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DF: especialistas discordam de mudança na divulgação dos óbitos da Covid-19. Políticos divergem

Governo local alterou a metodologia de como serão informados os números referentes às mortes por coronavírus na capital

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1 de 1 enterro coronavirus 100 mil mortos11 - Foto: Jacqueline LIsboa/Especial Metrópoles

Na quarta-feira (19/8), o secretário de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo, anunciou que o modelo de divulgação dos óbitos por coronavírus feito diariamente pelo GDF será mudado.

A partir de agora, a pasta informará apenas as mortes que ocorreram nas últimas 24h. Além disso, vai manter a atualização do número geral de pessoas que faleceram em consequência da Covid-19, bem como as informações de local, idade e comorbidades do paciente.

A mudança na divulgação exclui óbitos que aconteceram há dias ou até semanas, mas só tiveram a causa esclarecida agora. Nesses casos, os registros não entram na contabilidade do dia, apenas no número geral de mortes.

Para saber quantas mortes de fato ocorreram, será preciso fazer uma conta entre o total de falecimentos do dia, menos as mortes totais do dia anterior e subtrair os óbitos das 24h. De acordo com a Secretaria de Saúde, o número será computado, mas não mais discriminado.

Uma discussão semelhante aconteceu no começo de junho, quando o Ministério da Saúde avisou que faria mudança no boletim nacional. Após críticas de várias entidades, pesquisadores e autoridades, além de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a pasta voltou a apresentar os dados completos. Hoje, a tabela do governo é divulgada com o número total de óbitos registrados e os que aconteceram nos últimos três dias.

De acordo com o médico sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mudar a metodologia no meio da pandemia dificulta a análise de cenário. “Se muda a regra, não é possível comparar o que está acontecendo ao longo do tempo”, explica Maierovitch. Há, ainda, a desconfiança, de que alteração na metodologia gere subnotificações na contagem das mortes.

Segundo o professor de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Lotufo Brant de Carvalho, o ideal é que fossem divulgados o número de mortes confirmadas que aconteceram no dia e também as que estão sob investigação.

“A maioria dos testes que fazemos no Brasil dá positivo para Covid-19, o que significa que os exames são feitos para confirmar, não para diagnosticar. Percebemos, assim, que a vigilância epidemiológica não está funcionando. Essa lógica de esperar para confirmar a razão do óbito é muito ruim”, explica.

Para Lotufo, é preciso mais transparência também em outros pontos do processo, como quantos testes são feitos por dia e quantos são confirmados, por exemplo.

O médico, advogado sanitarista e pesquisador Daniel Dourado explica que a recente medida do GDF não é desejável e vai contra a legislação e o regulamento sanitário internacional. “Espera-se que a informação seja simples de ser lida. O governo federal tentou e precisou recuar. Não se trata de uma medida boa de jeito nenhum, pois atrapalha a publicização de informações sobre a pandemia”, afirma.

Dourado foi um dos advogados que ajudou a escrever o processo contra o governo que foi para o STF em junho. Segundo ele, a autoridade sanitária tem a obrigação de ser clara ao divulgar dados sobre a doença. “Se existe uma maneira de apresentar as estatísticas de de forma mais direta, este é o método que deve ser utilizado. Não há tese jurídica e nem de política de saúde que justifiquem a apresentação difícil de ser lida”, explica.

Distritais divergem sobre mudança

Deputados distritais também repercutiram a mudança implementada pela Secretaria de Saúde. O Colégio de Líderes pode convocar o chefe da pasta, caso ele não vá voluntariamente à CLDF, até segunda-feira (24/8), explicar a mudança na metodologia.

Para o vice-presidente da Câmara Legislativa (CLDF), Rodrigo Delmasso (Republicanos), a alteração é positiva.

“A mudança trará a verdade de óbitos que ocorrem em 24 horas, porque no método antigo parecia que havia muitas mortes em 24 horas, sendo que algumas tinham ocorrido dias atrás. Com isso, o número acabava inflando. Com essa nova metodologia, teremos mais transparência”, ressaltou Delmasso.

Já Arlete Sampaio (PT) pensa totalmente diferente. No entendimento dela, a alteração é uma estratégia do governo de “fingir uma normalidade que não existe”.

“É um absurdo. Isso foi tentado pelo ministro interino da Saúde e acabou derrubado. O GDF deveria, sim, é reforçar a importância do isolamento social. Espero que o secretário mude de ideia”, criticou.

Na visão de Eduardo Pedrosa (PTC), independentemente da metodologia empregada para a contagem de mortes por Covid-19 na capital do país, o mais importante é primar pela transparência. “Que os dados continuem sendo públicos”, resumiu.

Representante da área da Saúde na Casa, Jorge Vianna (Podemos) disse que a medida adotada pela pasta gera mais segurança na análise estatística: “A metodologia, agora, da Secretaria de Saúde, é a mais correta, porque os dados serão divulgados com os óbitos de 24 horas. Esse delay que temos de notificações, principalmente da rede privada, é que faz com que os números não batam”, opinou.

Reginaldo Veras (PDT) disse ter recebido a notícia vinda do Palácio do Buriti com “estranheza” “O GDF mudar a metodologia de contagem justamente quando a quantidade de mortes está em alta, dá a impressão de que estão querendo esconder algo”, destacou.

 

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Mudança

Na quarta-feira, o secretário de Saúde afirmou que a metodologia atual tem “desassossegado” a população.

“Nós temos de levar em consideração que, todas as vezes em que esse número é divulgado no boletim, precisa ser visto o óbito do dia, nas últimas 24 horas. O que é informado amplamente é o somatório. O óbito acontece nos cinco dias passados e só conseguimos computar dias depois”, disse Francisco Araújo.

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