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Dois anos de Covid: quanto a ciência avançou no combate à pandemia

Primeiro alerta da China para a OMS sobre “pneumonia misteriosa” completa dois anos. Veja o quanto a ciência já avançou

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ilustração de um coronavírus, colorida, azul em fundo branco
1 de 1 ilustração de um coronavírus, colorida, azul em fundo branco - Foto: GettyImages

No dia 31 de dezembro de 2019, a China informou à Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o surto de uma espécie diferente de pneumonia, causada por um vírus inédito em seres humanos. Aos poucos, o mundo foi vendo o coronavírus se aproveitar das conexões de uma sociedade globalizada para se espalhar ao redor do planeta em velocidade recorde. Em março de 2020, foi decretada a pandemia de Covid-19, como foi batizada a doença causada pelo Sars-CoV-2, e a rotina da população mundial mudou.

Lockdowns foram decretados, o uso de máscaras foi instituído, passamos a lavar as compras e limpar tudo com álcool. Foram meses sem encontrar familiares e amigos, saindo de casa apenas para o necessário. Batemos palmas para os profissionais de saúde das janelas, sofremos pelas muitas vidas perdidas e aguardamos com expectativa as notícias sobre a criação da vacina. Nunca a população esteve tão ligada em ciência e pesquisa – hoje, termos como “revisão por pares” e “pré-print” já deixaram a academia e se tornaram corriqueiros no dia a dia.

Dois anos depois do primeiro alerta, o mundo sabe muito sobre o coronavírus. O misterioso vírus se tornou parte da vida, e as medidas de controle são mais pontuais e certeiras. Com a vacina já na terceira dose (e a quarta sendo testada), medicamentos aprovados, testes mais rápidos e máscaras cada vez mais eficientes, o controle da pandemia parece cada dia mais próximo. Segundo a OMS, está ao alcance das nossas mãos.

Veja os principais avanços da ciência no combate à Covid-19:

Vacina

O principal avanço durante os dois anos de pandemia foi, sem dúvida, a criação de várias vacinas com efeito contra o coronavírus. Apesar de o processo de desenvolvimento de um imunizante demorar anos, os cientistas trabalharam a toque de caixa para adaptar tecnologias tradicionais e inovadoras (como a de RNA mensageiro) e entregaram fórmulas que vêm ajudando a manter os níveis de hospitalizações e óbitos por Covid-19 baixos.

Com o surgimento de novas variantes, a capacidade dos imunizantes é  colocada à prova – e dá bons resultados. Duas doses das vacinas parecem conseguir evitar internações e óbitos em decorrência de infecções causadas pela cepa Ômicron, e o reforço aumenta ainda mais a proteção, inclusive contra quadros sintomáticos da doença.

Remédios

Mesmo com a existência da vacina, algumas pessoas ainda ficam muito doentes devido à Covid-19. Para tentar acelerar a recuperação de pacientes com quadros leves e evitar que os casos de pessoas em grupos de risco se agravem, pesquisadores adaptaram tecnologias usadas para outras doenças a fim de criar medicamentos eficazes contra o coronavírus.

Muito se discutiu sobre cloroquina e ivermectina – nenhuma das duas apresentou benefícios em estudos clínicos –, mas o que realmente mostrou efeito foram os anticorpos monoclonais (feitos em laboratório para reforçar a resposta imunológica do corpo) e os antivirais. Na maioria dos casos, os remédios conseguem evitar o agravamento do quadro dos pacientes e as mortes.

Os primeiros medicamentos só podiam ser aplicados por via intravenosa, e no hospital. Porém, em dezembro, as agências regulatórias dos EUA e de alguns países, como Israel, aprovaram opções em comprimido, que podem ser administradas em casa para os grupos mais frágeis.

Testagem

No começo da pandemia, um caso suspeito de Covid-19 demorava pelo menos três dias para receber o resultado do teste de PCR, padrão-ouro na identificação de patógenos. Com o passar da pandemia, foram criados exames rápidos de sangue que mostravam se o paciente tinha anticorpos contra o coronavírus, ou seja, se já tinha sido contaminado pelo vírus no passado.

Hoje, existem os testes rápidos, que são feitos com amostra recolhida com swab no nariz ou na garganta, e apresentam o resultado em poucos minutos. A rapidez e a facilidade para encontrar esses exames são essenciais para evitar o agravamento da pandemia desde que as pessoas positivadas sigam o isolamento necessário.

Em outros países, como Estados Unidos e Reino Unido, esse tipo de exame pode ser comprado e mantido em casa, para facilitar ainda mais o acesso. No Brasil, ainda é necessário procurar um centro de saúde ou drogaria para fazer o teste.

Sequenciamento

O sequenciamento genético das cepas do coronavírus tem se tornado cada vez mais rápido e abrangente ao redor do mundo. A eficiência na identificação de mutações e novas variantes do vírus está sendo essencial para lidar com a Ômicron – a África do Sul, um dos países que mais faz sequenciamentos, identificou a cepa rapidamente e informou à OMS seu achado, permitindo que outros países ajustassem os testes para descobrir a presença da cepa, que é a mais transmissível encontrada até o momento.

A comunidade internacional, capitaneada pela OMS, tem acompanhado os sequenciamentos e foi criada uma escala de importância para as novas cepas. As variantes ganharam nome de letras gregas – Alfa, Beta, Gama, Delta e Ômicron – para evitar preconceito com o local onde foram identificadas pela primeira vez, e são classificadas entre “de atenção” e “de preocupação”. A presença das cepas mais transmissíveis pode alertar para um crescimento iminente nas hospitalizações, permitindo que o governo local se prepare para uma nova demanda, por exemplo.

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Isso porque a alteração apresenta cerca de 50 mutações, mais do que as outras variantes identificadas até o momento
Segundo a OMS, a Ômicron é mais resistente às vacinas disponíveis no mundo contra as demais variantes e se espalha mais rápido
Dores no corpo, na cabeça, fadiga, suores noturnos, sensação de garganta arranhando e elevação na frequência cardíaca em crianças são alguns dos sintomas identificados por pesquisadores em pessoas infectadas
Em relação à virulência da Ômicron, os dados são limitados, mas sugerem que ela pode ser menos severa que a Delta, por exemplo
O surgimento da variante também é uma incógnita para cientistas. Por isso, pesquisadores consideram três teorias para o desenvolvimento do vírus
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Detectada pela primeira vez na África do Sul, a variante Ômicron foi classificada pela OMS como de preocupação

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Isso porque a alteração apresenta cerca de 50 mutações, mais do que as outras variantes identificadas até o momento

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Segundo a OMS, a Ômicron é mais resistente às vacinas disponíveis no mundo contra as demais variantes e se espalha mais rápido

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Dores no corpo, na cabeça, fadiga, suores noturnos, sensação de garganta arranhando e elevação na frequência cardíaca em crianças são alguns dos sintomas identificados por pesquisadores em pessoas infectadas

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Em relação à virulência da Ômicron, os dados são limitados, mas sugerem que ela pode ser menos severa que a Delta, por exemplo

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O surgimento da variante também é uma incógnita para cientistas. Por isso, pesquisadores consideram três teorias para o desenvolvimento do vírus

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A primeira é que a variante tenha começado o desenvolvimento em meados de 2020, em uma população pouco testada, e só agora acumulou mutações suficientes para se tornar mais transmissível

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A segunda é que surgimento da Ômicron pode estar ligado ao HIV não tratado. A terceira, e menos provável, é que o coronavírus teria infectado um animal, se desenvolvido nele e voltado a contaminar um humano

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De qualquer forma, o sequenciamento genético mostra que a Ômicron não se desenvolveu a partir de nenhuma das variantes mais comuns, já que a nova cepa não tem mutações semelhantes à Alfa, Beta, Gama ou Delta

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Com medo de uma nova onda, países têm aumentado as restrições para conter o avanço da nova variante

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De acordo com documento da OMS, a Ômicron está em circulação em 110 países. Na África do Sul, ela vem se disseminando de maneira mais rápida do que a variante Delta, cuja circulação no país é baixa

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Mesmo em países onde o número de pessoas vacinadas é alto, como no Reino Unido, a nova mutação vem ganhando espaço rapidamente

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No Brasil, 32 casos foram registrados, segundo balanço divulgado no fim de dezembro pelo Ministério da Saúde

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Por conta da capacidade de disseminação da variante, a OMS orienta que pessoas se vacinem com todas as doses necessárias, utilizem corretamente máscaras de proteção e mantenham as mãos higienizadas

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A entidade ressalta ainda a importância de evitar aglomerações e recomenda que se prefiram ambientes bem ventilados

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Medidas de proteção

Conforme a ciência foi entendendo melhor o coronavírus, ficaram mais claras as medidas de proteção que realmente têm efeito. Lavar as compras não é mais necessário (apenas alimentos que vão ser consumidos com casca ou levados à boca) nem passar álcool em encomendas que chegam pelo correio, uma vez que o coronavírus é transmitido pelo ar, não por superfícies. O uso de álcool em gel é relevante, mas pode ser substituído por água e sabão – o importante é não levar as mãos sujas aos olhos, nariz ou boca.

As máscaras de pano, tão comuns nos primeiros meses da pandemia, também vão sendo deixadas de lado. Os pesquisadores descobriram que, apesar de terem sido úteis em um primeiro momento, podem ser substituídas pelas versões cirúrgicas (que são facilmente encontradas e não custam caro) ou, melhor ainda, pelos modelos PFF2/N95. O equipamento de proteção bem ajustado ao rosto e com camadas suficientes para filtrar o ar é essencial para evitar a transmissão.

Desafios

Apesar de os avanços nestes dois anos terem sido enormes, 2022 ainda oferecerá alguns desafios. Com a população voltando à vida normal depois de duas ou três doses da vacina contra a Covid-19, as aglomerações voltam a acontecer, assim como encontros sem máscara, criando oportunidades para que o vírus se espalhe. Vale lembrar que pessoas imunizadas, muito provavelmente, não apresentarão quadros graves, mas podem se contaminar e infectar outras pessoas.

O vírus continua evoluindo, e a possibilidade de surgimento de novas variantes ainda mais eficazes para fugir das defesas construídas pela vacina é uma ameaça presente, assim como aconteceu com a Ômicron.

A OMS elenca que a principal dificuldade deve ser garantir que pelo menos 70% da população mundial seja vacinada até o meio de 2022, atingindo a famosa “imunidade de rebanho” e controlando finalmente o vírus.

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