metropoles.com

Dia Mundial da Hanseníase: bactéria infecta 30 mil por ano no Brasil

No dia 31 de janeiro, comemora-se o Dia Mundial Contra a Hanseníase, doença cercada por preconceitos e que atinge 30 mil brasileiros por ano

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
iStock
Medico analisa amostras coletadas na pele de paciente - Metrópoles
1 de 1 Medico analisa amostras coletadas na pele de paciente - Metrópoles - Foto: iStock

Uma bactéria chamada Mycobacterium leprae é responsável por uma das mais antigas doenças que acomete os seres humanos, a hanseníase. A condição ainda é cercada por preconceitos e atinge quase 30 mil brasileiros todos os anos, segundo dados do Ministério da Saúde.

Joana D’Arc Gonçalves da Silva, infectologista da clínica Quality Life e do Hospital Regional da Asa Norte, explica que a transmissão da hanseníase ocorre por contato íntimo e prolongado, acontecendo por via respiratória. A bactéria é eliminada pela boca e nariz de quem está infectado, e a doença pode se manifestar após um período de incubação que varia de sete meses a 10 anos.

“A doença é muito antiga e carregada de histórias trágicas, que a gente lê até na Bíblia. Hoje, mesmo com tratamento e cura, carregamos a ideia antiga dos leprosários, de isolamento e dos sequelados da doença. Não deveria ser assim, mas tem muita gente sem diagnóstico e chegando tardiamente aos serviços de saúde“, afirma Joana.

Para a especialista, ainda existe muito preconceito e desconhecimento relacionados à hanseníase. “Já vi pessoas serem demitidas após receberem o diagnóstico. Muita gente acha que vai pegar se dividir o mesmo espaço de trabalho, por exemplo. Esquecem que a bactéria, para ser transmitida, exige um contato íntimo e prolongado, por muitos anos”, conta a infectologista.

Tipos de Hanseníase

Existem diferentes formas de manifestações da hanseníase, dependendo da carga bacteriana e do sistema imunológico do indivíduo.

Hanseníase indeterminada

Joana diz que essa é uma forma inicial da doença e apresenta poucos sintomas. Normalmente, aparece uma mancha clara na pele com diminuição da sensibilidade. Pode haver queda do cabelo no local.

Hanseníase Tuberculóide

A infectologista esclarece que essa forma da doença aparece em pessoas com boa resposta imunológica à bactéria. Surgem manchas com dormência. São marcas bem delimitadas, com pouca elevação e ausência de sensibilidades. Pode acometer nervos de forma simétrica e causar muita dor ou ter perda da sensibilidade. Além disso, pode ser acompanhada de ausência de suor ou queda do cabelo.

Hanseníase Dimorfa

Considerada uma forma intermediária, segundo a médica, esse tipo tem maior variedade de manchas em forma de placas ou nódulos, geralmente acometendo o corpo de forma simétrica.

Hanseníase Virchowiana ou lepromatosa

Essa é a forma grave da hanseníase, ocorrendo geralmente em pessoas com problemas de imunidade contra a bactéria. “Acomete pés e mãos, com perda de sensibilidade favorecendo o surgimento de feridas e deformações. As lesões cutâneas são elevadas, nodulares, e podem acometer mucosa oral e nasal”, explica a especialista.

Sintomas gerais da doença

A médica Araci Pontes, representante do Departamento de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia, comenta que a doença pode se manifestar por manchas na pele, que podem ser claras, avermelhadas ou acastanhadas. A principal característica delas é a redução ou até mesmo ausência da sensibilidade, em especial ao calor.

“Alguns pacientes apresentam também inchaço de orelhas, dormência em pés e mãos, perda de pelo, diminuição do suor em áreas da pele, e presença de caroços no corpo. Além disso, a bactéria também afeta os nervos dos olhos, braços e pernas”, diz Araci.

A médica indica que, se a hanseníase não for tratada precocemente, pode causar perda da sensibilidade e força nessas áreas, incapacitando a pessoa para desenvolver suas atividades no dia a dia e no trabalho e tornando o paciente mais apto a acidentes.

“Ressaltamos que a maioria da população, cerca de 90% das pessoas, tem uma resistência natural contra a bactéria e não adoece”, esclarece a dermatologista.

Tratamento e cura

A hanseníase tem cura. O tratamento é feito com comprimidos distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Araci, o tempo de tratamento varia de 6 meses a um ano. “Quanto mais rápido se iniciar o tratamento, menor será o dano neurológico e, consequentemente, o paciente pode ser curado sem nenhuma sequela”, esclarece.

Para ela, o grande problema é a falta de informação, que atrapalha o diagnóstico e o tratamento precoce da doença. “As pessoas não sabem que, assim que o tratamento é iniciado, não há mais risco de transmitir a doença, e portanto, a pessoa pode conviver normalmente em casa, no trabalho e com os amigos”, declara.

Panorama da doença no Brasil

De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hanseníase do Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde neste mês, foram diagnosticados no país 155.359 casos novos de hanseníase entre os anos de 2016 e 2020. Desses, 86.225 ocorreram no sexo masculino, o que corresponde a 55,5% do total.

“Essa predominância foi observada na maioria das faixas etárias e anos da avaliação, com maior frequência nos indivíduos entre 50 e 59 anos, totalizando 29.587 casos novos”, indica o documento. Nos últimos 10 anos, foram quase 285 mil casos. Isso representa uma queda de 52% em comparação a década de 2001 a 2010, quando existia uma proporção de 17,65 casos por 100 mil habitantes.

O ministério aponta que parâmetro de endemicidade da hanseníase no país mudou de alto para médio. Entretanto, “o ano de 2020 apresentou maior redução da taxa de detecção geral, o que pode estar relacionado aos efeitos do menor número de diagnósticos causado pela sobrecarga dos serviços de saúde e pelas restrições durante a pandemia da Covid-19”.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?