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Dieta microscópica: a autofagia celular é a chave para perder peso?

Nutricionistas tentam desvendar padrões de alimentação que possam induzir o processo de reciclagem natural das células

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1 de 1 ilustra_autofagia - Foto: Cícero Lopes/Metrópoles

Uma fronteira científica se apresenta para os interessados em protocolos de emagrecimento. E, desta vez, ela está no nível do microscópio. Os mecanismos que desencadeiam a autofagia celular – processo orgânico no qual as células comem partes de si mesmas, eliminando toxinas e reciclando nutrientes – estão sendo esquadrinhados para que novas metodologias para a perda de peso sejam desenvolvidas.

A autofagia é uma reciclagem celular que ocorre naturalmente no organismo ao longo da vida. Ela acontece quando o corpo detecta células danificadas, doentes ou inflamadas. A palavra tem origem grega (auto = eu e fagia = comer) que significa “comer a si mesmo”. Ou seja, as células vão comer partes de si mesmas, gerando energia e fazendo uma espécie de autolimpeza. O processo é essencial para a sobrevivência das células, mas não era muito conhecido popularmente.

O responsável por transformar o assunto em um tema pop foi o cientista japonês Yoshiori Ohsumi, que em 2016 ganhou o Nobel da Medicina, após identificar os genes que regulam o processo da reciclagem/renovação celular. A partir dos estudos de Ohsumi, descobriu-se que um dos gatilhos para a hora da reciclagem é a falta de nutrientes, ou seja, períodos de jejum iniciam processos de autofagia celular.

Para ficar mais claro, pense em uma grande máquina com muitos comandos, todos interconectados. No processo de autofagia são pelo menos 35 genes diferentes envolvidos para que a limpeza seja iniciada e termine com sucesso. Cada célula, inclusive, tem procedimentos próprios de autofagia. As células da pele se regeneram diariamente, já as do fígado somente uma vez por ano.

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A bióloga Monalisa Dias, que atua como analista de promoção de saúde no grupo Geap, explica que entre os efeitos provocados pela descoberta do cientista japonês está o empenho das empresas farmacêuticas na criação de fármacos que induzam a autofagia. “Se conseguirmos avançar para medicamentos que mantenham a limpeza das células, será um grande ganho”, afirma. Nesta seara, seria possível, por exemplo, desenvolver remédios para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, bem como para o câncer e a diabetes tipo 2.

Emagrecimento
O autofagia celular também interessa aos nutricionistas, que tentam descobrir padrões relacionados à perda de peso. Segundo Henrique Freire Soares, é possível criar dietas ricas em nutrientes que estimulam as proteínas causadoras da autofagia. “A célula vai se programar para fazer a limpeza sem que haja necessariamente uma sinalização feita por uma inflamação”, explica o nutricionista.

Já se sabe que entre os catalisadores da renovação celular estão alimentos fonte de resveratrol – como as uvas roxa e preta, o suco de uva orgânico, a goiaba, o cacau em pó e o chocolate amargo. A ingestão de pimentas, cascas de frutas críticas e alho também é recomendada. “Os benefícios de protocolos assim podem ser observados em exames clínicos e de sangue, mas a prescrição de dietas que apostam na autofagia ainda é rara, porque o acompanhamento detalhado é indispensável”, completa Soares.

Nutricionista clínico e professor de pós-graduação no VP Centro de Nutrição Funcional, Jefferson Bitencourt assegura que o jejum e a prática de atividades físicas intensas ativam o mecanismo de autofagia celular. Ele pondera, no entanto, que o metabolismo de cada organismo é único, por isso a necessidade de acompanhamento especializado. Em outras palavras, não tente em casa. “Dietas com grandes restrições geram desnutrição, trazendo mais malefícios do que benefícios”, conclui.

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