Dia nacional da doação de órgãos: médico conta desafios do transplante
Transplantes de órgãos e tecidos salvam muitas vidas. Médico do Einstein explica como funciona o processo e a evolução do procedimento
atualizado
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Nesta terça-feira (27/9) é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, data que busca conscientizar a sociedade sobre a importância de ser um doador e informar os brasileiros sobre o assunto. O Brasil é um dos países que mais realiza as operações em todo o mundo: somente em 2021, foram mais de 23.900 transplantes realizados, incluindo tecidos, como córnea e pele, e órgãos sólidos, como rins, pulmão, fígado e coração.
Mas, apesar de expressivo, o número de transplantes realizados ainda está longe de ser suficiente para atender a real demanda do país, principalmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, que sofrem com a má distribuição de serviços, equipamentos e a falta de profissionais qualificados.
Para entender um pouco mais sobre as perspectivas atuais e os desafios da doação e dos transplantes de órgãos e tecidos, o Metrópoles conversou com o coordenador médico do Programa de Transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, José Eduardo Junior.
Ele destaca a importância da conscientização e dos avanços dos procedimentos em território nacional. Confira as principais perguntas e respostas sobre o tema:
Em quais casos o transplante de órgãos é indicado?
O médico explica que os transplantes são a melhor solução para garantir sobrevida e qualidade de vida a pacientes com doenças graves progressivas e irreversíveis, ou seja, que pioram com o tempo independentemente de tratamentos e medicamentos.
O transplante é um procedimento seguro?
“A variabilidade de sobrevida, do sucesso da operação e das complicações vão depender do órgão recebido e da presença ou não de anticorpos que poderão levar à rejeição. Como o transplante de órgãos sólidos tende a ser a última chance para que o paciente continue a viver, ele é considerado seguro. Mas se formos comparar órgãos como o rim e o pulmão, por exemplo, é claro que o transplante renal será mais seguro”, diz o médico.
Quem pode ser doador?
Junior explica que existem dois tipos de doadores: os em vida e os falecidos. Para que uma pessoa se qualifique como doadora em vida, doando um órgão duplo (como um rim) ou parte de um órgão (como do fígado ou do pulmão), será avaliada de acordo com uma série de critérios clínicos, bioéticos e judiciais antes de iniciar o procedimento. No Brasil, qualquer indivíduo maior de 18 anos com condições de saúde adequadas pode expressar a vontade de ser doador.
Os doadores falecidos são pessoas cuja morte cerebral (encefálica) foi decretada. “A morte cerebral é quando o cérebro deixa de funcionar de maneira irreversível, mas o indivíduo continua a respirar e a ter o coração batendo com a ajuda de aparelhos. Nesses casos, a família é acionada e é entrevistada quanto ao desejo de doar os órgãos do falecido. Infelizmente, cerca de 40% dão respostas negativas quanto à doação”, lamenta o profissional de saúde.
Quais transplantes eram considerados impossíveis mas hoje são mais comuns?
Junior afirma que os transplantes de pulmão, coração e fígado tinham uma taxa de sucesso baixíssima até pouco tempo atrás. Alguns casos eram considerados intransplantáveis, mas hoje, graças a novas técnicas e capacitações médicas, já são realizados com mais frequência e permitem melhor qualidade de vida ao indivíduo.
Entre os casos considerados impossíveis anteriormente estão os de pacientes com anticorpos que naturalmente causariam a rejeição do órgão. Com técnicas e tratamentos realizados antes da operação, hoje é possível tirar os anticorpos para garantir melhor aceitação.
O médico também comenta que a realização de transplantes duplos tem se tornado mais frequente. “Existem várias inovações que permitem transplantar coração e pulmão simultaneamente, por exemplo, bem como há transplantes multiviscerais, quando vários órgãos da região abdominal são colocados ao mesmo tempo”, ensina.
Quais são os maiores desafios?
O profissional de saúde ressalta que, na atualidade, os principais desafios da doação e do transplante de órgãos são relacionados à escassez de doadores e à dificuldade em decretar a morte encefálica de pacientes.
Junior aponta que, além de melhorar a notificação da morte cerebral, é necessário criar centros transplantadores em regiões estratégicas. Apesar de o Brasil ter um dos maiores sistemas públicos de transplantes do mundo, o médico aponta que ainda existe uma heterogeneidade dos serviços.
“Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul têm todas as modalidades de transplante, enquanto existem unidades federativas sem doadores disponíveis. Então, é preciso pensar em centros transplantadores em locais estratégicos para melhorar a qualidade do serviço e dar oportunidades a pacientes que não podem se deslocar para outras regiões”, explica.
Outro desafio é aprimorar os medicamentos disponíveis para aumentar a aceitação do órgão — hoje, as fórmulas disponíveis causam efeitos colaterais e devem ser administradas ao longo de toda a vida depois da realização do procedimento cirúrgico.
O que podemos esperar para o futuro dos transplantes?
O médico espera que, com treinamentos adequados e a evolução de tecnologias de inteligência artificial, seja possível detectar a morte cerebral e identificar causas que podem levar à rejeição dos órgãos de maneira mais efetiva.
Outra perspectiva é que novas técnicas para transplantes sejam aprimoradas e passem a aumentar a oferta de doadores, como é o caso de xenotransplantes – quando órgãos de animais são modificados geneticamente e implantados em humanos.
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