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Deveríamos estar preocupados com o avanço da gripe aviária H5N1?

Nos últimos meses, milhões de aves morreram por conta do vírus H5N1. Estudo mostra que patógeno está evoluindo para afetar mamíferos

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Fotografia de um galinheiro lotado - Metrópoles - gripe aviária
1 de 1 Fotografia de um galinheiro lotado - Metrópoles - gripe aviária - Foto: Divulgação

Nos últimos meses, o mundo tem registrado vários casos de gripe aviária H5N1 em aves. O patógeno responsável pela infecção tem se espalhado por pássaros migratórios e já afetou algumas granjas. Em 2022, só nos Estados Unidos, 58 milhões de aves foram infectadas e morreram.

Em aves, o H5N1 é bastante perigoso — a taxa de mortalidade em frangos e galinhas é de 90% a 100%, e existe a prática de sacrificar animais expostos ao vírus para evitar a sua disseminação.

De acordo com a agência de notícias Deutsche Welle, o vírus provavelmente já está nas Américas Central e do Sul, já que foram encontrados 240 pelicanos mortos em Honduras na última semana e há casos da doença registrados no Peru, Venezuela, Equador e Colômbia.

O H5N1 foi identificado pela primeira vez em 1996, na China, e infecta principalmente galinhas e outros tipos de aves. O vírus está em circulação desde então, mas vem chamando a atenção da comunidade científica atualmente não só pela quantidade de animais contaminados, mas por ter conseguido infectar pequenos mamíferos, como visons.

Um estudo publicado na revista científica Eurosurveillance, em janeiro de 2023, alerta que o vírus já sofreu oito mutações, inclusive uma no gene PB2, que pode tornar o patógeno mais transmissível em mamíferos. Uma mutação neste mesmo gene foi identificada no H1N1, o vírus da gripe suína que causou uma pandemia em 2009. A pesquisa acrescenta que o H5N1 infectou visons e os pequenos mamíferos foram capazes de transmitir o vírus entre si.

Em humanos, por enquanto, a transmissão é complicada. É preciso contato próximo com animais infectados, e não há relato de contaminação entre pessoas. Em janeiro de 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi alertada sobre o caso de uma jovem equatoriana infectada, mas nenhum de seus parentes teve a doença. A menina se recupera bem.

Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o risco de uma pandemia causada pelo H5N1 é baixo, mas é importante que a comunidade internacional esteja atenta à possibilidade de infecção de mamíferos. “É um vírus que está rodando há 25 anos, mas o salto para mamíferos precisa ser acompanhado. Não vimos transmissão sustentada entre humanos até hoje, mas precisamos alertar a população para não tocar ou coletar animais doentes ou mortos”, alertou, em entrevista coletiva nessa quarta (8/2).

Sylvie Brian, diretora de preparação para pandemias e epidemias da OMS, explicou na coletiva que, por enquanto, o vírus segue sendo zoonótico, ou seja, só circula entre animais.

“É um vírus bem adaptado para animais. Entre humanos, a transmissão é rara, a não ser por contato muito próximo. Mas, pela característica do vírus, precisamos ficar vigilantes e garantir que o H5N1 seja controlado, sem dar possibilidade de ele evoluir e se tornar transmissível em humanos”, afirmou a diretora.

Ela conta ainda que, como acontece com outros vírus zoonóticos, quando o H5N1 infecta humanos, costuma causar muito dano aos pulmões e desencadear um quadro grave. A taxa de mortalidade entre infectados é de 30% a 50%.

Vírus conhecido

O professor da Universidade de Brasília (UnB) Bergmann Ribeiro, especialista em vírus, explica que os vírus influenza recebem a denominação H e N de acordo com o tipo de duas proteínas, a hemaglutinina e a neuraminidase. As substâncias ficam na superfície do patógeno, assim como acontece com a spike no coronavírus, por exemplo.

Existem vários tipos de hemaglutininas e neuraminidases, por isso os vírus recebem denominações como H5N1, H1N1, H3N2, etc. “Outro ponto importante sobre essa família é que ela tem o genoma dividido em oito pedaços, que podem ser trocados com outros tipos de influenza. Essa recombinação pode causar mutações diferentes que aumentam a probabilidade de o vírus começar a infectar humanos“, conta o professor.

Um animal infectado com dois tipos de influenza, por exemplo, pode representar a situação ideal para que os vírus troquem informações que favoreçam a sua sobrevivência futura. Essa é uma possível explicação para a adaptação do vírus nos visons infectados na Europa.

Ribeiro afirma que há, sim, a possibilidade de o H5N1 causar uma nova emergência global de saúde pública, principalmente considerando que o influenza já foi responsável por quatro pandemias ao longo da história. Porém, por enquanto, ele é um vírus zoonótico, que afeta primordialmente animais e pode ter grande impacto na agricultura, mas não na saúde pública.

Ele ressalta ainda que, há cerca de 70 anos, 150 países (incluindo o Brasil) fazem vigilância dos tipos do vírus influenza em circulação. Se o H5N1 começar a infectar uma quantidade grande de pessoas, será detectado logo no início.

E, mesmo se o vírus sofrer mutações suficientes para garantir a transmissão entre humanos, o professor da UnB afirma que é possível produzir uma vacina rapidamente. “Estamos preparados caso o vírus influenza vire pandêmico novamente. Em 1918, na gripe espanhola, morreram 50 milhões de pessoas. Mas nas pandemias seguintes, diminuímos consideravelmente a quantidade de óbitos e, em 2009, foram 300 mil mortos. É um vírus que, mesmo com as modificações, está circulando há muitos anos e já temos até alguns anticorpos para combatê-lo”, explica Ribeiro.

Ainda assim, a OMS diz estar trabalhando com organismos internacionais de saúde animal para tentar resolver o surto entre aves antes que o H5N1 se adapte o suficiente para ser transmitido entre humanos.

“Não é preciso se preocupar, as autoridades estão fazendo o que podem para evitar que esse vírus se torne um problema maior”, afirmou o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan.

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