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“Só passei no vestibular após diagnóstico de dislexia”, diz professor

Fernando descobriu ter dislexia por acaso. Ele estudava para o vestibular quando uma psicopedagoga descobriu erros incomuns em seus textos

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Homem fala em microfone em sala de aula - Metrópoles
1 de 1 Homem fala em microfone em sala de aula - Metrópoles - Foto: Arquivo pessoal/ imagem cedida ao Metrópoles

Quando o paulista Fernando Geloneze, 40 anos, estava na escola, as dificuldades com matemática e português eram atribuídas pelos professores à falta de atenção e pouca leitura, embora se esforçasse para ler cada vez mais.

Anos depois, quando fazia aulas particulares de redação para o vestibular, o jovem de Bauru descobriu que a dificuldade para ler e compreender textos e fazer cálculos matemáticos eram, na verdade, dislexia.

Fernando foi diagnosticado aos 19 anos, depois de fazer um exercício de redação. “O meu professor de reforço acabou pedindo para a mãe dele corrigir uma das minhas redações. Ela era psicopedagoga e perguntou se o texto era de um aluno estrangeiro por causa dos erros. Quando ele disse não, ela desconfiou de dislexia”, lembra.

O diagnóstico ajudou o rapaz a passar no vestibular de audiovisual, pois ele aprendeu a direcionar sua capacidade e esforços de forma correta.

Dislexia

A dislexia é um transtorno de aprendizagem que afeta a habilidade de a pessoa ler, escrever e soletrar. Os pacientes geralmente apresentam dificuldades em distinguir letras e sons parecidos (como T e D), em reconhecer palavras e compreender o significado delas. Eles também não conseguem ler de maneira rápida e apresentam problemas para aprender rimas e montar quebra-cabeças.

“O transtorno específico de aprendizagem é uma disfunção neurobiológica. O diagnóstico tardio pode levar a dificuldades socioemocionais e mesmo financeiras. O paciente pode ter dificuldade de passar em concursos ou se estabelecer em um emprego”, afirma David Leite Cavalcante, fonoaudiólogo da Rede D’Or com experiência em transtornos e dificuldades de aprendizagem.

O diagnóstico de dislexia costuma ser feito ainda na infância, por volta dos 8 anos de idade, quando a criança está sendo alfabetizada. Mas também pode vir anos depois, quando o grau de dificuldade na escola aumenta. “Eles se queixam de maior dificuldade para compreender os textos que leem”, explica o fonoaudiólogo.

imagem de criança com dislexia escrevendo número espelhado
Crianças com dislexia podem ter dificuldade de identificar letras e números

Fernando lembra que, quando criança, suas dificuldades eram pontuais, com problemas de aprendizado em português, com uma velocidade de leitura lenta e dificuldades com gramática e cálculos.

O menino de Bauru foi retirado da sala de aula diversas vezes porque não copiava o conteúdo da lousa ou por ficar impaciente.

“Se o parágrafo de um conteúdo era muito grande, chegava no meio dele todo embaralhado. Na hora de fazer divisões, ao invés de ir da direita para a esquerda, fazia o caminho contrário. Os professores de português falavam que eu precisava ler mais, mas sempre li muito, mesmo com dificuldade”, conta.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da dislexia é feito após avaliação com uma equipe multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogo, neuropsicólogo e neurologista.

O tratamento com o fonoaudiólogo passa por uma avaliação individualizada para definir o planejamento terapêutico. Ele passa pelo estímulo de várias habilidades, dentre elas, a capacidade de perceber que a língua é dividida em unidades menores, como palavras, sílabas e os sons das letras. Também são feitas consultas com psicopedagogos para desenvolver estratégias de aprendizado e sessões com psicólogos para avaliar os impactos da dislexia nas habilidades gerais.

“Com o método fônico, o paciente melhora a leitura. Ele começa com a representação do som das letras, evolui para a formação de sílabas e palavras e, por fim, é capaz de inserir as palavras nos textos”, explica Cavalcante.

A psicopedagoga que acompanhava Fernando o ensinou um método de memorização para melhorar a escrita. “Toda vez que eu fazia uma redação, ela assinalava todas as palavras erradas, e eu precisava reescrever essas palavras pelo menos dez vezes. Tinha cadernos com páginas lotadas dessas palavras”, lembra.

Além disso, ele desenvolveu uma técnica de estudo para aprender os conteúdos das disciplinas. O esforço ajudou Fernando a passar no vestibular de audiovisual. Anos depois, ele concluiu um mestrado e hoje concilia o doutorado com o trabalho como professor na cidade de Bauru.

“Briguei tanto com a dislexia, que acabei fazendo um mestrado, sou professor há 12 anos e estou entrando no doutorado. Para superar a dificuldade, tive que tomar gosto por ler, aprender e estudar”, afirma.

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