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DNA da sífilis é encontrado em ossos de 2.000 anos no Brasil

Cientistas revelam possível origem ancestral da sífilis no Brasil, identificando DNA da bactéria em ossos de 2.000 anos, em Santa Catarina

atualizado

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José Fillippini/USP/Divulgação
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1 de 1 Imagem de ossos encontrados no sambaqui, em Santa Catarina - Metrópoles - Foto: José Fillippini/USP/Divulgação

No contato com europeus, milhares de indígenas morreram em decorrências de patologias transmitidas pelo Velho Mundo. Porém, uma descoberta feita por cientistas europeus, em conjunto com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), podem ter encontrado um possível caminho inverso da sífilis.

Indo das Américas para a Europa, cientistas descrevem, em um artigo publicado na revista científica Nature, nesta quarta-feira (24/1), como conseguiram encontrar o DNA da bactéria Treponema pallidus, causadora da sífilis, em ossos de mais 2.000 anos de idades, encontrados em um sítio arqueológico, em Santa Catarina.

Pesquisadores já consideravam a hipótese da doença ter surgido aqui, pelos primeiros registros históricos da sífilis na Europa serem datados apenas no fim do século 15 , logo depois do retorno de Cristóvão Colombo à Espanha. No entanto, não existiam provas diretas de que o Treponema já esteve no Brasil, até agora, com o trabalho brasileiro-europeu sendo publicado.

A descoberta aconteceu em um sítio arqueológico às margens da Lagoa do Camacho, em Santa Catarina. Batizado como Jabuticabeira II, o local é um sambaqui, construção a partir de empilhamentos de materiais orgânicos e calcários, principalmente conchas e ossos, pelo homem, ao longo de séculos. Populações ancestrais faziam sepultamentos, em rituais complexos, nesse lugar, e Jabuticabeira é um cemitério antigo.

Cientistas da USP encontraram fragmentos de ossos humanos no sambaqui, que despertaram curiosidade por terem marcas e alterações que sugeriam  a presença de doenças. Os pesquisadores José Fillipini e Sabine Eggers então iniciaram uma parceria com colegas europeus, experientes em trabalhos com DNA antigos, em busca de saber qual parasito poderia ter contaminado os ossos daquelas pessoas, chamados de sambaquianos.

Após a triagem de centenas de amostras, a equipe da geneticista Verena Schüneman, da Universidade de Zurique (Suíça), identificou, em quatro fragmentos de ossos, o DNA da Treponema. Usando uma técnica de análise chamada relógio molecular, que mede a taxa de mutações genéticas ao longo dos séculos, e compara com o DNA da bactérias de amostras mais recentes, os cientistas conseguiram estimar que os vestígios encontrados são anteriores a chegada de Colombo. “Talvez até anteriores à entrada do homem nas Américas, há mais de 12 mil anos atrás”, disse a pesquisadora Eggers à Nature.

A descoberta, porém, não responde completamente a trajetória da origem da doença. A variante encontrada no Brasil não pe aquela que causa a sífilis venérea, sexualmente transmissível. A subespécie encontrada no sambaqui é uma versão não-venérea da bactéria, transmitida por contato da pele, e mais presente em países do Oriente Médio e regiões áridas.

Sendo assim, ainda não é possível afirmar categoricamente que a sífilis venérea já esteve nas Américas naquele época. Mas o trabalho ajuda a entender como o microorganismo evoluiu em contato com humanos, principalmente em um momento onde o Treponema está começando a adquirir resistências contra os antibióticos atuais.

“Agora a gente sabe com certeza que, 2.000 anos atrás, as pessoas que foram sepultadas em Jabuticabeira tinham essa sífilis endêmica”, diz Eggers.

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