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Dieta de gladiadores: checamos 5 estudos do documentário da Netflix

Produção aposta em artigos científicos para promover veganismo, mas usa estudos inconclusivos para apoiar o roteiro

atualizado

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Dieta de Gladiadores/Divulgação
poster documentário
1 de 1 poster documentário - Foto: Dieta de Gladiadores/Divulgação

Quem se interessa por nutrição esportiva ou está tentando perder peso deve ter ouvido falar sobre o documentário Dieta de Gladiadores (Game Changers), da Netflix. Produzido por James Cameron (diretor de Avatar) e Arnold Schwarzenegger, o filme é narrado por James Wilks, um ex-lutador de MMA que tenta provar que uma dieta baseada em plantas, sem derivados de animais, é a melhor opção para atletas de alta performance ou apenas para quem quer levar uma vida mais saudável.

A produção utiliza vários estudos e até conduz alguns experimentos científicos para mostrar como o consumo de qualquer tipo de carne, assim como de alimentos derivados de animais, não é benéfico à saúde e pode fazer mal. A principal alegação é que os gladiadores romanos, musculosos lutadores da antiguidade, teriam uma dieta vegana. Também são apresentados alguns atletas que optaram por mudar a alimentação e tiveram bons resultados.

Porém, a crítica à produção foi intensa. A começar pelos responsáveis: James Cameron é dono da Verdient Foods, uma empresa que cria proteína baseada em plantas. Dieta de Gladiadores também foi acusado de usar apenas partes de estudos, resultados inconclusivos e pesquisas feitas com poucas pessoas — alguns deles usaram apenas sete voluntários, por exemplo, o que não é considerado suficiente para uma amostra significativa.

A documentário citou 54 pesquisas. O Metrópoles checou cinco delas. Confira:

O estudo sobre os gladiadores é, na verdade, um artigo
A pesquisa citada para dar nome à versão em português do documentário, na verdade, é um artigo publicado em 2008 na revista Archaeology. Andrew Curry, autor do texto, conta que a partir da análise de um osso pelo paleo-patologista Karl Grossschmidt, se descobriu que os gladiadores tinham uma dieta vegetariana, rica em carboidratos e com suplementação de cálcio. Ao contrário do que diz o documentário, os gladiadores comiam carne em pequenas quantidades. E a escolha da dieta foi feita para que os lutadores tivessem mais gordura — a camada adiposa serviria como proteção para facadas ou perfurações.

Músculos x proteína vegetal
Wilks fala de uma pesquisa que analisou atletas vegetarianos e descobriu que, uma vez que as proteínas ingeridas são suficientes para promover o nitrogênio e os aminoácidos essenciais, não faz diferença se elas vieram de origem animal ou vegetal. Porém, não foi citado que o mesmo estudo afirma que os vegetarianos têm menores quantidades de creatina (a substância ajuda no ganho de músculos, aumento de força, recuperação e hidratação das células), e isso pode afetar a performance esportiva. O estudo completo afirma que os vegetarianos podem experimentar uma melhora na performance depois de suplementação, mas em atividades específicas.

Testosterona x proteína animal
O documentário cita um outro estudo para dizer que o consumo de leite pode aumentar os níveis de estrogênio em 26% e diminuir os níveis de testosterona em 18%. Porém, a pesquisa citada foi feita apenas com sete voluntários e o leite vinha apenas de vacas grávidas — nessas circunstâncias, o leite fica, sim, rico em estrogênios e pode causar diminuição da secreção de testosterona.

Cortisol x proteína animal
O documentário usa uma outra pesquisa para sugerir que trocar alimentos derivados de animais por vegetais com altos níveis de carboidrato causaria uma queda média nos níveis de cortisol (hormônio do estresse) em 27%. Porém, o estudo não fala em proteína animal ou em carboidratos vegetais, apenas que se deve consumir mais carboidratos em relação às proteínas para diminuir o cortisol. O estudo foi feito com apenas sete homens.

Os experimentos científicos
Durante o documentário, são feitos dois experimentos: em um deles é retirado sangue de atletas após comerem refeições com carne e sem carne. No outro, é medida a quantidade e a potência das ereções noturnas de outros três atletas que passaram pela mesma mudança na alimentação. Os dois testes mostraram benefícios para quem opta pela dieta sem derivados de animais. Porém, a comunidade científica alerta que este tipo de experiência não é válida, uma vez que não foram considerados tempo de sono, fatores genéticos, fadiga muscular, estresse, hidratação, consumo de álcool e histórico médico.

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