Distribuição de UTIs ainda é muito desigual no Brasil, mostra estudo
Estudo da AMIB mostra que 19 dos 27 estados estão abaixo da média nacional de leitos de UTI por habitante. Roraima é UF com menos camas
atualizado
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Em um país tão grande quanto o Brasil, uma das principais dificuldades do governo é distribuir, de forma justa e igualitária, os cuidados de saúde ao longo do território. Um dos grandes problemas do país é a falta de leitos de UTI em algumas regiões: de acordo com um levantamento divulgado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), o Piauí, por exemplo, tem 20,95 leitos para cada 100 mil pessoas. O Distrito Federal, do outro lado do especto, tem 76,68 camas de UTI para a mesma quantidade de indivíduos.
A disparidade também fica clara entre as regiões do país. Para 100 mil habitantes, o Norte tem 27,52 leitos de UTI e o Nordeste tem 29,28. Enquanto isso, o Sudeste tem 42,58 camas de atendimento de urgência, o Sul, 32,11, e o Centro-Oeste, 40,8, para a mesma quantidade de pessoas. A densidade média de leitos do país é de 36,06 a cada 100 mil habitantes, mas 19 dos 27 estados estão abaixo do patamar.
Outro problema é que 51,7% dos leitos do Brasil são operados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto o restante fica sob cuidados do Sistema Suplementar de Saúde (SSS). Apesar de parecer uma divisão equalitária, o SUS precisa atender cerca de 152 milhões de pessoas, enquanto são 51 milhões de indivíduos com plano de saúde no país.
“O Brasil é o terceiro país do mundo em números absolutos de leitos de UTI. Em um primeiro momento, isso passa a impressão de que está tudo bem. Mas, em alguns estados, a cobertura de leitos fica abaixo do mínimo recomendado pela OMS. Precisamos de ações que facilitem o acesso da população mais carente”, explica o presidente do Conselho Consultivo da AMIB, Ederlon Rezende.
Profissionais de UTI mal divididos
A medicina intensiva é uma especialidade em que o profissional é capacitado para cuidar do doente grave e lidar com várias situações previstas e imprevistas para permitir que o paciente sobreviva à UTI com as menores consequências e sequelas possíveis.
“A população precisa de um atendimento de qualidade no momento de doença crítica, quando é necessário um tratamento extremamente especializado para aumentar as chances de sobrevivência”, lembra o diretor presidente futuro da AMIB, Cristiano Franke.
Ainda assim, a maioria dos profissionais que atuam em UTIs no Brasil não é especializada. O levantamento mostra que, na região Norte, por exemplo, cerca de 66% dos médicos que atuam em UTI não têm especialização. Na região Sul, em contrapartida, 50% dos profissionais que estão nos centros de urgência são especialistas.
“Isso por si só explica por que, em uma situação de crise, como foi a pandemia, a diferença de mortalidade entre as regiões foi tão marcante”, lembra Rezende.
Há poucos profissionais, mas o levantamento da AMIB também mostra que mais médicos estão se formando intensivistas. Entre 2011 e 2023, o número de especialistas cresceu 51% — hoje, são 8.091 profissionais no país.
A maior parte dos intensivistas se formou há mais de 10 anos, é do sexo masculino (60%) e tem entre 35 e 64 anos. Os responsáveis pela pesquisa apontam que, entre os profissionais mais jovens, há mais mulheres, o que sugere um aumento das especialistas.
Como o intensivista precisa de uma UTI para trabalhar, e vice-versa, eles também estão mal divididos pelo país. É mais fácil encontrar especialistas nas grandes capitais, mas em estados com o Amapá, por exemplo, que tem cerca de 730 mil habitantes, só há cinco profissionais.
“É necessário realizar investimentos públicos consistentes para melhorar o acesso a leitos e profissionais qualificados, expandindo os programas de residência em Medicina Intensiva em locais mais afastados e implementando políticas de incentivo para atrair médicos intensivistas para as áreas mais carentes da especialidade”, aponta a presidente da AMIB, Patrícia Mello.
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