dor precisa gerar sofrimento. Quando fazemos exercício, por exemplo, sentimos dor e nos sentimos bem. Se sentir bem melhora drasticamente os níveis de tolerância”, completa Brum.
Remédios para lidar com a dor crônica
Entre os tratamentos farmacológicos, até substâncias envolvidas tabu como a cannabis e a ketamina têm sido mais consideradas. O foco do tratamento da dor crônica, porém, segue sendo o uso de morfina e de outros opioides. Estas substâncias conseguem reduzir as dores de 19 a cada 20 pacientes, em alguns casos zerando totalmente as manifestações.
Há, porém, uma série de problemas envolvidos no uso. Os pacientes e médicos, muitas vezes, resistem à prescrição. Os pacientes não querem ir para a morfina, a encaram como se fosse um fim de linha no tratamento. Os profissionais, por sua vez, têm medo do potencial de dependência e da perda de eficácia ao longo do tempo.
A anestesiologista Marina Rondinelli, também do Rio de Janeiro, recomenda que os médicos não tenham medo de prescrever opioides e se disponham a aprender com eles. “Na verdade, por medo os médicos prescrevem opioides de doses baixas, como codeína ou tramal, que não ajudam os pacientes e acabam até prejudicando o tratamento. Seguindo as guias internacionais mais recentes, é possível prescrever morfina de forma muito controlada, com várias opções de alternativa, de desmame e que permitem que o paciente viva com qualidade”, conclui.
*O repórter viajou a convite da Rede D’Or.
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