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Doenças negligenciadas no Brasil: quais são e por que são?

A lista da OMS indica 21 infecções. O Brasil é acometido por 18, sendo que as mais comuns são a dengue, a hanseníase e a doença de Chagas

atualizado

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mosquito da dengue
1 de 1 mosquito da dengue - Foto: dimarik/Istock

Da lista da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 21 doenças negligenciadas, 18 estão presentes no Brasil. Causadas por agentes infecciosos ou parasitas, essas doenças receberam o adjetivo “negligenciadas” porque afetam, principalmente, pessoas pobres que vivem em condições inadequadas, em locais onde há problemas de acesso à água tratada, falta de saneamento básico e habitação precárias.

O termo foi primeiramente usado em 1986 pelo médico americano Kenneth Warren, especialista em doenças tropicais. Em 2000, a organização mundial Médicos sem Fronteiras também o adotou e, no ano seguinte, foi a vez da OMS. As doenças negligenciadas causam cerca de meio milhão de mortes em todo o mundo anulamente.

No Brasil, as mais comuns são a dengue, a doença de Chagas, a hanseníase (conhecida como lepra), a leishmaniose e a sarna. Apenas de dengue, só neste ano, já foram registrados 54.777 casos prováveis, número 149% maior do que o verificado no mesmo período de 2018. Até o momento, foram cinco óbitos. Algumas dessas doenças são bastante conhecidas na história, como a hanseníase, que é milenar e hoje está praticamente erradicada na Europa.

Carla Nunes de Araújo, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora do Laboratório de Interação Patógeno-Hospedeiro do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas/UnB, explica que a definição inicial estava relacionada à falta de investimentos das companhias farmacêuticas para o desenvolvimento de remédios que tratassem esses males. Contudo, o conceito mais atual é o de que elas são consideradas negligenciadas porque afetam desproporcionalmente as populações que vivem na pobreza.

A pesquisadora da UnB sustenta que uma coisa está diretamente ligada à outra. O acesso aos medicamentos, no caso das doenças que já têm drogas produzidas, ainda é um desafio. Da mesma maneira que a continuidade do tratamento e o acompanhamento dos pacientes pelas equipes médicas. “Na maioria das vezes, há descaso mesmo. Se falta investimento em saneamento, em melhorias de saúde, de educação e sociais, fica muito difícil desenvolver estratégias para controlar essas doenças”, afirma Carla Nunes de Araújo.

O ciclo da doença de Chagas, por exemplo, foi mapeado em 1906, mas até hoje as medidas são pouco eficientes para evitar a incidência da enfermidade, que pode levar à morte. Já a hanseníase passou por alguns avanços no final dos anos 1990 e atualmente tem cura com tratamento. A doença, no entanto, ainda é um problema de saúde pública, segundo o médico Ciro Martins Gomes, do Hospital Universitário de Brasília (HUB). “O diagnóstico costuma passar despercebido no Brasil. Precisamos investir nisso e no cuidado com os doentes. O tratamento precoce, inclusive, evita a transmissão”, explica o especialista do HUB.

O Ministério da Saúde informou que o número de novos casos de hanseníase caiu 33% nos últimos 10 anos, passando de 40.126 em 2007 para 26.875 em 2017. Segundo a pasta, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o tratamento e o acompanhamento da doença em unidades básicas de saúde.

De acordo com a pesquisadora da UnB, nos últimos anos, a comunidade internacional passou a dar mais atenção à produção de estudos científicos relacionados às doenças negligenciadas. “O objetivo é entender melhor a relação entre o agente causador da doença, o hospedeiro e os vetores, para que sejam criados novos alvos terapêuticos bem como pesquisas interdisciplinares para a implementação de programas de controle e eliminação”, esclarece Carla Nunes de Araújo.

Mudança de postura
Um dos principais problemas ainda é a falta de investimentos para o desenvolver medicamentos. A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) sustenta que essa é uma preocupação do setor. “Existe um esforço mundial e crescente da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de vacinas e terapias contra doenças negligenciadas. De acordo com o relatório G-Finder 2016, que é um projeto internacional de rastreamento e coleta de dados sobre iniciativas contra doenças negligenciadas, o setor farmacêutico investiu US$ 471 milhões em pesquisa e desenvolvimento neste segmento”, informou a Interfarma, por meio de nota.

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