Desconfiança dos pais é apontada por 20% dos pediatras como barreira para vacina
Pesquisa inédita com médicos revela que os medos, dúvidas e fake news fazem com que pais desconfiem da vacinação de seus filhos
atualizado
Compartilhar notícia
Incentivar os pais a vacinar os filhos está se tornando um desafio progressivo nos consultórios médicos. Segundo estes profissionais, é cada vez mais comum escutar incertezas sobre o processo de vacinação obrigatória: 19,2% deles alertaram escutar, por exemplo, dúvidas sobre a confiabilidade das vacinas.
Já o medo de possíveis efeitos adversos foi apontado por 19,7% dos pediatras como uma das principais barreiras das famílias para vacinar as crianças.
Os números foram divulgados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) nesta quinta-feira (18/5). O estudo chamado “Hesitação vacinal: por que estamos recuando em conquistas tão importantes?” foi feito com base em entrevistas com 982 pediatras brasileiros que se voluntariaram a participar entre fevereiro e abril de 2023.
“As pessoas não estão levando seus filhos para vacinar, embora tenham se vacinando durante toda a vida. As pessoas estão se deixando entregar por mentiras que circulam nas redes sociais, mas tenho certeza que a gente vai entrar em uma situação de esclarecimento que nos permita superar essas hesitações e retornar a uma cobertura vacinal mais plena”, diz Clóvis Francisco Constantino, presidente da SBP.
Ainda entre os principais motivos apontados pelos pediatras ouvidos na como justificativa para que se negligencie a vacinação obrigatória, além do medo e da confiabilidade, apareceram problemas estruturais do sistema de saúde e da organização das famílias:
- Esquecimento (17,9%);
- Falta de vacina (17,5%);
- Preço da vacina (10,6%);
- Horário limitado de posto (8,7%);
- Dificuldade de acesso (5,9%);
Desinformação como barreira
As respostas dos médicos eram dadas em aberto, o que faz com que certos dados possam ser somados por suas relações.
No caso das principais fontes externas de desinformação sobre vacinas que influenciaram as famílias a ter medo da vacina, por exemplo, aparecem em 30,9% das respostas as redes sociais, 20,6% as mídias, 13,6% a internet e 11,3% as fake news, um conjunto de desinformação circulando digitalmente que foi encarado, portanto, por três em cada quatro dos pediatras que responderam a pesquisa.
A pesquisa também buscava compreender a visão dos especialistas a respeito da vacinação e descobrir, ao mesmo tempo, as dúvidas mais levadas pelas famílias aos consultórios. O objetivo era entender que dificuldades a vacinação estava sofrendo para manter sua popularidade.
Para 23% dos pediatras, era preciso ter acesso a mais materiais educativos para encaminhar aos pais para ajudar no processo de orientação.
“Já não é suficiente o pediatra falar para que os pais escutem. É preciso deixar panfletos e manuais que possam ser usados para sanar dúvidas mais comuns”, afirma Natalia Pasternak, presidente do IQC. “Essa resistência é um fenômeno relativamente novo no Brasil, então estamos estudando as melhores formas de como lidar com isso”, completa ela.
Vacina da Covid como alvo
Embora a pesquisa tivesse uma visão geral, foram as vacinas de Covid para as crianças as grandes protagonistas do questionário: 81,2% dos pediatras respondeu que esta era a vacina que mais causava preocupação nos consultórios. As vacinas de gripe (6,7%) e de febre amarela (6,09%) apareceram em seguida.
Nas dúvidas que eram levantadas pelos pais para hesitar em vacinar seus filhos contra o coronavírus, foram respondidos que o que mais causava preocupação era:
- Risco à saúde em geral: 18%;
- Doenças que poderiam ser causadas (miocardites e tromboses): 16,5%
- Ausencia de estudos de impactos a longo prazo: 13%;
- A ideia de que crianças não tem Covid grave: 12,8%;
A outra vacina que foi alvo de muita resistência nos consultórios, segundo os pediatras, foi a vacina de HPV. Quase a metade dos médicos (47,1%) relatou ter ouvido em alguma ocasião uma frase como “minha filha não precisa tomar vacina do HPV”. A frase “HPV pode causar efeitos neurológicos” apareceu para 23% dos profissionais entrevistados.
A pesquisa ainda apontou que embora sejam uma minoria, houve médicos que disseram que não indicavam as vacinas: 2% deles relataram que eles mesmos tinham dúvidas sobre a importância do esquema vacinal.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.