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Desnutrição pós-Ozempic: por que emagrecedores podem causar o quadro

A falta de fome e refeições erradas podem fazer com que algumas pessoas comam errado e sofram com a carência de nutrientes

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Canetas de injeção de Ozempic ao lado de fita métrica e uma balança ao fundo - Metrópoles
1 de 1 Canetas de injeção de Ozempic ao lado de fita métrica e uma balança ao fundo - Metrópoles - Foto: Getty Images

A saciedade é um dos efeitos colaterais dos remédios para diabetes prescritos de forma off-label para o emagrecimento, como o Ozempic, Wegovy e Mounjaro. Sem fome, é natural que os usuários passem períodos maiores sem comer ou façam refeições menores. O problema é que, além de perder peso, os pacientes podem acabar desnutridos.

A desnutrição é comumente associada à magreza extrema. No entanto, ela se refere à carência de nutrientes essenciais para o funcionamento do corpo, como vitaminas e minerais, resultando em sintomas como fadiga e tontura. Assim, mesmo pessoas com obesidade podem ser consideradas desnutridas.

“O fato de uma pessoa ter excesso de gordura no corpo não significa que ela tem vitaminas, minerais e fibras suficientes”, afirma o médico Marcio Mancini, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Médicos alertam que o processo de emagrecimento com esses medicamentos deve ser acompanhado por um nutricionista para que os pacientes sigam uma dieta equilibrada e nutricionalmente variada.

“Como diminui a fome e a ingesta calórica, a pessoa acha que quanto menos comer, melhor. Não toma café da manhã, não almoça, vai para a academia e passa mal. Depois, ele atribui esse e outros sintomas, como dor de cabeça, ao remédio”, afirmou o endocrinologista Fábio Trujilho, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), durante um webinar científico para jornalistas promovido pela farmacêutica Novo Nordisk.

“Não é uma corrida para emagrecer, é o início de uma jornada que, muitas vezes, precisa de outras ações combinadas”, completou o médico.

Desnutrição após tratamentos para emagrecimento

A preocupação com os casos de desnutrição provocados por tratamentos da obesidade começou com a popularização da cirurgia bariátrica. O procedimento leva à perda expressiva de peso (de 25 a 30%, em média) e pode causar má absorção de nutrientes, levando à carência de vitaminas e minerais.

Pode faltar ferro e a pessoa ter anemia, ou faltar cálcio e ela ter osteoporose, por exemplo. “O paciente que passa pela cirurgia bariátrica vai tomar vitaminas e minerais pelo resto da vida. Por isso, antes e depois da cirurgia, as vitaminas e os minerais são medidos em exames de sangue para checar se a suplementação está adequada”, afirma Mancini.

De acordo com o coordenador do departamento de obesidade da Sbem, essa preocupação não existia com os tratamentos clínicos porque a geração anterior de medicamentos para emagrecimento levavam à perda de apenas 5 a 10% do peso. O surgimento da nova geração de medicamentos mudou o jogo. Remédios à base de liraglutida (Saxenda), semaglutida (Ozempic e o Wegovy), e tirzepatida (Mounjaro) levam à perda de peso superior a 15%.

O médico esclarece que os pacientes respondem de forma diferente ao tratamento. Os que têm perda mais rápida de peso, principalmente se o grau de obesidade é menor ou se têm a idade mais avançada, podem correr um risco maior de desnutrição.

Sintomas de desnutrição

Os sintomas da desnutrição variam de acordo com a deficiência. Pessoas com falta de vitamina B12 podem ter anemia, fraqueza e até complicações neurológicas, com falha da memória, sensação de formigamento nas pontas dos dedos e até dificuldade para caminhar, em casos mais raros. As principais fontes de vitamina B12 são carne, peixe, aves, leite e ovos.

A falta de cálcio pode levar à perda óssea, assim como acontece com a deficiência da vitamina D, que tem um papel importante na formação dos ossos. “Muitas pessoas têm fadiga por falta de vitamina D”, afirma Mancini.

A carência de ferro é associada à anemia pode resultar em fraqueza, aceleração do coração ao subir escadas, palidez e falta de ar. O mineral é encontrado na carne vermelha, aves, folhas verdes e feijão, por exemplo.

Como manter uma alimentação saudável

A medicação provoca saciedade precoce, diminui a fome e a velocidade de esvaziamento gástrico. Assim, o paciente fica satisfeito com porções pequenas. Mas Mancini alerta que não basta comer menos para garantir os resultados. É preciso ter atenção a outros hábitos, como:

  • Hidratação: beber bastante água e líquidos não calóricos ao dia. A recomendação é ingerir no mínimo 2 litros, para mulheres, e 3 litros, para homens, diariamente.
  • Consumo de proteínas: em geral, é indicado no mínimo um grama de proteína por quilo de “peso ideal” e não pelo que aparece na balança. O peso ideal é o que uma pessoa deve ter para a sua altura, podendo ser calculado pelo índice de massa corporal (IMC).
  • Consumo de fibras: ao menos 20 gramas para mulher e 30 gramas para homens, por dia. As fibras são encontradas em frutas, vegetais, leguminosas, grãos e sementes.
  • Suplementação: os pacientes devem passar por avaliações para investigar a deficiência de vitamina D, cálcio e ferro, por exemplo.

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