DF é a unidade da Federação com maior número de médicos por habitante
Distrito Federal tem 4,35 profissionais por 100 mil pessoas, enquanto média nacional fica em 2,1. Crescimento de 600% em 50 anos no Brasil
atualizado
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O problema da falta de médicos no Brasil não é de quantidade, mas sim de qualidade e distribuição pelo país. Pelo menos é o que mostra levantamento feito pelo professor Paulo Scheffer, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Conselho Regional de Medicina de SP (Cremesp) e da Associação Médica Brasileira (AMB). Com base nos cálculos do pesquisador, o Brasil conta hoje com mais de 452 mil profissionais, mais do que o dobro do número desses trabalhadores em 1990. Os resultados foram apresentados nesta terça-feira (20/3) na sede do CFM, em Brasília.
O contingente de jalecos cresce em proporções muito acima do que a própria população brasileira: de 1970 para cá, por exemplo, o Brasil saltou 119,7% em número de habitantes. Já em quantidade de médicos, o aumento foi de 665,8%. O Distrito Federal é hoje a unidade da Federação que esbanja a maior parcela desses profissionais por 100 mil habitantes – são 4,35. A média de razão nacional é 2,1. O DF é seguido pelo Rio de Janeiro (3,55) e por São Paulo (2,81).“O DF é um caso emblemático. Isso evidencia que uma razão acima da média não significa garantia de atendimentos. Porque, mesmo aqui, ainda há problema de médicos insuficientes para toda a população”, observou Scheffer na apresentação do estudo.
O problema, na visão de especialistas, está na má distribuição dos profissionais pelo país. Mais da metade deles (55,1%) trabalha nas capitais, onde apenas 23,8% da população brasileira vive. Só a região Sudeste concentra, sozinha, 54,1% dos médicos, mas é moradia de apenas 41,9% dos brasileiros.
Mais escolas, menos médicos?
O aumento vertiginoso no número de profissionais, na matemática das associações e conselhos médicos, se deu em função de um “milagre da multiplicação” de novos cursos de medicina no país. Atualmente, são 305 – 104 deles criados entre 2013 e 2017. Ao todo, as instituições de ensino injetaram no mercado mais de 100 mil novos médicos desde 2010 sem garantir, na visão dos conselheiros, qualidade na formação.
“Formar médicos custa muito caro. Mas um médico mal formado custa muito mais. Ele custa em diagnósticos errados, tratamentos desnecessários, hospitalizações”, enumerou Lincoln Ferreira, presidente da Associação Médica Brasileira. “Um médico continua sendo um ser humano. Incapaz de operar milagres. Ele precisa de formação e estrutura”, emendou.
Ainda segundo Ferreira, o Brasil “extrapolou muito” sua capacidade de formação de médicos ao jogar, na disputa por vagas de residência, profissionais sem preparo ou, ainda, sem condições ideais de aprendizado, com poucos cadáveres nas faculdades e laboratórios mal equipados.
“Para cada médico formado nesse país, você tinha que ter uma vaga nova de residência. Se não, esse profissional já se sente excluído de saída”, comentou.
Os representantes da profissão ainda criticaram os últimos governos e as constantes trocas na gestão de saúde do país, que impossibilitam, na visão deles, a continuidade de políticas voltadas à fixação de profissionais em regiões carentes de médicos.
“De onde vem essa desigualdade? Falta de investimento na área da saúde, de competência administrativa, de um sistema nacional de controle e avaliação eficaz para que os recursos sejam bem utilizados e, particularmente, de reconhecimento do valor do trabalho na área da saúde. Sem isso, não teremos a distribuição desejada”, pontuou o presidente do CFM, Carlos Vital.