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“Descobri que era autista ao diagnosticar um paciente”, diz psicóloga

Gabriela Neuber descobriu ter transtorno do espectro autista (TEA) aos 38 anos, quando lia o diagnóstico de um paciente

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1 de 1 Imagem colorida: mulher com a mão no rosto - Metrópoles - Foto: Gabriela Neuber/ Imagem cedida do Metrópoles

Por décadas, Gabriela Neuber, 42 anos, foi taxada por familiares e amigos como fria, egoísta e arrogante. Também atribuíam a ela uma “personalidade forte”, que não se adequava aos padrões sociais. Aos 38 anos, a psicóloga descobriu a razão para o “estranhamento” dos outros: ela se enquadrava nos critérios do transtorno do espectro autista (TEA).

O diagnóstico inicial foi feito pela própria psicóloga e, em seguida, confirmado pela avaliação de especialistas. Enquanto atendia um paciente e lia o caso dele em voz alta, Gabriela se deu conta de que os dois tinham muito em comum.

“Eu estava explicando o diagnóstico – como dificuldade de socialização, de mudança de rotina, de entender regras sociais. Em determinado momento, me vi dando exemplos que eram pessoais. Nessa hora, senti um frio na espinha. Fiz uma retrospectiva da minha vida e me reconheci ali”, conta.

Mascarando sintomas

O diagnóstico tardio de transtorno do espectro autista tem se tornado cada vez mais comum. Pacientes com graus mais leves tendem a fazer o “masking”, expressão que se refere a estratégias de “mascaramento” consciente ou inconsciente para disfarçar comportamentos e agir como o esperado.

No caso das mulheres, o “masking” é ainda mais comum. “Desde cedo elas são incentivadas a não falar em público e a se enquadrarem em modelos, por isso o diagnóstico é mais difícil”, afirma o psicólogo André Torres, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especializado em autismo.

De acordo com ele, embora a doença não apresente sintomas diferentes entre os sexos, as meninas acabam “escondendo” mais por causa do contexto machista em que estão inseridas.

Os sintomas do TEA em mulheres são comumente atribuídos a outros transtornos psicológicos, como borderline, transtorno alimentar, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), por exemplo.

Gabriela conta que, ao longo dos anos, aprendeu o momento certo para rir de piadas, mesmo sem entender por que as outras pessoas estavam achando graça. “Desenvolvi habilidades sociais e li livros sobre como falar em público e fazer amigos. Foi onde aprendi regras de socialização, que me salvaram em muitas situações”, afirma.

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Gabriela conta ter sido uma criança mais fechada em comparação às demais
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"Sol e Snow são meus principais vínculos afetivos e fazem mediação social pra mim", conta Gabriela

Gabriela Neuber/Imagem cedida ao Metrópoles
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Gabriela conta ter sido uma criança mais fechada em comparação às demais

Gabriela Neuber/Imagem cedida ao Metrópoles

Prejuízos do diagnóstico tardio

O diagnóstico tardio ou inconclusivo atrapalha o desenvolvimento dos pacientes e pode gerar um profundo sentimento de inadequação. “A paciente pode se sentir culpada por tratar uma depressão e não conseguir se sentir melhor, por exemplo”, conta Torres.

Gabriela foi diagnosticada com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e dislexia já na vida adulta, mas ela se recorda de perceber os primeiros sintomas ainda na infância.

“Nasci emburrada. Olhando para as minhas fotos da infância, dá para ver uma criança com olhar desconfiado. Enquanto a minha irmã sorria para a câmera, eu observava as pessoas. Você vê o medo e a vigilância expressos o tempo inteiro”, conta.

Depois de fechar o diagnóstico, Gabriela se voltou completamente ao universo do autismo. Hoje ela atende apenas pacientes mulheres com TEA e compartilha informações sobre o transtorno nas redes sociais pelo perfil Espectrando Consciente  Espectrando Consciente. “Divido informação confiável sobre o assunto. Sem focar no lado negativo”, afirma.

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