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Dois em cada 10 moradores de favelas preferem nem saber se têm câncer

Pesquisa sobre a percepção e prioridades do pacientes com câncer nas favelas revelou que 24% das pessoas não sabem que câncer tem cura

atualizado

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Rovena Rosa/Agência Brasil
Favela de Paraisópolis em SP
1 de 1 Favela de Paraisópolis em SP - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Entre os moradores de favelas do Brasil, 21% dizem que preferem nem fazer os exames para saber se têm um câncer. O dado foi divulgado pela pela pesquisa Percepção e prioridades sobre o câncer nas favelas, realizada pelo DataFavela, do Instituto Locomotiva, e pelo Oncoguia, ouvindo mais de 2,9 mil moradores de comunidades do Brasil.

O estudo foi apresentado nesta terça-feira (9/5) na abertura do 13º Fórum Nacional Oncoguia, que está acontecendo em Brasília até o dia 11. O levantamento revela ainda outros dados alarmantes: 24% das pessoas que moram em favelas não sabe dizer se o câncer têm cura e outros 7% creem que não.

A pesquisa apontou que 41% dos entrevistados não têm o costume de fazer exames de rotina e 65% têm medo de descobrir um tumor. O temor é justificado pelo fato que oito em cada dez das pessoas que responderam à pesquisa conheceu alguém que teve câncer.

Neste universo, a doença é associada a uma sentença de morte. Entre os participantes com parentes que tiveram câncer (44% do total), em 60% dos casos, o desfecho foi a morte.

“O que este estudo revela é que, sem essas informações, o câncer só será descoberto quando estiver em um estado avançado. Aí esbarramos não só na dificuldade natural de tratamento mais complexo, como também no problema de precarização em várias frentes”, afirma a presidente do Oncoguia, Luciana Holtz.

Problema estrutural

Para os pesquisadores, o estudo revela que o problema do tratamento do câncer nas favelas é sistêmico. A dificuldade de acesso não está só no desconhecimento, mas também na dificuldade de acesso a uma logística que permita o tratamento digno. Oito em cada 10 entrevistados afirmaram que levam mais de uma hora de trânsito para chegar ao posto de saúde mais próximo de suas casas.

Além disso, a dificuldade ao acesso de serviços básicos também acaba prejudicando o tratamento de pessoas que poderiam, eventualmente, lidar com a doença ainda em seus estágios iniciais:

  • 85% dizem que teriam uma melhor saúde se tivessem melhores condições econômicas;
  • 44% dizem que se tivessem com quem deixar os filhos, poderiam se examinar melhor;
  • 27% acham que o câncer é uma determinação divina e que exames e prevenção não podem ajudar.

Como solucionar?

“Essa pesquisa oferece uma oportunidade ímpar para que a gente consiga mostrar onde tratar o problema. É um convite para que todos os processos tenham mais transparência. Se a gente tem 73% dos respondentes dizendo que não tem acesso a exames, temos que saber mais sobre que testes são esses, organizar listas de prioridades… Quanto mais informação a gente tem de um problema, mais fácil fica de enfrentá-lo”, diz o consultor estratégico do Oncoguia, Tiago Farina.

As respostas para resolver o problema, aponta Farina, foram dadas pelo próprio público entrevistado. A dificuldade de conseguir exames (52%), marcar consultas (49%), encontrar profissionais especialistas (44%) e obter informações sobre prevenção e tratamento (36%) foram considerados fatores-chave.

Para o fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, um dos responsáveis pelo DataFavela, que realizou a pesquisa, também é importante ressaltar a importância que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem para a população das favelas.

“Fica bastante evidente que o SUS não é um detalhe, é central para salvar as vidas, mas devemos nos organizar para fazer uma busca ativa, não podemos esperar que as pessoas procurem a saúde. São trabalhadores autônomos, que não têm tempo nem acesso à estrutura de saúde, que vivem em desamparo. É preciso pensar que essa pessoa só aceitará que precisa de ajuda em estágios muito avançados”, pondera Meirelles.

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